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Azagaia, um defensor dos direitos humanos que não tinha medo

10 de março de 2023

Morreu na quinta-feira (09.03), em Maputo, o músico moçambicano Edson da Luz, mais conhecido por Azagaia. A ministra da Cultura, Eldevina Materula, diz que "a música e a cultura moçambicana estão de luto".

Foto: Romeu da Silva/DW

Edson da Luz, mais conhecido por Azagaia, notabilizou-se no mundo artístico pelas suas músicas de intervenção social e pela crítica à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder em Moçambique.

Era descrito por muitos moçambicanos como um "herói", pela sua coragem em denunciar o que achava errado no país como chegou a cantar aos microfones da DW:

"Seus mal-agradecidos, não têm coração, nem raça de políticos, querem confusão e só confiam nas forças policiais; o povo pede comida e vocês mandam gás lacrimogénio e depois soltam os cães, disparam jatos de água contra os nossos pais e mães; já vos demos o poder, afinal o que querem mais?".

Causas da morte ainda desconhecidas

As circunstâncias da morte de Azagaia continuam por esclarecer. Informações postas a circular nas redes sociais indicam que o rapper morreu num acidente quando consertava o telhado da sua residência, tendo escorregado e caído. No entanto, à DW, fontes próximas da família não confirmaram essa versão.

Azagaia consagrou-se pela interpretação de temas de intervenção social como "As Mentiras da Verdade" e "Povo no Poder".

Em abril de 2013, disse à DW que se sentia perseguido pelo poder político por causa das suas músicas, mas mostrou-se destemido.

"Pior que o medo é uma certa cobardia. Eu acho que os cidadãos não se devem acovardar e, se nós vivemos num Estado de Direito, não acredito que haja espaço para o medo. Sei que existem pessoas que já sofreram graves consequências por dizerem o que pensam", admitiu.

Azagaia nasceu em 1984 no distrito da Namaacha, na província de Maputo, e posicionava-se como defensor dos direitos humanosFoto: Divulgação Azagaia

Também em 2013, o artista lançou o single "MIR – Música de Intervenção Rápida" para criticar o funcionamento da Justiça moçambicana. O rapper condenava, em particular, a atitude dos membros da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), pela forma brutal como reprime os cidadãos.

"Nós, como povo, não temos armas para disparar, temos direito a ter palavra. Temos direito a usar a nossa arte e todas as formas que nós acharmos para demostrarmos a nossa opinião", defendeu.

Azagaia nasceu em 1984 no distrito da Namaacha, na província de Maputo, e posicionava-se sempre como defensor dos direitos humanos.

"Afinal de contas esta é uma sociedade feita por seres humanos. É um país, é um mundo feito por seres humanos, e acho que estes são os diretos mais latos que existem", sublinhou.

Azagaia, um defensor dos direitos humanos que não tinha medo

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Música e cultura moçambicana de luto

A morte de Azagaia, na quinta-feira à noite, chocou os moçambicanos. Nas redes sociais, centenas de pessoas têm publicado mensagens a lamentar a morte do músico, agradecendo também o seu contributo para a cultura moçambicana.

Um utilizador da página da DW no Facebook escreveu que "a obra deixada por ele foi tão grande que já não lhe é permitido morrer, ele foi-se, mas viverá para sempre em nós".

A ministra da Cultura, Eldevina Materula, disse que "o mundo perdeu um rapper único" e frisou que "a música e a cultura moçambicana estão de luto".

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