Bélgica vai devolver restos mortais de Patrice Lumumba
Saleh Mwanamilongo | Wendy Bashi
11 de setembro de 2020
Ministério Público da Bélgica anunciou que vai devolver à família os restos mortais do líder congolês Patrice Lumumba, assassinado em 1961. Familiares apelam às autoridades para a celeridade no processo.
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O anúncio desta quinta-feira (10.09) surge depois de, em junho deste ano, a família de Lumumba ter pedido à justiça belga a devolução de um dente, que alegadamente pertence ao líder congolês, e que foi apreendido à família de um polícia belga que terá ajudado a fazer desaparecer o corpo, nunca encontrado, deste que foi o primeiro primeiro-ministro da antiga colónia belga, após a independência em 1960.
Em entrevista à DW, Juliana Lumumba, uma das filhas do líder congolês, mostra-se satisfeita: "Para mim é uma grande vitória! Porque finalmente, 60 anos depois, os restos mortais do meu pai, que morreu pela independência do seu país e pela dignidade do povo negro, regressarão à terra dos seus antepassados. Isso é bom!".
No entanto, Juliana Lumumba disse: "até agora apenas lemos a declaração nos meios de comunicação social. Estamos à espera que a decisão [das autoridades belgas] nos seja oficialmente comunicada e de saber em que condições exatas os restos mortais nos serão entregues".
Nova página
Também para François Lumumba, filho mais velho de Patrice Lumumba, esta é uma decisão que "abre uma nova página entre o povo belga e o congolês", mas que exige o envolvimento das autoridades de ambos os países. "Cabe agora às autoridades congolesas envolverem-se no repatriamento dos restos mortais ao seu país natal. E aos nossos amigos belgas fazerem com que estes cheguem o mais depressa possível a Kinshasa", apelou.
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No que depender do Governo congolês, garante André Lite, ministro dos Direitos Humanos, Lumumba terá finalmente direito a um enterro digno. "É uma questão que será abordada pelo Governo. Quando chegar a altura, o Governo tomará uma posição, mas poderia até dizer que é evidente, pois Emery Patrice Lumumba merece-o".
Patrice Lumumba e o movimento anti-colonialista na RDC
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A satisfação é notória também nos círculos políticos da República Democrática do Congo (RDC). Lambert Mende, antigo porta-voz do Governo de Joseph Kabila, fala de uma "restituição simbólica", mas que permitirá aos congoleses fazer o luto deste que é considerado um herói do continente africano.
"Sinais como este estão carregados de um significado simbólico, que não só é reparador, mas também serve de base para o normalizar da situação. Porque enquanto o corpo - ou pelo menos uma parte dele - não estiver connosco, congoleses, não podemos dizer que realmente fizemos o luto do desaparecimento de Emery Patrice Lumumba".
Patrice Lumumba tornou-se o primeiro primeiro-ministro do Congo independente a 30 de junho de 1960, mas foi destituído cerca de três meses depois, já com o país mergulhado numa guerra civil. Foi assassinado a 17 de janeiro de 1961, mas o seu corpo nunca foi encontrado, pois terá sido destruído com ácido.
Mobutu: Ascensão e queda de um tirano
Há vinte anos, em 7 de setembro de 1997, morria Mobutu Sese Seko. Em maio daquele mesmo ano, ele havia deixado o poder. Mobutu fugiu do antigo Zaire (hoje RDC), que governou com mão de ferro por 32 anos.
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20 anos da queda do leopardo
Depois de liderar um golpe bem sucedido, o ditador carismático, apelidado de "Rei do Zaire", governou o país com mão de ferro. O chamado “Rei do Zaire”, foi expulso do poder há 20 anos, deixando o país numa grande instabilidade política e económica.
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A ascensão
Em 1960, a República do Zaire, anteriormente Congo belga, ganhou sua independência. No mesmo ano, Mobutu tornou-se secretário de Estado do Governo independente de Patrice Lumumba e depois chefe do Estado-Maior do exército.
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Lumumba assassinado, Kasa-Vubu destituído
Mobutu aproveitou seu título de chefe do Estado-Maior do exército para tramar contra o primeiro-ministro Patrice Lumumba, que foi preso, torturado e enviado para a província de Katanga, onde foi assassinado em 17 de janeiro de 1961. Em 1965, Mobutu liderou um golpe contra o Presidente Joseph Kasa-Vubu.
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Aliado do ocidente
Mobutu (aqui junto ao Presidente francês Valéry Giscard d'Estaing) conseguiu o apoio dos governos americano e francês para estabelecer seu poder no Zaire. No contexto da Guerra Fria, o ditador serviu como aliado ao Ocidente para evitar uma vitória do comunismo no continente africano.
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Orgulho do Zaire
Tendo se tornado "presidente-marechal", Mobutu quer descolonizar a cultura do país. O rio, o país e a moeda são todos os três renomeados Zaire em 1971. Ele mantém o culto da personalidade e organiza um campeonato mundial de boxe em 1973, durante o qual Mohammed Ali bateu Georges Foreman em Kinshasa.
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O gosto pelo luxo
Este trono de marfim é um exemplo do gosto pelo luxo do ditador, que erigiu um enorme palácio em Gbadolite, na floresta equatorial.
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Para o fim de um único reinado
Membro do Governo de Mobutu na década de 1960, Etienne Tshisekedi tornou-se cada vez mais crítico em relação ao "Rei do Zaire". Após a 16ª Conferência dos Chefes de Estado da África e França organizada por François Mitterand, Mobutu foi forçado a aceitar o multipartidarismo no país.
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Rebeldes assumem o controle de parte do país
Afetada pela miséria, a maioria da população deixa de acreditar no reinado de Mobutu, corroído pela corrupção. Em 1997, a Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo, liderada por Laurent-Désiré Kabila, chegou às portas de Kinshasa e ameaçou o poder instalado.
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Nelson Mandela, mediador da crise zairense
Em 14 de maio de 1997, Nelson Mandela organizou uma reunião entre Mobutu e Kabila para evitar um banho de sangue na capital. Mobutu evoca pela primeira vez a possibilidade de se retirar do poder.
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Mobutu fugiu
Em 16 de maio de 1997, Mobutu retirou-se do poder. O "Rei do Zaire" fugiu para Togo e depois para Marrocos, onde morreu em 7 de setembro de 1997.