Recuperação e riscos para a economia de Moçambique
Leonel Matias (Maputo)
12 de outubro de 2017
Apesar da recuperação incipiente, a economia de Moçambique corre riscos por causa da elevada dependência do setor extrativo e de flutuações nos preços das matérias primas.
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Num relatório daquela instituição denominado "O Pulsar de África”, o Banco Mundial refere que uma eventgual redução dos preços de produtos de exportação, entre eles o alumínio e o carvão, pode afetar seriamente as receitas das exportações de Moçambique, que dependem em mais de 80% dos grandes projetos.
A instituição defende uma resposta mais incisiva a nível da cobrança de impostos, face ao elevado défice do Orçamento do Estado e de dificuldades na reestruturação da dívida pública.
Num relatório divulgado na capital norte-americana, Washington, o Banco Mundial reconhece, no entanto, que a economia moçambicana regista melhorias. Assim destaca uma aceleração do Produto Interno Bruto (PIB) na ordem de 2,9% no primeiro trimestre deste ano, o dobro do crescimento atingido em 2016.
Também a moeda nacional, o metical, recuperou câmbio em relação ao dólar em 28% nos últimos nove meses deste ano e a subida do nível geral de preços abrandou.
Otimismo oficial
Ainda esta semana, o Primeiro-Ministro Carlos Agostinho do Rosário, garantiu que, apesar da conjuntura atual representar um desafio, o país está a responder positivamente às medidas macroeconómicas de incentivo à produção: "O ritmo de recuperação da nossa economia leva-nos a perspetivar uma taxa de crescimento económico de 4,7% no presente ano de 2017”, disse o chefe do Governo, apontando para uma redução da taxa e inflação anual "que passou de cerca de 26% em novembro de 2016 para os atuais 14% em agosto último”.
Para Carlos Agostinho do Rosário a recuperação da economia é resultado da paz que se vive no país, da implementação de medidas de política fiscal e monetária em curso, aliado ao aumento da produção e produtividade, em particular no setor da agricultura.
Medidas que urge tomar em África
O relatório do Banco Mundial, que analisa as perspetivas da África subsaariana, projeta para a região este ano um crescimento moderado de 2,4% contra 2,3% em 2016. O economista Chefe do Banco Mundial para África, Albert Zeufack, afirmou: "A boa notícia é que África está a recuperar da pior situação em que atravessou em duas décadas”.
Zeufack considerou, no entanto, "imperioso que os países africanos adotem políticas fiscais adequadas e medidas estruturais agora, para fortalecer a resiliência económica, aumentar a produtividade, o investimento e promover a diversificação económica”.
Prioridade para os recursos humanos
Moçambique: Banco Mundial - MP3-Mono
O economista do Banco Mundial David Evans defendeu que para reduzir a pobreza e fomentar a inclusão, os países da África subsaariana devem apostar mais na qualificação dos recursos humanos. Evans apontou a título de exemplo a área da educação.
Os dados divulgados no relatório indicam que em África uma em cada três crianças não consegue concluir o ensino primário escolar. Em grande parte dos países menos de 50% das crianças completam o ensino secundário e menos de 10% têm acesso às universidades. "A maior parte dos professores com quem interagi em diversos países tem grande desejo de ensinar bem, mas carece de formação contínua. Eles têm as qualificações desejadas, mas precisam de mais elementos motivacionais para ensinar efetivamente. É preciso apostar em professores de qualidade,” disse David Evans.
As maiores barragens de África
Nilo, Congo, Zambeze: os rios africanos guardam grande potencial para a produção de energia. Os governos reconhecem isso e apostam cada vez mais em megaprojetos. Um panorama das maiores centrais hidroelétricas de África.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Grande Represa do Renascimento, na Etiópia
No sudoeste da Etiópia, está a ser erguida aquela que será a maior barragem de África. A construção da Grande Represa do Renascimento começou em 2011 e deve ser concluída em 2017. A barragem localiza-se perto da fronteira com o Sudão, no Nilo, e terá uma potência de 6.000 megawatts (MW). O reservatório será um dos maiores do continente, com capacidade para armazenar 63 quilômetros cúbicos de água.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Represa Alta de Assuão, no Egito
A Represa Alta de Assuão é atualmente a barragem mais potente de África. Está localizada perto da cidade de Assuão, no sul do Egito. O lago atrás da barragem pode armazenar até 169 quilómetros cúbicos de água. Seu maior afluente é o Rio Nilo. As turbinas têm uma capacidade de 2.100 megawatts. A construção durou onze anos e a inauguração foi em 1971.
Uma das maiores barragens do mundo está localizada na província de Tete. A hidroelétrica Cahora Bassa, no rio Zambeze, tem uma potência de 2.075 megawatts, pouco menos que a Represa Alta de Assuã, no Egito. A maior parte da energia gerada é exportada para a África do Sul. No entanto, sabotagens durante a guerra civil impediram a produção de eletricidade por mais de dez anos, a partir de 1981.
Foto: DW/M. Barroso
Represa Gibe III, na Etiópia
A barragem Gilgel Gibe III fica 350 quilômetros a sudoeste da capital etíope, Addis Abeba. Foi concluída em 2016 e pode gerar um máximo de 1.870 megawatts, tornando-se a terceira maior barragem em África. A construção durou quase nove anos e foi financiada a 60% pelo Banco de Exportação e Importação da China, China Exim Bank.
Foto: Getty Images/AFP
Kariba, entre a Zâmbia e o Zimbabué
A barragem de Kariba fica na garganta do rio Zambeze, entre a Zâmbia e o Zimbabué. Tem 128 metros de altura e 579 metros de comprimento. Cada país tem sua própria central eléctrica. A estação norte, da Zâmbia, tem capacidade total de 960 megawatts. A estação sul, do Zimbabué, tem capacidade total de 666 megawatts. As obras de expansão em 300 megawatts começaram em 2014 e devem terminar em 2019.
Foto: dpa
Inga I e Inga II na RDC
As barragens Inga consistem de duas represas. Inga I tem capacidade para produzir 351 megawatts e Inga II, 1424 megawatts. Foram encomendadas em 1972 e 1982, como parte do plano de desenvolvimento industrial do ditador Mobutu Sese Seko. Mas, atualmente, atingem apenas 50% de seu potencial energético.
Foto: picture-alliance/dpa
Inga III
Inga I e Inga II localizam-se perto da foz do rio Congo e ligadas às cataratas Inga. O governo congolês já planeia o lançamento de Inga III, com custo de 13 mil milhões de euros e capacidade de 4.800 megawatts. Juntas, as três barragens seriam a central hidroelétrica mais potente de África.
Merowe no Sudão
O Sudão também depende fortemente de energia eólica com duas grandes barragens no país: Merowe no Rio Nilo (na foto) tem uma capacidade de 1.250 MW e foi construída por uma empresa chinesa. Ainda maior é a barragem de Roseires no Nilo Azul, que desde a sua construção em 1966 foi várias vezes ampliada e conta atualmente com turbinas que têm uma potência total de 1.800 MW.
Foto: picture-alliance/dpa
Akosombo, no Gana
A oitava maior barragem de África é Akosombo, no Gana. Construída na garganta do Rio Volta, a represa teve como resultado o Lago Volta - o lago artificial do mundo, com área de 8.502 quilómetros quadrados. As seis turbinas têm uma capacidade combinada de 912 megawatts. Além de gerar eletricidade, a barragem também protege contra inundações.
Foto: picture-alliance / dpa
Represa Tekezé, na Etiópia
Outra represa grande de África está localizada na Etiópia. A barragem Tekeze encontra-se entre as regiões de Amhara e Tigré. Apesar de seus impressionantes 188 metros de altura, a capacidade máxima da hidrelétrica é de 300 megawatts e, assim, apenas um vigésimo da potência da Grande Represa do Renascimento. A represa entrou em funcionamento em 2009.