Ex-governador da província de Katanga, até aqui exilado, acabou por entrar no país por via terrestre, através da Zâmbia. Opositor Moise Katumbi quer formalizar a sua candidatura às presidenciais, agendadas para dezembro.
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O avião em que viajava, esta sexta-feira (03.08), o ex-governador da província de Katanga, proveniente da África do Sul, não recebeu autorização para aterrar em Lubumbashi, na República Democrática do Congo (RDC). Moise Katumbi foi então forçado a viajar por terra, a partir da fronteira com a Zâmbia.
De acordo com o porta-voz de Katumbi, Olivier Kamitatu, o opositor do Presidente Joseph Kabila, exilado na Bélgica desde maio de 2016, planeava aterrar no Aeroporto Internacional de Luano, em Lubumbashi, no sudeste do país, para formalizar a candidatura às eleições presidenciais, agendadas para 23 de dezembro, mas foi proibido pela administração local e pela Autoridade para a Aviação Civil de entrar no espaço aéreo congolês.
Órgãos de comunicação social locais dão conta da saída da caravana de Katumbi em direção a Kasumbalesa, uma cidade fronteiriça entre a Zâmbia e a RDCongo, onde deverá ter chegado, segundo relatos no Twitter, ao final desta manhã.
Mandado de prisão
Katumbi anunciou, esta quarta-feira (01.08), o seu regresso à RDC para formalizar a sua candidatura às próximas eleições presidenciais. No dia seguinte, a polícia deu conta de que iria executar um mandado de prisão datado de 2016 para o capturar.
Este opositor de Kabila foi condenado à revelia em junho de 2016 e sentenciado a uma pena de prisão de 36 meses pela venda de uma casa que não era sua. O caso tem contornos semelhantes ao que envolveu outro político congolês, Jean-Claude Muyambo, condenado sob as mesmas circunstâncias.
A organização não-governamental RDC Vision National partilhou, ao início desta manhã, algumas fotos que mostravam veículos de água quente e vários agentes da polícia a dispersar a população no centro de Lubumbashi. Foram igualmente partilhadas várias fotos com carrinhas de caixa aberta da polícia com vários militares armados a patrulhar a cidade.
A RDC nunca conheceu uma transição pacífica de poder desde que conquistou a independência em 1960. Alguns especialistas temem que as eleições de 23 de dezembro possam desencadear um conflito sangrento.
Cobalto no Congo: O preço da ganância
O Congo é o maior fornecedor mundial de cobalto, metal necessário para fabricar smartphones e carros elétricos. Mas o solo e a água já estão contaminados. A população está a adoecer e há casos de abortos e malformações.
Foto: Lena Mucha
O deserto contaminado de Kipushi
Perto da cidade de Kipushi, no sul do Congo, há um deserto artificial. Até à década de 1990 funcionava aqui uma mina. Vários quilómetros quadrados de solo estão contaminados: não cresce aqui nada há décadas. O rio também está poluído. Mas a mineradora canadiana Ivanhoe Kipushi quer explorar cobalto na região. Há casos frequentes de malformações congénitas em recém-nascidos, dizem médicos locais.
Foto: Lena Mucha
Malformações e nados-mortos
Nos hospitais locais, há cada vez mais casos de crianças que nascem com malformações, como lábio leporino e pé boto. Só no Hospital St. Charles Lwanga, em Kipushi, houve três casos de anencefalia em março. O feto não desenvolve o cérebro e geralmente o bebé morre logo após o nascimento. "Algo não está bem aqui, mas não temos dinheiro para pesquisas", conta Alain, que é ginecologista.
Foto: Lena Mucha
"É preciso educar as pessoas"
Um grupo de pesquisa interdisciplinar da Universidade congolesa de Lubumbashi está a trabalhar com a Universidade de Lovaina, na Bélgica, num projeto de investigação sobre a relação entre a exploração de cobalto e a saúde. "É preciso educar as pessoas para o que está a acontecer aqui. As toxinas tornam-nos doentes", diz Tony Kayembe, um dos membros do grupo de investigadores.
Foto: Lena Mucha
Partos prematuros
Dois bebés prematuros estão numa incubadora no Hospital St. Charles Lwanga, em Kipushi. "Suspeitamos que o elevado número de nascimentos prematuros nesta região está relacionado com a contaminação por metais como o cobalto," diz Tony Kayembe, investigador da Universidade de Lubumbashi e membro do grupo de pesquisa internacional. A maioria dos moradores de Kipushi trabalha nas minas de cobalto.
Foto: Lena Mucha
Crianças doentes
Adele Masengo tem cinco filhos. O marido trabalha numa mina de cobalto. A filha mais velha ficou cega aos 12 anos. Além de um aborto espontâneo, Adele teve um bebé com malformações, que morreu logo após o nascimento. Ainda não sabe se foi por causa do cobalto. "Quando os meus bebés nasceram, tiraram-lhes sangue, mas nunca conseguimos saber os resultados", diz.
Foto: Lena Mucha
Procura cada vez maior
O Congo é responsável por 60% da produção mundial de cobalto. Este metal raro é necessário para as baterias de lítio usadas em smartphones, computadores portáteis e carros elétricos. Por causa do rápido aumento da procura, os preços triplicaram nos últimos dois anos. Crianças, mulheres e homens que trabalham nas minas estão expostos a várias toxinas.
Foto: Lena Mucha
Em pleno "cinturão de cobre" africano
A GECAMINES é a maior empresa de mineração do Congo. Está localizada em Lubumbashi, a segunda maior cidade do país, no centro do chamado "cinturão de cobre" africano. Muitas grandes empresas internacionais instalaram-se aqui, na fronteira com a Zâmbia. Anualmente são produzidas 5000 toneladas de cobalto.
Foto: Lena Mucha
Água tóxica
Estes trabalhadores procuram cobalto e outras substâncias num rio contaminado. Para muitos, esta é a única fonte de rendimento. "Nós aqui quase não usamos a nossa água", diz um residente local. "A água deixa uma película estranha na pele. Quando lavo a minha roupa com esta água, ela depois desfaz-se. E até as batatas, que regamos com água, têm um sabor estranho."
Foto: Lena Mucha
Viver ao lado de uma refinaria
Mesmo ao lado da Congo Dongfang Mining (MDL) foi construída uma área residencial. A empresa chinesa está entre os maiores compradores de cobalto no Congo. Quando chove, os resíduos da refinaria da MDL em Lubumbashi chegam ao bairro vizinho de Kasapa. Os residentes queixam-se de graves problemas respiratórios e de pele, mas até agora a MDL ainda não respondeu às suas queixas.
Foto: Lena Mucha
Sem proteção
Um dermatologista examina um paciente no Hospital Universitário de Lubumbashi. A maioria dos mineiros no Congo trabalha sem roupas de proteção. Além de metais como cobalto, cobre e níquel, muitas vezes também há urânio nas rochas. E os moradores estão igualmente expostos ao pó.