Búzi: Aumentam casos de malária e doenças diarreicas
Arcénio Sebastião
21 de abril de 2019
Nas últimas três semanas, duplicou o número de casos de malária na localidade de Guara-Guara no distrito de Búzi, província de Sofala, Moçambique. Em toda a província já são mais de 10 mil casos da doença.
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Os números de casos de malária estão a preocupar as autoridades na província de Sofala, no centro de Moçambique. Só o centro de saúde de Guara-Guara, no distrito de Búzi, está a diagnosticar diariamente cerca de 25 pessoas com a doença. Casos de doenças diarreicas com febres constantes são também recorrentes desde a passagem do ciclone Idai.
A informação foi avançada à DW África pelo diretor daquela unidade sanitária. Segundo Cândido Artur, "depois da passagem do ciclone, os casos de malária tendem a aumentar". E em comparação aos meses antes do ciclone, há um aumento de mais ou menos 25 casos por dia de malária naquela região.
Búzi: Aumentam casos de malária e doenças diarreicas
Alguns cidadãos ouvidos pela DW África assumem não usar redes mosquiteiras nem repelentes contra mosquitos e pedem ao Governo e parceiros mais apoios, como a distribuição de redes mosquiteiras. As que tinham foram arrastadas pelo ciclone e inundações.
Sem redes mosquiteiras
Elisa Joaquim aguarda a vez na fila do hospital. O filho foi diagnosticado com malária e ela e a vizinha apresentam sintomas de diarreia severa.
"As nossas casas acabaram de cair, as nossas redes mosquiteiras rasgaram-se e outras foram arrastadas com as águas. Tínhamos recebido as redes, mas com as inundações tornou-se tudo complicado. Na minha zona, por exemplo, são muitos que estão doentes, com malária, diarreia e febres", relata.
O diretor do centro de saúde de Guara-Guara refere que por de trás destes casos de doença está a grande quantidade de água estagnada na povoação, criando charcos propícios ao desenvolvimento do mosquito causador da malária. Cândido Artur apela, por isso, à eliminação desses charcos.
A povoação de Guara-Guara com mais de sessenta mil habitantes, situada a oeste da cidade da Beira, capital de Sofala, foi severamente fustigada pelo ciclone e posteriores inundações. Situada na zona pantanosa do centro de Búzi, Guara-Guara produzia, normalmente, mais de oitenta mil toneladas de cereais por época.
Estima-se que mais de duas mil famílias tenham sido diretamente afetadas por aquele fenómeno natural. A maior parte da população ainda vive na tribuna da localidade aguardando a atribuição de espaços pelo Governo.
Ciclone Idai: Um mês após a tragédia
O ciclone Idai já é uma das maiores tragédias da história de Moçambique. Atingiu a cidade da Beira a 14 de março, seguindo para oeste, em direção ao Zimbabué e ao Malawi, e a afetar milhões de pessoas.
Foto: Reuters/M. Hutchings
Depois do ciclone, ruínas
Na cidade da Beira, Ester Thoma caminha com o filho junto às ruínas da sua antiga casa, que foi quase completamente destruída pelo ciclone Idai. A cidade foi uma das mais afetadas pela passagem do ciclone, a 14 de março de 2019. Uma catástrofe que deixou um rasto de destruição e que já é uma das maiores tragédias da história do país.
Foto: Reuters/Z. Bensemra
O ciclone Idai visto pela NASA
Esta imagem de satélite foi feita pela NASA e mostra a aproximação do ciclone Idai à costa dos países africanos. "A situação é terrível, a magnitude da devastação é enorme", disse na ocasião o líder da equipa de avaliação da Cruz Vermelha na Beira, Jamie LeSueur.
Foto: NASA
Crise humanitária sem precedentes
Em Moçambique, o ciclone Idai afetou mais de 1,5 milhões de pessoas, segundo o mais recente balanço. Deixou pelo menos 602 mortos e 1.641 feridos. A 27 de março, as autoridades do país declararam um surto de cólera. Isso porque, após a passagem do ciclone, a 14 março, seguiram-se chuvas intensas e inundações.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Moisés, o bebé que nasceu em cima de uma árvore
Enquanto Moçambique avaliava os estragos do ciclone Idai, em toda a província de Sofala, cerca de 5 mil pessoas esperavam por socorro em cima de árvores e tetos de casas. Em Búzi, um dos distritos mais afetados pelo Idai, um bebé, que recebeu o nome de Moisés, nasceu em cima de uma árvore. Como a personagem bíblica, este Moisés também foi salvo das águas.
Foto: DW
Cheias em Tete
Em Tete, as cheias que seguiram à passagem do ciclone afetaram pelo menos 900 famílias. Dessas, cerca de 600 foram acolhidas no centro de acomodação do Instituto Industrial e Comercial de Matundo. Entretanto, as dificuldades foram enormes. Com a falta de tendas, as famílias juntavam os seus pertences debaixo de árvores.
Foto: DW/A. Zacarias
OMS contra a cólera
Uma mulher vítima de cólera é transportada por profissionais de saúde. Após o devastador ciclone Idai, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou estar a preparar-se para um possível aumento acentuado da doença. 900 mil vacinas contra a cólera foram enviadas para o país. Na cidade mais afetada, a Beira, foram instalados três centros de tratamento.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Mukwazhi
Depois do desastre, a cólera
Cerca de 800 mil pessoas foram vacinadas contra a cólera até 11 de abril, numa campanha para evitar a propagação da doença em quatro distritos afetados pelo ciclone Idai na província de Sofala. Dados oficiais indicam que pelo menos sete pessoas morreram devido ao surto, até 9 de abril, registando-se 535 casos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Solidariedade alemã
O Governo da Alemanha aumentou a ajuda humanitária para um total de 5 milhões de euros. Diversas organizações humanitárias e igrejas cristãs pediram donativos. Cruz Vermelha alemã, Caritas Alemanha, Diocese de Hamburgo, Diakonie Katastrophenhilfe, Action Medeor, foram algumas das instituições alemãs que estiveram a apoiar os moçambicanos.
Foto: Aktionsbündnis Katastrophenhilfe
Artistas e desportistas apoiam vítimas
O concerto solidário "Mão dada a Moçambique" promovido pela cantora moçambicana Selma Uamusse, decorreu no dia 2 de abril em Lisboa e conseguiu angariar cerca de 300 mil euros para as vítimas do Idai. Surfistas e futebolistas em Portugal uniram-se ao movimento de solidariedade em vários eventos. Houve também concertos para angariar fundos em Nampula e no Niassa, no norte de Moçambique.
Foto: Vera Marmelo
Falta de médicos e medicamentos nos hospitais da Beira
Equipas da cruz vermelha trabalham para ajudar sobreviventes. Mas nos postos de saúde da Beira, a cidade mais afetada pelo ciclone Idai, há longas filas de pacientes, todos os dias. Queixam-se da falta de médicos e de medicamentos. A Cruz Vermelha Portuguesa montou um hospital de campanha em Macurungo, que diariamente atende mais de 300 pessoas.
Foto: Reuters/IFRC/RCRC Climate Centre
Sem electricidade
Um mês após o ciclone, a empresa estatal Electricidade de Moçambique (EDM) anunciou que precisa de 106 milhões de euros para a recuperação das infraestruturas destruídas pelo ciclone Idai no centro do país. Mais de 95% dos clientes da EDM nas províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia ficaram sem energia elétrica.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Ajuda para reconstruir o futuro
Enquanto os moçambicanos tentam reconstruir as suas vidas, a Comissão Europeia anunciou na terça-feira (09.04) uma verba adicional de 12 milhões de euros de ajuda humanitária para as populações afetadas pelo ciclone Idai em Moçambique. Esse país receberá a maior fatia da ajuda (sete milhões de euros), seguido por Zimbabué (quatro milhões) e Malawi (um milhão de euros).