Governo de Bangui reuniu pela primeira vez com todos os grupos armados da República Centro-Africana (RCA), sob a égide das Nações Unidas, para tentar relançar o programa de desarmamento e reintegração dos combatentes.
Publicidade
"Avanços bastante importantes" marcaram a primeira reunião das autoridades centro-africanas e internacionais com os grupos armados que semeiam a violência na República Centro-Africana (RCA), de acordo com o chefe do programa de desarmamento.
"O progresso geral é bastante importante (…) o plano do programa de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) foi redigido com os detalhes da implementação do projeto”, indicou Jean-Marc Tafani, esta sexta-feira, no final do encontro com 14 grupos armados, em Libreville.
As negociações deverão prosseguir, com "a próxima reunião do Comité Consultivo de acompanhamento do DDR a ter lugar de 27 a 27 de maio”, acrescentou Tafani.
Reintegrar milhares de combatentes
O orçamento do programa, cerca de 45 milhões de dólares, foi decidido ainda antes da reunião pelo Banco Mundial, a ONU e o Governo centro-africano. Para além do desarmamento, prevê a reinserção de 5 mil combatentes na sociedade civil.
Pela primeira vez no âmbito do programa DDR, o Governo sentou-se à mesma mesa com todos os grupos armados responsáveis por inúmeros abusos no país.
A Frente Popular para o Renascimento da RCA (FPRC), facção da ex-rebelião Seleka, liderada por Noureddine Adam, foi um dos grupos presentes e, segundo Jean-Marc Tafani, terá colocado várias condições ao programa de desarmamento.
A FPRC pretende "um acordo político que preveja a sua participação no Governo, mais programas de desenvolvimento na região norte do país e a criação de forças de segurança mistas, com muçulmanos e cristãos”, explica Tafani.
A RCA, um dos países mais pobres do mundo, tenta recuperar do conflito que eclodiu em 2013, quando a rebelião Seleka, maioritariamente muçulmana, derrubou o ex-Presidente François Bozizé. A contra-ofensiva das anti-balaka, as milícias maioritariamente cristãs, provocou milhares de mortos e obrigou centenas de milhares de pessoas a abandonarem as suas casas.
Fuga e sofrimento na República Centro-Africana
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Aqueles que podem, fogem. Aqueles que permanecem, lutam todos os dias pela sobrevivência.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Refúgio no aeroporto de Bangui
Desde o golpe de Estado, há um ano, a situação na República Centro-Africana está fora de controle. Milícias cristãs e muçulmanas promovem amargos combates. Um milhão de pessoas estão em fuga. Quase todos os muçulmanos deixaram a capital, Bangui. Entre os que permaneceram, algumas centenas encontram abrigo num velho hangar do aeroporto.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Perder tudo
O marido de Jamal Ahmed tinha guardado dinheiro suficiente para a fuga de sua família, quando as milícias cristãs chamadas "Anti-Balaka" invadiram sua aldeia natal. As poucas economias não foram suficientes - ele pagou com a vida. Jamal Ahmed vive no acampamento que surgiu no aeroporto: "Não conheço ninguém aqui. Não tenho mais nada. Não sei como será daqui para a frente.”
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ver os netos mais uma vez
Aos 84 anos, Fatu Abduleimann está entre os moradores de idade mais avançada do campo de refugiados do aeroporto. Nas últimas décadas, Fatu assistiu a muitas dificuldades em sua terra natal. Mas nunca foi tão ruim quanto agora, diz a idosa. Seu único consolo: a maioria dos seus filhos conseguiu fugir para o Chade. Seu maior desejo: "ver os meus netos mais uma vez."
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Quilómetro Cinco, uma cidade fantasma
Exceto o acampamento de refugiados no aeroporto, quase todos os muçulmanos deixaram a cidade. Há alguns meses, o chamado "Quilómetro Cinco" era um animado centro da comunidade muçulmana. Mais de 100.000 pessoas moravam e trabalhavam aqui, a cinco quilómetros do centro da capital, Bangui. Agora, restaram apenas algumas centenas de pessoas. As lojas estão fechadas até nova ordem.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Esperar o momento certo
Quase todos os muçulmanos que ainda restam no "Quilómetro Cinco" querem apenas uma coisa: sair daqui. Os caminhões para a fuga estão prontos. Eles esperam que um comboio tenha como destino os países vizinhos como os Camarões ou o Chade.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
A cidade de campos de refugiados
Não apenas os muçulmanos temem por suas vidas. Por toda a cidade de Bangui pode-se encontrar acampamentos provisórios em que a maioria da população, cristãos e animistas, procura proteção - por medo de um retorno das milícias islamistas ou simplesmente porque não têm o que comer - e espera por doações de alimentos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Ajuda sobrecarregada
O Pastor David Bendima recebeu, na sua igreja, mais de 40 mil pessoas que fugiram dos combates no centro da cidade. Mas ele também não pode garantir-lhes segurança suficiente. "Todas as noites ouvimos tiros e granadas explodindo. As pessoas estão com muito medo", diz o pastor. Ele parece cansado.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Últimas reservas
Chancella Damzousse, de 16 anos, vive em uma aldeia a meia hora de distância de Bangui. Ela prepara o jantar. "Tudo o que resta são alguns grãos de feijão e um pouco de gergelim", diz a jovem. 15 pessoas terão que se satisfazer com a refeição. Desde que milícias muçulmanas destruíram o lugar há alguns meses e mataram muitos cristãos, a família de Chancella recebeu vários vizinhos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Vítimas, autores, centinelas
Ao lado da casa de Chancella, há um guarda da milícia Anti-Balaka. Os amuletos em seu corpo o tornam invulnerável contra balas, explica ele. A milícia tomou o controle da região. Seu trabalho é proteger os moradores da aldeia do ataque de outros rebeldes. No entanto, a sua proteção aplica-se apenas aos cristãos - há muito tempo os muçulmanos deixaram o local ou foram mortos.
Foto: Kriesch/Scholz/DW
Presença internacional
Sete mil soldados da União Africana e da França têm a responsabilidade de garantir a segurança no país dilacerado. A situação humanitária está piorando a cada dia, no entanto. Em 1 de abril, a União Europeia lançou oficialmente a sua operação militar na República Centro-Africana, com um contingente de até mil homens para reforçar as tropas francesas e africanas por um período de até seis meses.