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PolíticaAlemanha

Berlim: Chanceler aposta em dívidas e no aperto à migração

Jens Thurau
4 de agosto de 2025

Friedrich Merz é chanceler há 100 dias. Fez ouvir a sua voz internacionalmente e defende política migratória mais rigorosa na Alemanha. Mas a sua coligação enfrenta uma disputa – a propósito do Tribunal Constitucional.

Chanceler federal alemão, Friedrich Merz
Governo de Friedrich Merz, uma coligação entre a CDU/CSU e o SPD, está há cem dias no poderFoto: Markus Schreiber/AP Photo/picture alliance

No dia 6 de maio de 2025, o Bundestag reuniu-se para eleger Friedrich Merz, líder da União Democrata-Cristã (CDU), como novo chanceler federal. Para muitos, é a "última chance" da democracia alemã, uma vez que o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) conquista cada vez mais assentos parlamentares. Após anos de conflitos no antigo Executivo do Partido Social-Democrata (SPD), Verdes e Partido Democrático Livre (FDP), o país parecia à beira de uma ruptura social.

A eleição do chanceler no Bundestag foi dramática. Merz falhou na primeira volta - faltaram seis votos, algo inédito para um candidato a chanceler. Mas na segunda volta, foi eleito.

Nos primeiros 100 dias, Friedrich Merz destacou-se na política externa. Visitou a Ucrânia na companhia do Presidente francês, Emmanuel Macron, e do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, reafirmando apoio a Zelensky. Em junho,foi recebido calorosamente por Donald Trump na Casa Branca. Também esteve em primeiro plano nas cimeiras da União Europeia (UE) e da NATO.

Mas também causou polémica, após o ataque de Israel ao Irão, em 13 de junho, ao afirmar: "Este é o trabalho sujo que Israel está a fazer por todos nós. Também nós somos afetados por este regime. Este regime dos mulás trouxe morte e destruição ao mundo. Com atentados, com assassinatos e homicídios. Com o Hezbollah, com o Hamas". 

Antes disso, o chanceler alemão tinha criticado abertamente a estratégia militar de Israelna Faixa de Gaza. Face a tantas declarações sobre política externa, o ministro das Relações Exteriores, Johann Wadephul, foi relegado para segundo plano.

De olhos postos na migração

Na política interna, o foco do novo Governo é a migração. O novo ministro do Interior, Alexander Dobrindt, da União Social Cristã (CSU, partido-irmão da CDU na Baviera), endureceu as regras, incluindo com rejeições na fronteira — até mesmo de requerentes de asilo.

"A Europa é uma região aberta ao mundo. A UE é uma região cosmopolita. Continuamos a ser uma região cosmopolita. Mas não queremos que os passadores ilegais, os traficantes e os grupos criminosos decidam quem vem para a nossa região", sublinhou.

Afegãos em preocesso de deportação da Alemanha para a sua terra natalFoto: EHL Media/IMAGO

Dobrindt exigiu: "Queremos que as decisões políticas determinem as formas legais de entrar na Europa, mas não deixem isso ao critério dos grupos criminosos."

Antes mesmo de assumir oficialmente funções, o Governo causou alvoroço: Com o apoio dos Verdes, suspendeu as rígidas regras de endividamento da Alemanha. Resultado? Um bilião de euros em novos investimentos - metade para o setor da defesa, metade para infraestruturas e clima.

No Parlamento, o novo ministro das Finanças, Lars Klingbeil, dos sociais-democratas, defendeu que "a OCDE, o Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o G7 têm aconselhado a Alemanha a investir mais e a flexibilizar as regras da dívida. Até à data, tal não foi possível. Mas finalmente soltámos estas amarras aqui no Parlamento e estamos a investir mais do que nunca na viabilidade futura do nosso país."

Juventude dividida

E o que pensa o povo? A DW foi às ruas de Berlim, ouvir a avaliação dos cidadãos sobre os primeiros 100 dias do consulado de Friedrich Merz.

Um jovem entende que o chanceler está a avançar, "espero que continue assim", comentou. Já uma jovem revelou: "Não votei no Merz e não votaria. Tenho que ser honesta."

Outra cidadã também não morre de amores pelos tradicionais partidos do país: "Não sou fã da CDU, nem do SPD, mas espero que mantenham o país unido."

A jurista Frauke Brosius-Gersdorf, do SPD, não tem a aprovação dos consevadores como juíza do Constitucional Foto: teutopress/picture alliance

Disputa sobre uma posição no Tribunal Constitucional

Apesar de todas as controvérsias, o trabalho do Governo prosseguiu inicialmente de forma discreta – até ao último dia das férias no Bundestag: O Governo pretendia eleger vários candidatos para os lugares de juiz no Tribunal Constitucional Federal. No passado, os partidos que compõem o Governo tentaram sempre preencher os cargos importantes da forma mais amigável e sem disputas possível, para não prejudicar a reputação do mais alto tribunal da Alemanha.

Desta vez, isso falhou: Muitos membrosconservadores recusaram-se a votar na candidata sugerida pelo SPD, Frauke Brosius-Gersdorf. Antes disso, a candidata tinha sido alvo de campanhas contra a sua eleição, sobretudo em canais nas redes sociais de direita. Após o cancelamento da eleição, o SPD denunciou uma grave quebra de confiança.

A disputa continuará certamente depois das férias do Bundestag, uma vez que o SPD ainda mantém a candidatura de Frauke Brosius-Gersdorf. Por enquanto, a disputa sobre o Tribunal Constitucional Federal ensombra o balanço dos primeiros cem dias de Governo.

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