O governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, anunciou que o país ultrapassou no primeiro trimestre a situação de "sufoco" em que se encontrava, passando a uma fase de normalidade.
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Falando esta segunda-feira (19.06) no final de uma sessão do Comité de Política Monetária do Banco Central, Rogério Zandamela disse que as estatísticas apontam para uma reversão positiva da tendência da atividade económica comparando com o final de 2016.
"Nós já não estamos a gerir a crise, já passamos essa fase. Não estamos no sufoco, estamos a gerir uma situação de normalidade do ponto de vista de política monetária. A casa não está a arder", garantiu.
Antes, a situação era de pânico: as pessoas fugiam do mercado financeiro à procura de dólares. Hoje, é o contrário, afirmou o governador. "Só nas últimas duas semanas tivemos um incremento de 100 milhões de dólares. Isso mostra uma confiança dos agentes económicos nas políticas do Banco e do Estado", salientou.
Crescimento do PIB
Zandamela disse que o Banco Central está a trabalhar com tranquilidade com os agentes económicos, prevendo-se para 2017 um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 4 e 4,3% e uma inflação na ordem dos 14%.
Rogério Zandamela: "A casa não está a arder"
Na sequência da apreciação da moeda nacional, o metical, o governador do Banco de Moçambique disse estar a tomar medidas para evitar euforias no mercado de câmbios para evitar "efeitos perversos" na economia que possam afectar a competitividade dos produtos.
O Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique decidiu manter as taxas diretoras incluindo o coeficiente de reservas obrigatórias de 22.75% e introduziu o rácio mínimo de liquidez no sistema bancário nacional fixando-o em 25%.
O comité identificou três desafios internacionais, nomeadamente a recuperação da economia mundial, a volatilidade dos preços das commodities e a incerteza da situação na África do Sul e as suas implicações para o país.
No plano doméstico identificou quatro defafios: as expectativas dos agentes económicos e parceiros em relação a divulgação dos resultados da auditoria internacional no âmbito das dívidas ocultas, o agravamento do risco fiscal, a incerteza quanto a evolução futura dos preços dos combustíveis líquidos e outros bens serviços e administrados e a retomada do programa com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.