Febre amarela: faltam vacinas em Angola
3 de março de 2016 O surto começou na capital, Luanda, em Dezembro. Desde então, a doença já matou pelo menos 125 pessoas e foram diagnosticados mais de 644 casos. Além de Luanda, há outras províncias afetadas. Uma delas é a Huíla, no sul do país. Aqui, as vacinas são raras. E há casos de fugas de doentes nos hospitais que preferem os tratamentos tradicionais.
Huíla: febre-amarela já vitimou 13 pessoas
Para além da morte de13 pessoas as autoridades sanitárias já registaram mais de sessenta casos suspeitos nesta província no sul de Angola, de acordo com os números mais recentes, divulgados pelos serviços provinciais de saúde. Sete entre os catorze municípios da província são considerados de alto risco.
Neste momento já se encontram na Huíla vários especialistas da OMS e do Ministério da Saúde. Estes, trabalham em conjunto para tentar combater a epidemia.
Altino Matias, diretor provincial da Saúde da Huíla, em entrevista à DW África, explica que estão a trabalhar na província várias equipas de investigação compostas por epidemiologistas do Ministério da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e entomologistas. O objetivo desse trabalho seria "ver até que ponto nós temos aqui, entre nós, a presença do mosquito causador de febre-amarela".
Autoridades falam de "altos índices de vacinação"
A Huíla é a segunda província mais populosa de Angola, depois de Luanda. Segundo as autoridades a cobertura na vacinação contra a febre-amarela tem sido satisfatória.
Segundo Altino Matias, a cobertura é mesmo superior a oitenta por cento: "Recebemos da Direção Nacional da Saúde dez mil doses para a rotina. Temos estado a vacinar grupos especiais. A nossa capacidade de resposta ainda é muito pequena, mas trabalhamos com aqueles que têm de fazer a remoção de corpos e com os que estão em sistemas privados".
Alguns pacientes recusam internamento
Quanto ao tratamento dos pacientes, a chefe do Departamento de Saúde Pública da Província da Huíla diz que tem sido feito "o possível". Telma Diogo admite, no entanto, que alguns pacientes viram as costas aos hospitais públicos, preferindo recorrer a tratamentos alternativos. Segundo Telma Diogo há mesmo familiares de pacientes que recusam o seu internamento, preferindo curas tradicionais.
A chefe do Departamento de Saúde Pública da Província da Huíla presenciou vários casos concretos: "Em Chibia há um caso de um paciente que fugiu. Em Chicomba, a comunidade escondeu um indivíduo que também fugiu do hospital. E em Quipungo registámos outros cinco casos de fuga com um óbito. De referir que a família recusa internamento familiar."
Cuidados médicos de baixa qualidade
Segundo os peritos, a fuga dos hospitais deve-se à insuficiência de meios para dar resposta às necessidades dos pacientes.
O docente universitário Miguel Kanuku Cambinda explica: "Os nossos serviços de saúde ainda são incipientes e isto pressupõe elementos como assistência médico-medicamentosa, assim como o baixo número de unidades hospitalares por área: Estes elementos todos contribuem para que o atendimento se torne menos eficaz. Agora os hospitais públicos vão cobrando alguma coisa, o que leva a que as pessoas desistam e vão para a terapia tradicional".
O presidente da Igreja Evangélica Sinodal de Angola (IESA), reverendo Diniz Marcolino Eurico, lembra que há áreas onde não existem serviços de saúde. O pastor defende que o Governo deve tomar medidas drásticas, pois o abandono dos hospitais é suscetível de ceifar vidas: "Novos postos médicos devem ser abertos, sobretudo nas áreas onde o Governo ainda não disponibilizou qualquer serviço de saúde".