A banda Os Kassimbos, da província do Niassa, norte de Moçambique, está de malas prontas para Macau, na China. Irá levar a música tradicional ligeira de Moçambique ao Festival Internacional de Música dos PALOP.
Publicidade
Criada em 2001 por um grupo de jovens, a banda Os Kassimos está a caminho de sua primeira internacionalização, a convite de Macau, na China. Depois de ter participado cinco vezes consecutivas no Festival Nacional da Cultura, irá apresentar-se no Festival Internacional de Música dos PALOP (Países Africanos de Língua Portuguesa), a 8 de outubro.
Será a realização de um sonho, avançou Augusto Murtahane, líder da banda Os Kassimbos, do Niassa.
"O sentimento é maior, vendo que é uma das primeiras internacionalizações da própria banda. É enorme estarmos num festival em que Moçambique vai ser representado pelos Kassimbos", revelou.
"Fomos sorteados e pode vir a acontecer sim...de sermos sorteados, porque Moçambique tem um leque de artistas bons, bandas melhores e não quer dizer que a escolha tenha sido má", acrescentou Murtahane.
Banda Kassimbos - MP3-Stereo
Ritmos e vestes tradicionais
Com vestes de cascas de árvores, caraterística peculiar de Os Kassimbos, também chamados de Matakas no Niassa, o grupo tem como raízes a música tradicional ligeira e pauta-se pela promoção da cultura do povo do Niassa e de Moçambique em geral.
"Nós estamos a trazer um traje que os nossos antepassados vestiam. Estamos a falar da casca de árvore que praticamente, como estamos a ir à modernidade, dificilmente vamos ver aquilo que os nossos antepassados faziam", considera.
De acordo com Augusto Murtahane, líder da banda, o convite de Macau veio dinamizar o grupo. Os músicos estão a trabalhar a todo gás, com vista a representar Moçambique condignamente.
Augusto Murtahane garante que Os Kassimbos vão levar para Macau ritmos típicos da província do Niassa como o prato forte.
"Primeiro é levar o prato de casa, que é Niassa. Temos ritmos como macangem, chióda e nganda, que é o mais forte. Também levamos um pouco do sul da Província do Niassa. Estamos a falar de entapete, dança bene e também toca-se pouco lá no sul ecatana e chawarara," enumerou.
Para além destes ritmos do Niassa, o líder assegurou à DW África que a banda Os Kassimbos vai levar também ritmos que marcam a nacionalidade moçambicana, com destaque para o tufo, mapiko, xigubo e a marrabenta - ritmos típicos das regiões norte, centro e sul de Moçambique.
Augusto Murtahane está satisfeito com a participação de Os Kassimbos no Festival Internacional de Música dos PALOP, onde a banda vai promover a cultura do Niassa.
"O ganho para o país é tentarmos levar aquilo que Moçambique faz a nível da cultura para o mundo, vendo que todos os olhos estarão postos para esse festival que o mundo abarca", avaliou.
"Nós não queremos ficar surpreendidos, porque estão lá também outros países a se preparar condignamente. Nós queremos demonstrar que somos Moçambicanos, nós temos ritmos que dão para explorar - que o mundo venha explorar também cá, a nível cultural", frisou Murtahane.
Os Kassimbos não são a primeira banda da província do Niassa a participar no festival. Os Massukos também já representaram Moçambique no evento que junta representantes dos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP).
O som da Beira: djembês de Moçambique
Djongue é percussionista profissional na Beira e membro de várias bandas. Nos últimos cinco anos, Djongue ensinou a si mesmo como construir djembês, tambores originários da África Ocidental.
Foto: Gerald Henzinger
O construtor de djembês
Djongue é percussionista profissional na Beira e membro de várias bandas. Nos últimos cinco anos, Djongue ensinou a si mesmo como construir djembês. Para produzir esses tambores originários da África Ocidental, Djongue precisa de madeira, pele de cabra, três aneis de ferro, um pedaço de pano e uma corda resistente.
Foto: Gerald Henzinger
Busca por especialistas
Djongue procura alguém que saiba fabricar os tradicionais "pilões de milho", que têm formas parecidas com um djembê. Um vendedor que comercializa esses pilões leva o percussionista a um mestre da produção da ferramenta de moagem. O mestre mora no vilarejo de Macuacua, a 80 km da cidade da Beira, na mata da província central de Sofala.
Foto: Gerald Henzinger
Um marceneiro na floresta
Alberto é mestre marceneiro e especialista na produção dos trituradores "pilão". Sua oficina fica debaixo de uma árvore. Sua ferramenta é um machado de ferro. Com métodos simples, ele trabalha pedaços maciços de madeira, formando as bases para a produção de pilões e tambores.
Foto: Gerald Henzinger
Negócio fechado!
O marceneiro Alberto concorda em fornecer bases de madeira para a fabricação de tambores. Djongue combina o preço de três bases com Alberto, que este deverá entregar num prazo de duas semanas.
Foto: Gerald Henzinger
Nos fundos do açougue
A membrana esticada na parte superior do tambor é de pele de cabra, que Djongue compra nos fundos de um açougue na Beira. Uma cabra inteira custa entre 600 e mil meticais (entre 20 e 35 euros). Quase toda a cabra é destinada à alimentação. As tripas fazem sucesso entre os consumidores.
Foto: Gerald Henzinger
O valor de uma cabra
Em Moçambique, a pele de uma cabra não costuma ser reaproveitada. Portanto, Djongue paga apenas dez meticais (30 centavos de euro) pela pele, que ele vai limpar e esticar sobre o tambor, assim que os aneis de ferro estiverem prontos.
Foto: Gerald Henzinger
Primeiros ajustamentos
Uma serralharia e uma oficina mecânica funcionam neste mesmo local na Beira, a segunda maior cidade de Moçambique. É aqui que Djongue encomenda os aneis de ferro para o djembê. São estes aneis que vão manter a pele de cabra esticada sobre o tambor.
Foto: Gerald Henzinger
Trabalho em equipa
A oficina é equipada com um maçarico e várias ferramentas de serralharia. Djongue precisa de comprar o material bruto para os aneis de ferro no mercado ou numa loja de materiais de construção, e trazê-lo para a oficina.
Foto: Gerald Henzinger
Paciência e precisão
Os três aneis são ajustados individualmente ao djembê. O ferro de dez milímetros de espessura precisa de ser encurvado. Se o anel ficar muito grande, é preciso cortar um pedaço dele. Se ficar muito pequeno, é preciso enxertar um pedaço no ferro. O processo é aplicado até que todos os três aneis caibam perfeitamente na base.
Foto: Gerald Henzinger
Mais um ingrediente
Djongue compra as cordas para o tambor no Mercado da Praia Nova, na periferia da Beira. Após negociar, ele compra dez metros de corda por 140 meticais (cerca de 4,50 euros).
Foto: Gerald Henzinger
Começa a montagem
Agora, Djongue tem todos os componentes do djembê. Só precisa de montar o tambor. Mas isso não é tão fácil quanto soa. A pele de cabra é ligeiramente esticada sobre a base – e precisa de secar durante uma semana.
Foto: Gerald Henzinger
Atenção ao detalhe
Ainda é preciso retirar os pelos da pele de cabra antes que se possa batucar no tambor. Com um caco de vidro, Djongue raspa minuciosamente a superfície da pele de cabra até que esta fique completamente lisa. Ele precisa de estar atento, porque a pele é fina e o caco, afiado.
Foto: Gerald Henzinger
Já tem dono
O djembê agora só precisa de ser completamente esticado para ficar pronto. Este djembê será vendido a uma funcionária europeia. Djongue vendeu-lhe tanto o tambor quanto uma aula de percussão.
Foto: Gerald Henzinger
Construindo o futuro
Djongue estabeleceu uma pequena rede de fornecedores e de entrega de djembês em Beira. Os djembês de Djongue são cobiçados especialmente pelos estrangeiros que trabalham na Beira. Um djembê custa 4 mil meticais, o equivalente a 130 euros. Djongue está a economizar para abrir uma loja na Beira.