Berlim ainda recusa desculpar-se pelo massacre contra povo herero
21 de março de 2014 Segundo a presidente da Fundação ‘Genocídio dos Herero’, Utjiua Muinjangue, não há outra palavra para descrever quando [os alemães] violaram as mulheres e cortaram as cabeças dos [seus] antepassados”.
Acabam de chegar ao aeroporto de Windhoek os restos mortais de membros do povo herero, vindos das coleções históricas do hospital Charité, em Berlim, e da Universidade de Friburgo.
Em 1904, a Alemanha travou uma sangrenta guerra colonial contra a população herero e nama, que se revoltou. Milhares foram enviados para o deserto, onde morreram de sede. Ou então foram baleados quando voltavam. Foi assim que, no espaço de quatro anos, os alemães eliminaram cerca de 80 por cento da população herero. Os ossos de muitas vítimas foram enviados para a Europa, para pesquisa.
Crânios “esquecidos”devolvidos à Namíbia
Andreas Winkelmann, do hospital Charité, explica que se tratava, em parte de coleções esquecidas e que a sua problematização surgiu nos últimos anos: “isso tem muito a ver com a questão da consciencialização na sociedade alemã em geral”, afirma Winkelmann, “os alemães lembram-se muito pouco do tempo colonial”.
O investigador encara o retorno dos restos mortais como uma oportunidade de o próprio hospital Charité lidar com o seu próprio passado. É um exemplo que o Governo alemão não parece estar a seguir, refere Israel Kautanatjike, da organização não-governamental de Berlim 'O genocídio não prescreve'. Kautanatjike diz querer um pedido de desculpas do Governo, “que ainda não ouvimos até hoje. Não me posso reconciliar com alguém, se não me pedirem desculpas”.
Associações pedem há anos que Berlim reconheça os seus crimes de guerra
Associações de vítimas lembram que o massacre contra os herero e nama foram apelidados pelas Nações Unidas de primeiro genocídio do século passado. As associações reclamam indemnizações para comprar de volta as terras expropriadas. Mas o Governo alemão recusa-se a pagá-las. O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão frisa que, desde a independência da Namíbia, os governos alemães manifestaram sempre a responsabilidade histórica, política e moral para com a Namíbia – que se traduz nomeadamente no reforço da cooperação bilateral.
Se o Governo pedisse desculpas oficialmente, “isso teria consequências legais”, explica o politólogo Henning Melber, “seria uma admissão de culpa”. Se a Alemanha o fizesse, portanto, poderia abrir um precedente e "outros antigos poderes coloniais, que cometeram genocídios um pouco por todo o mundo, na era colonial, ficariam sob pressão para fazerem algo semelhante”.