Bank of America suspende venda de dólares a bancos angolanos
30 de novembro de 2015Segundo a agência de notícias Reuters, o Bank of America, entidade que mais fornecia dólares aos bancos angolanos, suspendeu esta segunda-feira (30.11) a venda de dólares norte-americanos a Angola.
O Rand Merchant Bank, da África do Sul, que fornece as notas do Bank of America a Angola, também anunciou na semana passada que um banco norte-americano tinha decidido parar de vender dólares, mas não citou nomes.
Em entrevista à DW África, o economista Carlos Rosado de Carvalho disse que a notícia afeta a reputação dos bancos angolanos e de Angola, em geral. "Os bancos angolanos, aparentemente, não conseguem justificar o destino das notas que vêm para Angola e que desaparecem."
DW África: O que é que significa esta suspensão de vendas de dólares deste banco para o bolso do consumidor comum?
Carlos Rosado de Carvalho (CC): A principal consequência é o facto de o dólar no mercado informal provavelmente ficar mais caro porque é sobretudo esse mercado que vive das notas físicas. Portanto, havendo uma menor oferta de notas físicas o que seguramente vai acontecer é o aumento da taxa de câmbio no mercado informal. O kwanza vai desvalorizar, que é aliás uma coisa que se tem sentido nos últimos dias. Esse é o efeito mais direto. Depois haverá outros constrangimentos, nomeadamente para os angolanos que vão viajar e eles normalmente precisariam de notas para levarem consigo para os países de destino. Isto é algo que pode ser ultrapassado porque, por exemplo, alguém que tenha conta no estrangeiro não precisa de levar dinheiro consigo. Quem tenha cartão de crédito ou de débito internacional também não precisará teoricamente de levar dinheiro porque pode abastecer-se de dinheiro com os respetivos cartões.
DW África: Portanto, uma forma de ultrapassar esta questão é, por exemplo, através de transferências bancárias e do uso de cartões. Ou optar pelo euro?
CC: Eventualmente os bancos terão uma maior disponibilidade de euros. Mas a disponilidade não será assim tão grande. E o problema não é substituir-se uma moeda por outra. O problema é justamente acabar com essas transações em moeda estrangeira física que não faz sentido absolutamente nenhum.
DW África: O que estará por detrás desta decisão de suspensão?
CC: Quem compra as cédulas são os bancos angolanos e aparentemente os bancos angolanos não conseguem justificar o destino dos dólares que chegam ou que venham para Angola e que desaparecem. O que acontece é que a Reserva Federal e os Estados Unidos têm regras muito restritas sobre este assunto. O Bank of America está sujeito a multas, a penalidades por parte da Reserva Federal e não quer correr esse risco. Basicamente é esse o problema que se supõe esteja na origem porque não há de facto nenhuma declaração oficial, seja do Bank of America seja também do banco sul-africano.
DW África: Portanto, de alguma forma a credibilidade do sistema financeiro angolano é posta em causa com esta decisão.
CC: Acho que este é o principal problema desta decisão, que de facto não deixa de afetar a situação dos bancos angolanos e de Angola em geral. Porque significa dizer que não temos controlo sobre as notas que recebemos ou pelo menos não conseguimos explicar isso aos bancos fornecedores. Essa terá sido a razão e, portanto, existe aqui um risco reputacional. Acho que se fosse uma suspensão decidida pelas autoridades angolanas até seria uma coisa razoável porque as transações internamente devem ser conduzidas em kwanzas. As transações em dólares deveriam ser exceções e não com valores da ordem de grandeza que se tem falado: seis mil milhões de dólares anuais, que entretanto teriam caído para cerca de metade (três mil milhões), mas que são ainda valores muito elevados. Quem quer transacionar ou faz transações com dinheiro vivo são normalmente transações ligadas a atividades criminosas e portanto não tenho dúvida nenhuma sobre isso. Obviamente haverá, como disse, angolanos que viajam para o exterior que precisam de notas e moedas, mas seriam valores muito mais baixos do que esses que estamos a falar.