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Beira: Edil admite falhas no estudo de impacto da EN6

Arcénio Sebastião (Beira)
5 de abril de 2022

Segundo as autoridades, o projeto de construção da Estrada Nacional 6 eliminou condutas de água que permitiam escoar águas pluviais. Bairros da cidade da Beira têm sido ciclicamente afetados por fortes inundações.

Cidade da Beira sofre com alagamentos no período chuvoso (Foto de arquivo / 2021)Foto: AP Photo/picture alliance

Os moradores de alguns bairros da cidade da Beira têm sido ciclicamente afetados por fortes inundações, principalmente nas épocas chuvosas. 

No final de março, por exemplo, após chuvas torrenciais, muitas famílias foram evacuadas de emergência para centros de acomodação e zonas habitacionais continuaram alagadas. 

No centro deste problema está a Estrada Nacional nº6 (EN6) que nasce no coração da Beira e percorre cerca de 15 quilómetros da cidade, em direção a Machipanda.

Segundo as autoridades, o projeto de construção da estrada eliminou condutas de água, construídas no tempo colonial, com diâmetro maior para permitir a comunicação das águas pluviais até ao oceano Índico.  

"Temos um cenário que vai ser um cenário crónico", admite o edil da Beira Albano CarigeFoto: Privat

Erro no estudo

A DW África apurou que o estudo de viabilidade que permitiu a edificação desta empreitada foi concluído em 2012, ou seja, três anos antes do arranque das obras. De lá para cá, a ocupação de solo urbano para habitação e implantação de indústrias aumentou significativamente na região. 

O edil Albano Carige considera que houve erro no estudo de impacto ambiental para a construção da estrada.

"Temos um cenário que vai ser um cenário crónico. Na altura da reabilitação da EN6 provavelmente isto passou a todos nós, quer as estruturas centrais,  quer municipais. Estamos perante mudanças climáticas, a quantidade de chuva que cai neste momento, em muito pouco tempo, é bastante maior e as seções de esvaziamento de água de uma margem para outra são bastante pequenas", admite.

"Temos sofrido bastante"

Na zona da Manga Loforte, bem próximo a EN6, Sérgio Batalhão e Fernando Maveto vivem situações dramáticas sempre que chove.

Moradores queixam-se que as inundações pioram de 2020 para cá e a situação é insustentável Foto: REUTERS

"Estamos a sofrer bastante, bastante mesmo. Há pessoas que estão a dormir fora, vão [dormir] na escola devido a essas inundações", explica Batalhão.

"As águas antes passavam da escola Massange, então esvaziava para outra zona de Ndunda. Posteriormente acabavam no rio ladrão. Mas a estrada criou uma barreira para as águas que saem da Chemba, Mobeira, posteriormente zona Empacol", lamenta Maveto.

Luísa Joaquim mora há catorze anos no bairro da Manga Mascarenhas, próximo ao centro da cidade, e conta que os últimos seis anos foram críticos. Sempre que chove as águas pluviais inundam o interior da sua residência. "É por causa destas empresas, que nem estão a colocar nenhuma drenagem. Nós já fomos para o município, as pessoas do município já vieram aqui, as pessoas já vieram reclamar", queixa-se a moradora.

Cacilda Vasco também mora no mesmo bairro e conta que anteriormente a comunidade não sofria inundações: "Nunca acontecia isto. Desde 2020 é que estamos a sofrer assim. Este ano foi o pior porque desde que começou a chover, o nível da água chega a ultrapassar a altura dos nossos joelhos dentro de casa. Não temos como viver". 

Cidade da Beira durante a passagem do ciclone Eloise (Foto de arquivo / 2021)Foto: Michael Jensen/AP Photo/picture alliance

Planeamento urbano

Entretanto, o analista Samuel Simango aponta outras explicações para a origem das inundações constantes na cidade da Beira. "Uma delas é aquela que nós já conhecemos que é das mudanças climáticas", diz.  

"Outra explicação que para mim é a mais coerente e a mais científica é o facto de, ao nível da cidade da Beira, não se ter feito um planeamento urbano técnico e cientificamente correto. Isto porque na Beira há muitas construções desordenadas, há muita ocupação humana de construções de edifícios em lugares que outrora eram lugares de passagem de águas. Aquelas bacias de retenção de águas naturais praticamente estão todas obstruidas", justifica Simango.

O autarca da Beira diz que para corrigir os erros do passado vai ter de recorrer ao Governo central. "Temos de começar a tentar desenhar projetos de como ir buscar dinheiro junto ao Governo central. Como sabem, a estrada nacional número seis é do âmbito central".

O analista Samuel Simango sugere uma responsabilização tripartida para evitar  mais erros no futuro. "Toda a falha governativa tem que ser responsabilizada a quem governa evidentemente. Acho que aqui há uma responsabilidade partilhada do Governo provincial, Governo da cidade e até da própria administração da cidade da Beira", reitera.

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