Polícia e fiscais municipais na província de Luanda começaram a apertar o cerco às vendedeiras ambulantes, conhecidas por zungueiras em Angola. Estas receiam perder o único modo de subsistência que conhecem.
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Nas ruas da capital angolana soam os gritos das zungueiras que apregoam a mercadoria. São muitas e na maioria mulheres que têm a zunga como o seu ganha-pão.
As razões porque vendem nas ruas são várias. Marinela Domingas, por exemplo, queixa-se de escassez de clientes nos mercados construídos pelo Governo da Província de Luanda: "Lá não tem cliente. Se vendes lá o negocio vai à falência,” diz Domingas à DW África, embora reconheça que "a praça está mesmo bem organizada”.
Desde sempre existiram relatos de repressão policial contra as vendedoras ambulantes. Durante o processo eleitoral registou-se uma espécie de interlúdio, diz André José, zungueiro de calças na Deolinda Rodrigues, uma das maiores avenidas da capital angolana: "Durante as eleições houve corrida, mas não foi tanta”.
Falta de emprego
Agora está mais difícil ser vendedora ambulante, explica Paulina Barroso: "O dia de hoje está mal, desde a manhã não estamos a conseguir vender”. Paulina Barroso conta que está constantemente a ser interpelada por fiscais e a polícia: "Estão a dar-nos corrida”, diz.
Tudo indica que a "corrida" já é resultado do ultimato dado, na semana passada, pelo governador da província aos administradores municipais, que instou a acabar com a zunga em Luanda. "Se acabarem com a zunga têm que nos dar emprego para nós trabalharmos. Por exemplo, nas lojas”, diz Paulina Barroso. Não parece uma tarefa fácil a julgar pela dimensão que o fenómeno já atingiu.
Repressão resulta em mortes
Também há casos de jornalistas vítimas da agressão policial, diz o psicólogo e jornalista Fernando Guelengue: "Assiste-se a uma represália (por parte da polícia) aos jornalistas que fazem a cobertura quando há questões de morte”. O jornalista refere-se a casos em que zungueiras em fuga de fiscais foram atropeladas.
02.11.17 Acabar com a zunga em Luanda - MP3-Mono
Para além de homens e mulheres há muitas crianças que dependem da zunga para sobrevier. Por isso Guelengue, autor do livro "Pobreza: O epicentro da exploração das crianças em Angola entre a escravização e a polémica”, lança um apelo às autoridades para que estudem melhor a realidade antes de tomarem qualquer medida: "Lá se encontram todos os fenómenos que ocorrem, sobretudo a questão da pobreza, da desestruturação familiar, falta de emprego, gravidezes precoces. Tudo isso envolve um estudo e uma análise profunda para mitigar o problema. Quando o Governo diz que quer acabar com a zunga, já está carente de estudos”.
O que não é de Isabel dos Santos em Luanda?
Em Luanda, facilmente se percebe os investimentos de Isabel dos Santos. A filha do ex-Presidente angolano tem negócios na banca e nas telecomunicações. Também tem presença no comércio e nos setores petrolífero e mineiro.
Foto: DW/P. Borralho
Os negócios de Isabel dos Santos
A filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos é proprietária de muitas empresas que operam em Angola. E já há quem acredite que assumir o cargo da Presidência da República pode ser o próximo passo da empresária, que atualmente está na presidência da petrolífera Sonangol.
Foto: picture-alliance/dpa
Telecomunicações
No ramo das telecomunicações, a filha do ex-Presidente angolano e empresária Isabel dos Santos possui a UNITEL. Lançada em março de 2001, a empresa tem como principal atividade a prestação de serviços móveis de voz e de Internet. A UNITEL funciona com um total de 182 lojas próprias em todo o país, 81 das quais na capital, Luanda. A empresa tem mais de 5 milhões de clientes.
Foto: DW/P. Borralho
TV por satélite
Ainda no ramo das telecomunicações, a ZAP iniciou a sua atividade no mercado angolano em abril de 2010 e é atualmente a maior operadora de TV por satélite em Angola, segundo informações da própria empresa. Desde 2011, a ZAP também está presente no mercado moçambicano. A TV por satélite de Isabel dos Santos acabou com o monopólio que a empresa sul-africana Multichoice teve em Angola.
Foto: DW/P. Borralho
Banca
Há dez anos em operação, o Banco BIC tem mais de 200 unidades comerciais para atendimento, compostas por 195 agências e 17 centros de empresas em Angola. O banco serve de apoio para empresários que mantêm investimentos em Portugal, onde Isabel dos Santos também possui uma fatia do Banco português.
Foto: DW/P. Borralho
Sonangol
Em junho de 2016, Isabel dos Santos assumiu a presidência da maior empresa estatal de Angola, a petrolífera Sonangol. Na altura, a tomada de posse da filha do então Presidente de Angola foi criticada por juristas, que afirmam que a nomeação da empresária é ilegal e inconstitucional. A petrolífera mantém uma rede de postos de abastecimento e estações de serviços em todo o país.
Foto: DW/P. Borralho
Centro comercial
Embora Angola esteja mergulhada numa crise económica devido à queda do preço do barril de petróleo no mercado internacional, Isabel dos Santos iniciou este ano mais um novo empreendimento em Luanda. Trata-se do Shopping Avennida, inaugurado no primeiro semestre. O centro comercial abriga dezenas de empreendimentos, muitos deles da própria empresária, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL.
Foto: DW/P. Borralho
Hipermercado
A filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos também investiu no segmento de hipermercados através da rede Candando, situado no recém inaugurado Shopping Avennida. Segundo a Contidis, empresa que administra o hipermercado, a previsão é que mais dez lojas sejam inauguradas nos próximos cinco anos, num investimento total de 400 milhões de dólares.