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Autossuficiência contra lucro imediato na Tanzânia

29 de dezembro de 2011

A Tanzânia é um país de terras férteis. No entanto, tem que importar alimentos básicos para assegurar o abastecimento da sua população. Cada vez mais tanzanianos perguntam “porquê?”.

Jatropha-Plantage im Distrikt Mtamba. jatropha wächst auf trockenen Böden, es braucht allerdings große Flächen, denn die Jatropha Pflanzen werden bis zu acht Meter hoch und brauchen Abstand zueinander. Was hier angebaut wird, ist ausschlielich für den Export bestimmt. Foto: Ute Schaeffer, August 2011
Uma plantação de jatropha no distrito de Mtamba, na TanzâniaFoto: DW

Desde junho de 2010, os preços dos alimentos básicos no mercado mundial subiram 45%. Os motivos são muitos. As más colheitas, o aumento da procura de biocombustíveis e a subida do preço da energia são os mais importantes. Cerca de metade dos países a sul do Sahara depende de importações muito caras de cereais para abastecer a população. O que se aplica também a países ricos com solos férteis como a Tanzânia. Um dos motivos é a forma como são geridas as terras.

Yefred Magezi da organização não governamental Hakiardhi mostra à repórter da Deutsche Welle a enorme plantação de uma empresa inglesa que cultiva mamona, uma planta da família das jatrophas, da qual se extrai óleo para biocombustíveis. Magezi acusa: "Esta terra foi tirada às comunidades locais. Há nove aldeias em redor da plantação. A terra era trabalhada pelos aldeões. Ao todo entregaram ao investidor oito mil hectares".

A população local queixa-se de lhes terem tirado as terras sem contrapartidasFoto: DW

A problemática do biocombustível

A jatropha cresce em solos secos, mas precisa de muito espaço, porque chega a atingir oito metros de altura. Tudo o que é cultivado nesta plantação destina-se exclusivamente à exportação para a Europa. O biocombustível não tem mercado em África. Mas Governo tanzaniano percebeu que este é um negócio com futuro. Em 2010 lançou o programa "agriculture first" - "a agricultura em primeiro lugar", que almeja o reforço do setor.

Não se trata somente de abastecer a própria população com alimentos, mas também de exportar a produção agrária. Mas os estrangeiros só podem adquirir terras se investirem, explica Raymond P. Mbilinyi, diretor-geral da agência de investimentos estatal TIC: "Penso que a cooperação com os investidores estrangeiros é muito útil, sobretudo no setor agrário. Os investidores trazem métodos de produção e de gestão mais modernos ao nosso país”. Mbilinyi salienta que o Governo promete velar por uma colaboração estreita e produtiva entre os agricultores locais e os investidores estrangeiros.

A Tanzânia tem condições para ser autosuficiente em alimentos

As promessas por cumprir

Nassor Ramadhani, o líder eleito da pequena aldeia de Mtamba, já não acredita muito neste género de promessas. Ramadhanio conta que antes de tirarem a terra à sua comunidade, o governo tanzaniano comprometeu-se a construir uma escola, uma estrada e um posto médico: "Foi o que nos prometeram originalmente. E claro que esperávamos que as pessoas daqui e das outras aldeias circundantes pudessem trabalhar na plantação. Mas, na verdade, não aconteceu nada".

O deputado deste círculo eleitoral veio pessoalmente prometer que a plantação iria criar pelo menos 400 postos de trabalho, sobretudo para as comunidades locais. Mas só muito pouca gente foi contratada, porque a empresa ainda está a formar-se.

A participação das comunidades como solução

Na Tanzânia vivem 44 milhões de pessoas. A população quadruplicou desde 1961. Em 1995, apenas um décimo da superfície do país era cultivada, sobretudo por pequenos agricultores. A enorme extensão de terras não trabalhadas atraiu os investidores.

A lei só os obrigou a pagar compensações mínimas às comunidades expropriadas, diz Yefred Magezi. Por isso o ativista reivindica uma participação justa, para a qual já existem precedentes no país: "As terras devem passar a ser propriedade comum. As comunidades têm que ter acesso às terras. O investidor fica com 70%, as comunidades recebem 30% da colheita. Deste modo as comunidades poderiam vender os seus próprios produtos”. O modelo já é praticado com êxito nas plantações de açúcar no sudeste da Tanzânia, diz Yefred Magezi e remata que assim “todos lucram com esta solução, os investidores estrangeiros e a população autóctone”.

O monte Kilimanjaro num país de terras férteisFoto: CC/Gary Craig

Autora: Ute Schaeffer
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha

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