Berlim: João Lourenço defende potencial económico de Angola
Cristiane Vieira Teixeira (Berlim)
23 de agosto de 2018
O Presidente angolano deverá apresentar esta quinta-feira ao seu homólogo alemão os potenciais de investimento em Angola. João Lourenço e ministros já falaram de negócios com empresários alemães.
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O Presidente angolano, João Lourenço, será recebido esta quinta-feira (23.08) pelo seu homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeir. Durante sua visita de dois dias à Alemanha, João Lourenço está acompanhado de uma grande delegação de ministros e empresários angolanos. Na última quarta-feira, eles participaram no 7º Fórum Económico Alemanha-Angola, que decorreu num hotel no centro de Berlim.
A participação neste fórum, co-organizado pela associação das empresas alemãs com negócios em África, Afrika-Verein, pela embaixada angolana em Berlim e pela Delegação da Economia Alemã em Angola, foi o primeiro compromisso oficial do Presidente João Lourenço na capital alemã.
Perante sua delegação de ministros e um público de empresários e homens de negócio dos dois países, o chefe de Estado angolano fez um discurso de pouco mais de dez minutos, em que mostrou uma grande abertura de seu país para os investidores.
"Existe um enorme potencial a ser desenvolvido em todos os domínios, seja no plano da cooperação económica e do desenvolvimento, da tecnologia, das finanças, da saúde, da formação profissional e técnica, da ciência e investigação, da energia e águas e de muitos outros".Reformas
João Lourenço falou ainda das reformas económicas, nos sistemas judicial e de investigação criminal que tem implementado em Angola, do combate à corrupção e de acordos assinados entre os dois países no âmbito da cooperação económica para passar uma mensagem de confiança aos investidores.
Segundo Lourenço, "estão agora criadas as condições para uma economia mais aberta e competitiva", citando "a nova legislação sobre o investimento privado e a política cambial, a lei da concorrência, a facilidade da circulação de pessoas, a garantia do repatriamento de capitais e da transferência, para o exterior, de dividendos e lucros".
Depois, os ministros angolanos ficaram encarregados de detalhar as oportunidades de investimento. Eles lideraram painéis temáticos, nos quais apresentaram os setores que consideram os mais atrativos de suas pastas.
O ministro dos Recursos Minerais e Petróleos, Diamantino Pedro Azevedo, descreveu o potencial variado de Angola em recursos minerais e energéticos, citando exemplos. "Angola possui, já quantificadas, reservas de minério de ferro, ouro, manganês, cobre e um potencial para diversos minerais metálicos, não-metálicos, e outros".
O ministro destacou ainda as possíveis formas de cooperação. "Exportação de recursos minerais e energéticos de Angola para a Alemanha, apoio alemão para o aumento do conhecimento técnico-científico dos setores geológico e mineiro de Angola, fornecimento de equipamento e tecnologia mineira alemã, financiamento de instituições bancárias alemãs para o setor de hidrocarbonetos e recursos minerais de Angola, formação de técnicos angolanos nas instituições técnico-profissionais, universidades e centros de investigação técnico-científicos alemães, bem como apoio às instituições congéneres angolanas".
Cenário positivo
Para Heinz-Walter Große, presidente da Iniciativa para a África Austral da Economia Alemã (SAFRI, na sigla em alemão), as mudanças políticas e reformas económicas estão a tornar Angola um país interessante para o investimento alemão. Große mostrou-se otimista quanto aos desafios enfrentados pelos empresários, em Angola.
Berlim: João Lourenço defende potencial económico de Angola
"Precisamos ver como garantir o financiamento de grandes projetos e certamente a questão da corrupção continua a ser um tema, o que também o Presidente citou aqui, que se pretende trabalhar fortemente contra a corrupção", pontuou Heinz-Walter Große, ressaltando que "para os empresários alemães é muito importante um ambiente estável e isso significa também, e isso também foi dito aqui, que se crie um tratado para evitar a dupla tributação, o que atualemte não existe entre Angola e a Alemanha".
Também Stefan Tavares Bollow, diretor-geral da Gauf Engenharia, empresa alemã que há 23 anos está presente em Angola, reconhece os desafios de atuar no país, como a desvalorização do kwanza. Mas mostra-se, por outro lado, extremamente otimista com o ambiente de negócios em Angola. "Angola está no bom caminho. Tem uma boa estrutura política. Pode confiar no país. Vai lá e faz negócio".
Estiveram presentes no 7º Fórum Económico Alemanha-Angola os ministros das pastas das Finanças, Recursos Minerais e Petróleos, Energia e Águas, Saúde, Construção e Obras Públicas, Transportes e Agricultura e Florestas.
Pobreza no meio da riqueza no sul de Angola
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul do país. A região é assolada por uma seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser pobres neste ano. Muitos angolanos passam fome.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Sobras da guerra civil
A guerra civil (1976 -2002) grassou com particular violência no sul de Angola. Aqui, o Bloco do Leste socialista e o Ocidente da economia de mercado livre conduziram uma das suas guerras por procuração mais sangrentas em África. Ainda hoje se vêm com frequência destroços de tanques. A batalha de Cuito Cuanavale (novembro de 1987 a março de 1988) é considerada uma das maiores do continente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Feridas abertas
O movimento de libertação UNITA tinha o seu baluarte no sul do país, e contava com a assistência do exército da República da África do Sul através do Sudoeste Africano, que é hoje a Namíbia. Muitas aldeias da região foram destruídas. Mais de dez anos após o fim da guerra civil ainda há populares que habitam as ruínas na cidade de Quibala, no sul de Angola.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Subnutrição apesar do crescimento económico
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul. A região sofre de seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser más no ano 2013. Muitos angolanos não têm o suficiente para comer. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que nos últimos anos pelo menos um quarto da população passou fome durante algum tempo ou permanentemente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
O sustento em risco
Dado o longo período de seca, a subnutrição é particularmente acentuada nas províncias do sul de Angola, diz a FAO. As colheitas falham e a sobrevivência do gado está em risco. Uma média de trinta cabeças perece por dia, calcula António Didalelwa, governador da província de Cunene, a mais fortemente afetada. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também acha que a situação é crítica.
Foto: DW/A. Vieira
Semear esperança
A organização de assistência da Igreja Evangélica Alemã “Pão para o Mundo” lançou um apelo para donativos para Angola na sua ação de Advento 2013. Uma parte dos donativos deve ser reencaminhada para a organização parceira local Associação Cristã da Mocidade Regional do Kwanza Sul (ACM-KS). O objetivo é apoiar a agricultura em Pambangala na província de Kwanza Sul.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Rotação de culturas para assegurar mais receitas
Ernesto Cassinda (à esquerda na foto), da organização cristã de assistência ACM-KS, informa um agricultor num campo da comunidade de Pambangala, no sul de Angola sobre novos métodos de cultivo. A ACM-KS aposta sobretudo na rotação de culturas: para além das plantas alimentícias tradicionais como a mandioca e o milho deverão ser cultivados legumes para aumentar a produção e garantir mais receitas.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Receitas adicionais
Para além de uma melhora nas técnicas de cultivo, os agricultores da região também são encorajados a explorar novas fontes de rendimentos. A pequena agricultora Delfina Bento vendeu o excedente da sua colheita e investiu os lucros numa pequena padaria. O pão cozido no forno a lenha é vendido no mercado.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Escolas sem bancos
Formação de adultos na comunidade de Pambangala: geralmente os alunos têm que trazer as cadeiras de plástico de casa. Não é só em Kwanza Sul que as escolas carecem de equipamento. Enquanto isso, a elite de Angola vive no luxo. A revista norte-americana “Forbes” calcula o património da filha do Presidente, Isabel dos Santos, em mais de mil milhões de dólares. Ela é a mulher mais rica de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Investimentos em estádios de luxo
Enquanto em muitas escolas e centros de saúde falta equipamento básico, o Governo investiu mais de dez milhões de euros no estádio "Welvitschia Mirabilis", para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins 2013, na cidade de Namibe, no sul de Angola. Numa altura em que, segundo a organização católica de assistência “Caritas Angola” dois milhões de pessoas passaram fome no sul do país.
Foto: DW/A. Vieira
Novas estradas para o sul
Apesar dos destroços de tanques ainda visíveis, algo melhorou desde o fim da guerra civil em 2002: as estradas. O que dá a muitos agricultores a oportunidade de venderem os seus produtos noutras regiões. Durante a era colonial portuguesa, o sul de Angola era tido pelo “celeiro” do país e um dos maiores produtores de café de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Um futuro sem sombras da guerra civil
Em Angola, a papa de farinha de milho e mandioca, rica em fécula, chama-se “funje” e é a base da alimentação. As crianças preparam o funje peneirando o milho. Com a ação de donativos de 2013 para a ACM-KS, a “Pão para o Mundo” pretende assegurar que, de futuro, os angolanos no sul tenham sempre o suficiente para comer e não tenham que continuar a viver ensombrados pela guerra civil do passado.