Avião suspeito no aeroporto de Bissau gera polémica
9 de novembro de 2021O avião estacionado no parque B só poderá abandonar o país mediante uma autorização prévia das autoridades. A tripulação do avião terá abandonado o país, de forma clandestina, logo que foi informada da decisão das autoridades guineenses.
Não se sabe de quem é o avião, o que foi fazer em Bissau, nem que tipo de carga tem.
O Conselho de Ministros debruçou-se esta terça-feira (09.11) sobre a matéria e criou uma comissão interministerial para averiguar as circunstâncias em que o avião aterrou em Bissau.
A comissão tem até sexta-feira (12.11) para entregar um relatório que será apreciado pelo Governo guineense, lê-se no comunicado do Conselho de Ministros na posse da DW África. O Executivo guineense diz que o avião aterrou "em circunstâncias ainda por esclarecer".
Contactadas pela DW África, fontes da Aviação Civil consideraram que o assunto "é delicado" e farão uma comunicação em momento oportuno.
A falta de informações por parte das autoridades competentes abriu caminho a especulações e indignação.
A situação ocorre numa altura em que o tráfico de droga volta a assombrar a Guiné-Bissau. A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar o paradeiro de mais de 900 kg de cocaína que terão entrado no país. Foram detidos vários suspeitos, incluindo um oficial da Polícia de Intervenção Rápida e um ex-capitão do Exército. À DW África, a PJ diz que não pode falar do caso à imprensa para não perturbar a investigação, que poderá culminar em mais detenções. Falámos com o advogado Fodé Mané sobre o assunto.
DW África: Nota-se um aumento das atividades ilícitas na Guiné-Bissau ?
Fodé Mané (FM): Há muito tempo que sabemos da vinda de pessoas estranhas, de voos noturnos de jatos privados, que, para quem tem alguma noção de como este tráfico ocorre, [indicam] que estamos perante tráfico de droga. O que está acontecer nas zonas insulares… As pessoas podem entrar e sair. Basta ter uma pessoa "forte" para [as] proteger.
DW África: Face a esta situação, onde está a comunidade internacional?
FM: A comunidade internacional vê esta situação com alguma ingenuidade. A apreensão de droga não significa que [o tráfico] aumentou – significa que alguém está atento. Alguém discursou lá fora que já não há tráfico, mas todos os dias se fala de navios que são apreendidos no Senegal com ligações com a Guiné-Bissau ou de pessoas que fugiram à Justiça noutros países e se vêm refugiar como homens de negócios ou parceiros económicos.
DW África: O que devem fazer as autoridades guineenses?
FM: Não creio que a PJ esteja em condições de fazer uma investigação autónoma e independente. Sabemos que a PJ tem capacidade para controlar tudo, mas não tem condições para poder atuar. Por isso, vai até onde pode. [Mas] quando a polícia faz o seu trabalho, tudo esbarra depois no Ministério Público e, se não for esse o caso, chega a tribunal e o tribunal profere decisões caricatas.
DW África: Mas acredita mesmo no envolvimento de altas patentes militares ou das forças de defesa e segurança no tráfico de droga?
FM: Aqui na Guiné há agentes das forças de defesa e segurança presentes em todos os tipos de negócios, principalmente nesses ilícitos. [Daí] o argumento de que as forças de defesa e segurança não devem ser submetidas aos controlos da PJ. Ninguém pode fazer tráfico ilícito sem ter cobertura de forças militares. Não consegue.