Agente da Policia Nacional, em Benguela, alvejou mortalmente um mototaxista que se opunha à apreensão da sua motorizada, tendo o assassínio provocado uma onda de protestos violentos.
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O mototaxista Manuel Antonio, 29 anos, baleado no abdómen, foi ainda levado e socorrido no Hospital Geral de Benguela, acabando por falecer minutos depois. O caso esta segunda-feira (04.09) deu origem a uma onda de protestos violentos contra os agentes da Policia Nacional, que foram atacados com arremessos de pedras e outros objetos. A corporação abriu um inquérito para investigar o caso.
Vários manifestantes e colegas da vítima contam que tudo terá acontecido devido à negação do motoqueiro de entregar a sua motorizada ao ser apreendida pela polícia.
"O motoqueiro não aceitou entregar a moto aos agentes da polícia e então todos os mototaxistas da Cidade de Benguela uniram-se para que o colega não ficasse privado da sua moto", disse um dos colegas. Um outro mototaxista confiou à DW que "mataram o nosso irmão, devido à greve que fizemos para não apreenderem as nossas motos".
Apupos contra o MPLA
No final, não sobraram apupos contra o partido governante, uma vez que, para esses cidadãos as forças de segurança estão ao serviço do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e não do país.
"MPLA fora! MPLA fora! MPLA fora! É assim, nós ainda não temos Governo neste momento, então, de onde é que vem essa ordem de mandar prender os motoqueiros? A polícia é do Governo ou do MPLA? Como é que a polícia mata um cidadão?"
04.09.2017 OPolícia-mototaxista - MP3-Mono
A cobrir os protestos estiveram os correspondentes da Voz da América (VOA) e da Rádio Despertar, João Marcos e Horácio dos Reis, respetivamente. Ambos, foram agredidos fisicamente por agentes da Polícia Nacional, tendo mais tarde sido impedidos de continuarem a reportar o acontecimento. O correspondente da Voz da América acabou por sair ferido na contenda com os agentes da corporação.
"Fomos confrontados por alguns agentes da polícia, inclusive, um dizia de uma maneira arrogante que era o comandante e exigiu o nosso material de trabalho, mas dissemos que não estávamos a fazer nada à margem da lei. Fui vítima de vários empurrões e fiquei com um pequeno ferimento na minha perna esquerda depois daqueles empurrões", relatou o jornalista.
Comissão de inquérito para averiguar os factos
Entretanto, o Comando Provincial da Policia Nacional já se pronunciou. O porta-voz Intendente Pinto Caimbambo, sem revelar a identidade do autor dos dísparos, que já se encontra detido, deu a conhecer que foi criada uma comissão de inquérito para averiguar o caso.
"Para que possamos ter mais elementos e averiguar os factos, foi criada uma comissão de inquérito composta pelo serviço de Investigação Criminal e a inspeção do Comando Provincial da Policia. Vamos apurar quais foram as razões que estiveram na base do sucedido, e deste modo penso que mais elementos poderão estar na base desse processo".
Cinemas únicos em Angola
São obras únicas vistas pela lente do fotógrafo angolano Walter Fernandes - cinemas e cine-esplanadas desconhecidos de muitos. As fotos foram reunidas em livro e estão em exposição em Lisboa, a partir desta semana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
"Uma ficção da liberdade"
O Cine Estúdio do Namibe inspira-se nas obras do arquiteto Oscar Niemeyer. É um dos edifícios únicos de Angola destacados no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" e fotografados por Walter Fernandes. Esta é uma das imagens em exposição no Goethe-Institut de Lisboa que revelam uma arquitetura desconhecida por muitos de cinemas construídos antes do fim do domínio colonial português.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Património mal preservado
O Cine Tômbwa, também no Namibe, obedece a uma lógica de salas fechadas, mas já apresentava algumas linhas mais modernas. Segundo o fotógrafo Walter Fernandes, o edifício foi construído com materiais "sui generis". Mas o património herdado está muito mal preservado, lamenta o angolano.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Moçâmedes: A pérola do Namibe
No Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes) nota-se bastante a influência da arquitetura do regime ditatorial português, o Estado Novo. Este é considerado um dos cinemas angolanos mais antigos e também aparece no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", apadrinhado pelo Goethe-Institut em Luanda e pela editora alemã Steidl.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Conceito futurista
O arquiteto Botelho Pereira não só desenhou o Cine Estúdio do Namibe, como também o Cine Impala. Botelho Pereira inspirou-se no movimento deste antílope e planeou espaços abertos e arejados, de forma futurista. O livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" também destaca estas cine-esplanadas, que ganharam popularidade a partir de 1960 por se adaptarem mais ao clima tropical do país.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Cinema-esplanada para as elites
Este é um dos cinemas preferidos de Miguel Hurst, um dos editores do livro "Angola Cinemas". Foi aqui, no Cine Kalunga, em Benguela, que se pensou em fazer a obra. Cine-esplanadas como esta adequavam-se mais ao clima, mas serviam também um propósito do regime português - criar locais de convívio entre as populações locais e os colonos. A elite branca e a pequena burguesia negra vinham aqui.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
A "grande sala"
A "grande sala" de Benguela era o Monumental - pelo menos, ganhou essa reputação. Os colonizadores portugueses construíram o Cine-Teatro nesta cidade costeira pois evitavam o interior do país - normalmente, as companhias portuguesas só atuavam nas grandes cidades da costa angolana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Imperium: "Art decó" em Benguela
Aqui, são imediatamente visíveis traços da passagem da "art decó" (um estilo artístico de caráter decorativo que se popularizou na Europa nos anos 20) para o modernismo. O interior do Cine Imperium, fotografado por Walter Fernandes, representa bem essa mistura estética, com os cubos, retas, círculos e janelas. Benguela tinha várias salas, porque era das províncias mais populosas de Angola.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
O arquiteto que pensava as cidades
Este é o interior do Cine Flamingo: mais uma pérola da província de Benguela. A parte de trás é uma esplanada. Sentado, o espetador está em contacto com a natureza, mas não está exposto. Até hoje, a estrutura mantém-se, mas o espaço está um pouco vandalizado. Miguel Hurst sublinha a importância de manter obras como esta do arquiteto Francisco Castro Rodrigues, um homem que pensava cidades.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Primeiro cine-teatro de Angola
"O Nacional" Cine-Teatro foi a primeira sala construída em Luanda, no início do Estado Novo, nos anos 40. Esta é uma das imagens patentes na exposição no Goethe-Institut em Lisboa. A mostra pretende ser "um testemunho do modo como estes edifícios constituíam um enquadramento elegante que sublinhava uma simples ida ao cinema, promovendo assim a reflexão sobre esta herança sociocultural e afetiva."
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Memória para gerações futuras
Os irmãos Castilho são os principais responsáveis pela introdução das cine-esplanadas em Angola. A primeira da sua autoria foi o Miramar, encostado a uma ribanceira virada para o mar em Luanda. Depois surgiu o Atlântico, na foto. Para os autores do livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", este é um documento de memória que pode ser útil para as futuras gerações.