Benedito Daniel preocupado com intolerância em Angola
Manuel Luamba
17 de julho de 2017
Em pré-campanha na província do Bié, este sábado (15.07), cabeça de lista do PRS defendeu que "com intolerância política não se realizam eleições justas" e voltou a prometer mudanças com base no sistema federalista.
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O comício do Partido de Renovação Social (PRS) foi antecedido por outras atividades político-partidárias promovidas, na sexta-feira (14.07), quando o cabeça de lista do partido às eleições gerais de 23 de agosto, Benedito Daniel, manteve encontros com o governador local e autoridades eclesiásticas.
Neste sábado (15.07), realizou-se um ato de massa, na cidade do Kuito. O candidato a Presidente da República apresentou aos eleitores locais as suas estratégias eleitorais que se assentam na istituição do sistema federalista em Angola.
Falando diante do público que se reuniu no campo do Vitória, equipa local de futebol, Benedito Daniel apelou ao apoio dos eleitores: "Sem o vosso voto, os nossos objetivos não serão materializados".
Segundo o candidato do PRS, "com a implementação do federalismo como sistema de Governo," poderá se combater o índice de desemprego em Angola.
Pleito justo, livre e transparente
Em seu discurso, Benedito Daniel centrou-se também nos alegados atos de intolerancia política reportados pelo Secretário Provincial do seu partido no Bié, António Armando.
"Com intolerância política não se ralizam eleições justas," disparou, referindo-se à recente retirada das bandeiras do PRS das ruas da cidade.
No princípio deste ano, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, apelou à convivência na diferença, para que as eleições gerais em Angola sejam livres e transparentes. "Bié não está a obedecer as orientações do chefe de Estado angolano, quando apelou à tolerância nas eleições," criticou o político do PRS, acrescentando que "os angolanos estão condenados a viver em conjunto," ou seja, na diferença.
Depois do Huambo e Bié, Benedito Daniel ruma para o Cuando Cubango, onde também vai apresentar o seu manifesto eleitoral aos cidadãos locais.
Entre os vestígios da guerra e a modernidade
A província angolana do Bié é uma das regiões asssoladas pelo conflito armado que o país registou. Na cidade do Kuito, ainda são visiveis os vestígios da guerra. Alguns edifícios ainda apresentam sinais de projéteis. É o caso do antigo prédio do Hotel Girão.
Agora, a instituição hoteleira funciona num prédio adjacente. "Depois do conflito armado, o Governo implementou um projeto que visava acabar com os sinais de guerra na província. Muitos sinais já foram retirados," disse um cidadão contatado pela DW África.
Os semáforos da cidade estão em pleno funcionamento e são alimentados por placas solares – um sinal de modernidade em meio a edifícios em ruína. À semelhança do Huambo, nas ruas do Kuito, o barulho das motorizadas faz o dia-a-dia dos citadinos. Elas são o principal meio de transporte para a população de baixa renda.
Dez anos de paz em Angola
No dia 4 de Abril de a 2002 foi assinado o acordo de paz entre o governo do MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola - e a UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola - , as duas formações políticas que mais influência tinham e têm no país. Dez anos depois, o que como está o país em termos de democracia, desenvolvimento humano, económico e social?
Foto: AP
À terceira foi de vez
A 4 de abril de 2002, o chefe das forças armadas do governo do MPLA, General Armando da Cruz Neto (esq.), e o chefe do estado-maior da UNITA, General Abreu Muengo Ukwachitembo Kamorteiro, trocam o acordo de paz assinado na Assembleia Nacional, em Luanda. Foi o terceiro acordo entre estas duas frações da guerra civil em Angola depois de Bicesse (Portugal) em 1991 e Lusaka (Zâmbia) em 1994.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
Como tudo começou
A guerra começou com a luta contra o poder colonial. Em 1961 vários grupos lutaram contra os portugueses. O MPLA, apoiado pela ex-União Soviética e por Cuba foi um desses grupos, assim como a UNITA que, inicialmente, teve o apoio da China, e a FNLA que teve o apoio de Mobuto Sese Seko, na altura presidente do então Zaire. Na foto: soldados portugueses em Angola no ano de 1961.
Foto: AP
Guerra entre iguais
Após a saída dos portugueses e a independência formal, a 11 de novembro de 1975, os três movimentos de libertação MPLA, UNITA e FNLA entraram em conflito. O MPLA de orientação marxista contou com apoio soviético e cubano. A UNITA recebeu apoio dos Estados Unidos da América e de tropas sul-africanas.
Foto: picture-alliance/dpa
Refugiados de guerra
Segundo dados do ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 600 mil angolanos refugiaram-se no estrangeiro e cerca de 4 milhões dispersaram-se pelas regiões do próprio país. Na fotografia: refugiados angolanos num acampamento próximo do Huambo no ano de 1999.
Foto: picture-alliance / dpa
Retirada dos soldados cubanos
O general cubano Samuel Rodiles, o general brasileiro Péricles Ferreira Gomes, chefe de um grupo de observadores da ONU e o general angolano Ciel Conceição, a 10 de janeiro de 1989 (da esq. a dt.). Dia em que os primeiros três mil soldados cubanos sairam do país. A retirada foi fixada num acordo assinado em 1988, entre a África do Sul, Cuba e Angola. Cuba orientava o MPLA militarmente desde 1975.
Foto: picture-alliance/dpa
Apoio da ex-República Democrática da Alemanha ao governo do MPLA
O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, visitou no dia 14 de outubro de 1981 o Muro de Berlim do lado da Alemanha Oriental (RDA). Na Porta de Brandemburgo, recebeu as saudações das tropas de fronteira da República Democrática da Alemanha do Tenente-General Karl-Heinz Drews.
Foto: Bundesarchiv
Primeira tentativa falhada em 1991 e 1992
Depois do acordo de paz de Bicesse (Estoril, Portugal) de 1991, realizaram-se as primeiras eleições presidências do país em 1992. O candidato do MPLA, José Eduardo dos Santos, saiu vencedor, mas sem maioria absoluta na primeira volta. Jonas Savimbi, o líder da UNITA, não aceitou o resultado e nunca chegou a haver uma segunda volta das eleições. A guerra continuou.
Foto: dapd
Segunda tentativa falhada em 1994
Depois do acordo falhado de Bicesse (Portugal) de 1991, houve uma segunda tentativa em Lusaka, na Zâmbia, no ano de 1994. O presidente da Zâmbia, Frederick Chiluba (centro), levanta as mãos do presidente angolano, José Eduardo dos Santos (esq.), e do chefe do movimento de guerrilha UNITA, Jonas Savimbi. Eles celebram o protocolo de Lusaka, mas o país acabou por entrar novamente em guerra.
Foto: picture-alliance/dpa
A morte de Jonas Savimbi
Fevereiro de 2002: Jonas Savimbi, o líder da UNITA, é morto pelos soldados governamentais no leste de Angola. Com a morte da pessoa, que era considerada a mais carismática da oposição em Angola, abriu-se uma nova oportunidade para a paz.
Foto: AP
Paz sem satisfação
Desde 2011 jovens saem às ruas, um pouco por todo o país, para protestar contra os 32 anos de governo do MPLA. Exigem eleições livres e transparentes e o fim do governo de José Eduardo dos Santos. Na imagem: manifestantes em Benguela.
Foto: DW
Petróleo e pobreza
Após 10 anos de paz, petróleo e pobreza abundam no país. De acordo com as Nações Unidas, o petróleo representa 96% das exportações do país. No entanto, de acordo com o Banco Mundial, em 2010, uma em seis crianças morria nos primeiros cinco anos de vida e grande parte da população angolana continua a viver na pobreza. (Autora: Carla Fernandes; Edição: Johannes Beck)