Balanço controverso: Dlamini-Zuma na União Africana
Ludger Schadomsky | ms
23 de janeiro de 2017
Depois de quatro anos de mandato, a sul-africana Nkosazana Dlamini-Zuma deixa a presidência da Comissão da União Africana (UA). Mas poucos lamentam a sua saída. A organização nunca esteve tão dividida como agora.
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Os ingredientes para uma história de sucesso estavam todos lá: a primeira mulher a chefiar a Comissão da UA vinha do sul de África e tinha combatido pela liberdade do seu país. Não havia, por isso, qualquer presságio negativo.
No entanto, quatro anos depois do seu mandato à frente da Comissão da UA, é difícil ouvir opiniões positivas sobre Nkosazana Dlamini-Zuma, tanto na sede da organização em Addis Abeba, a capital da Etiópia, como noutros locais no continente.
Dlamini-Zuma foi eleita em 2012, à terceira tentativa, depois de uma agressiva campanha de lobby levada a cabo pelo Governo sul-africano. Nessa altura, perde simpatias, especialmente dos países francófonos.
"Dlamini-Zuma precisou de muito tempo para fazer esquecer o legado e as reservas originadas pela sua eleição. Quando assumiu funções, já vinha em desvantagem e tinha os países francófonos contra ela", explica em entrevista à DW a especialista Liesl Louw-Vaudran. Mas até hoje, sublinha, "Dlamini-Zuma não se esforçou muito para superar essas diferenças."
"Não era o que pensávamos"
Médica de formação e antiga ministra do Interior, Nkosazana Dlamini-Zuma tinha boa reputação local. E muitos esperavam que a ex-mulher do atual Presidente sul-africano, Jacob Zuma, trouxesse "mais eficiência e produtividade" para a União Africana, lembra Liesl Louw-Vaudran.
Também o politólogo camaronês Alphonse Zozime Tamekamta tinha grandes expectativas em relação à sul-africana, "uma mulher forte, que vem de um grande país africano, a África do Sul, que durante muito tempo foi considerado um país forte em temos políticos e económicos".
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Segundo o especialista, "o povo esperava mais dela: mais visão, mais competências de gestão, maior liberdade de expressão e uma grande capacidade de influência em decisões importantes que afetam diferentes partes do continente africano". Por isso, conclui, "deixa um balanço incompleto."
Muitos pensavam que Dlamini-Zuma era "a mulher certa no lugar certo." Mas, no final do seu mandato, "fica a impressão de que não era o que pensávamos", sublinha Alphonse Zozime Tamekamta.
Além disso, sublinha também Liesl Louw-Vaudran, os poderes da presidente da Comissão foram muitos limitados. "No final, as decisões da União Africana acabaram por ser tomadas pelos chefes de Estado e de Governo africanos.", lembra a especialista.
Ambições políticas
Para trás, Dlamini-Zuma deixa também uma longa lista de crises negligenciadas: desde guerras civis no continente à epidemia de ébola, passando pelas mortes em massa de imigrantes africanos no Mediterrâneo ou o El Niño e a fome em África.
O politólogo Siaka Coulibaly, do Burkina Faso, não tem dúvidas sobre as suas ambições políticas. "A senhora Zuma quer ter um papel político no seu próprio país no futuro. Por isso, teve de se manter em silêncio sobre muitas questões importantes - e a culpa foi completamente sua", diz.
Também na luta contra o grupo radical Boko Haram não houve grandes esforços de negociação ou de financiamento por parte da UA, diz o especialista camaronês Alphonse Zozime Tamekamta. Pelo contrário, têm sido organizações regionais a entrar em cena na luta contra o terrorismo, sublinha.
O sucessor de Nkosazana Dlamini-Zuma na presidência da Comissão da UA deverá ser nomeado na cimeira anual da organização, em Addis Abeba, prevista para 30 e 31 de janeiro. A reintegração de Marrocos é outro dos temas em cima da mesa.
Primeiras-damas em África: O amor ao poder
Não são eleitas pelo povo, mas têm muito poder. Algumas têm mesmo ambições presidenciais. Apresentamos-lhe algumas primeiras-damas africanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hutchings
Exuberante: Ana Paula dos Santos
Ana Paula dos Santos trabalhou como modelo e hospedeira de bordo. Conheceu o marido, o Presidente angolano José Eduardo dos Santos, a bordo do avião presidencial. Alguns gostam dela pelo seu empenho em causas femininas e infantis, outros criticam-lhe o estilo de vida luxuoso.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Novais
De ridicularizada a temida: Grace Mugabe
Durante muito tempo manteve-se nos bastidores. Teve dois filhos de Robert Mugabe quando ele ainda era casado com a primeira mulher. Só após a morte desta é que o Presidente casou com a sua antiga secretária. Hoje Grace Mugabe tem muita influência no partido no poder. Ainda que o negue, Grace, de 51 anos, é tida como sucessora do seu marido de 92 anos.
Foto: Getty Images/AFP/A. Joe
Estimada: Margaret Gakuo Kenyatta
Os quenianos adoram a sua primeira-dama. Margaret Gakuo Kenyatta promove campanhas de saúde maternal. A sua campanha para a redução da mortalidade infantil despertou muitas consciências para o tema. Gakuo é tida como modesta e discreta. É filha de um empresário do setor ferroviário e de uma alemã. É casada desde 1991 com o Presidente Uhuru Kenyatta.
Foto: imago/Xinhua
Discreta: Aisha Buhari
Os nigerianos foram surpreendidos pela positiva quando Aisha Buhari disse que respeitaria a Constituição e não se envolveria na política. Depois de ter tomado posse, o seu marido Muhammadu Buhari acabou com o posto de primeira-dama, por ser um desperdício de fundos públicos, inconstitucional.
Foto: Getty Images/AFP/P. U. Ekpei
Mulher fatal? Dominique Ouattara
Dominique Ouattara sempre gostou de se relacionar com os poderosos. Quando conheceu Alassane Ouattara, no final dos anos 80, já tinha feito carreira como agente imobiliária. Através do casamento a empresária de sucesso ascendeu à primeira liga dos poderosos, na Costa do Marfim. Entretanto ocupa-se de questões ligadas aos direitos das crianças.
Foto: Getty Images/AFP/S. Kambou
A eterna primeira-dama: Janet Museveni
Janet Museveni celebra 30 anos como primeira-dama, o que faz dela a mais antiga no cargo no continente africano. Depois da controversa vitória do marido, Yoweri Museveni, em fevereiro de 2016, Janet Museveni deverá permanecer ainda longos anos como primeira-dama. A mãe de quatro filhos é deputada desde 2006 e em 2009 foi nomeada ministra para a região de Karamoja, no nordeste do Uganda.
Foto: Imago/Xinhua
A conservadora: Marieme Faye Sall
A primeira-dama senegalesa Marieme Faye Sall (à direita com Michelle Obama) é a primeira senegalesa "genuína" a ocupar a posição, todas as anteriores tinham ascendência francesa. Marieme é descrita como uma dona de casa dedicada que não se intromete na política do marido, Macky Sall. O seu estilo de vida conservador vale-lhe muitas críticas.
Foto: Getty Images/AFP/S. Diallo
Atenciosa: Marie Olive Lembe
Foi noiva durante muitos anos do Presidente congolês Joseph Kabila. Em 2006 tornou-se primeira-dama. Marie Olive Lembe di Sita tem dois filhos e é muito amiga da irmã gémea do Presidente, que é tida como braço direito deste. A República Democrática do Congo acaba por ter desta forma duas primeiras-damas.
Foto: Imago/Reporters
Quem é a primeira-dama da África do Sul?
Em 2008, Jacob Zuma começou uma maratona de casamentos. Em quatro anos casou com três mulheres: Nompumelelo Zuma, Thobeka Zuma e Bongi Ngema-Zuma. Além destas três há ainda a esposa de longos anos Sizakelle Zuma. Os críticos dizem que a grande família presidencial custa aos contribuintes uma fortuna. A atual presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma, é ex-mulher de Zuma.