Berlim: União para ajudar vítimas do Idai em Moçambique
Cristiane Vieira Teixeira (Berlim)
17 de abril de 2019
Na capital alemã, moçambicanos e alemães estão a angariar produtos de primeira necessidade para doar às vítimas do ciclone Idai, no centro de Moçambique. Grande desafio é transportar as mercadorias até a cidade da Beira.
Publicidade
É numa loja de cozinhas, na região central de Berlim, que o grupo de 11 cidadãos moçambicanos e alemães se reúne. Aqui surgiu a iniciativa conjunta de angariar donativos para as vítimas do ciclone Idai, em Moçambique. A ideia solidária partiu do moçambicano Benjamim Ndiambuana, que vive na Alemanha há 27 anos.
"Vi pessoas a serem puxadas por águas para o mar, pessoas a perderem os seus bens e isso me tocou muito. O facto de eu ser moçambicano, estou cá fora e sei que aqui há pessoas de boa coragem e que poderão ajudar a situação que o nosso país vive," revela Ndiambuana.
O ciclone que atingiu Moçambique, Malawi e Zimbabué balançou também o coração da alemã Brit Zolho, que por mais de 10 anos viveu em Moçambique e, por algum tempo, na própria cidade da Beira, uma das mais devastadas pelo fenómeno natural. Casada com um moçambicano, parte da família de Brit ainda permanece na região e ela passou cinco dias sem ter notícias dos seus.
"E quando soube que minha família sofreu mas estava viva, senti-me muito grata e gostava agora de colocar a minha energia em ajudar as outras famílias que perderam tudo," afirma.
É nas tardes dos sábados e domingos que o grupo recebe as doações. A prioridade são os artigos de primeira necessidade, mas não há restrições, explica Benjamim.
"Neste caso, são as comidas, medicamentos, roupas. Tudo o que as pessoas puderem dar é necessário, porque a região afetada não tem quase nada. Tudo o que as pessoas nos dão, nós recebemos," diz Ndiambuana.
Transporte, o grande desafio
O empresário moçambicano Ernesto Rafael Milice é quem coordena o trabalho do grupo. As doações estão a ganhar volume. O desafio agora é transportar todo o material até ao centro de Moçambique.
Donativos Berlim Idai - MP3-Stereo
"O primeiro contentor pode ser já preenchido. Logo que tivermos a importância de pagamento do contentor, a nossa preocupação é de escoar a mercadoria para as pessoas que sofreram as quedas lá no país. Está tudo tão preparado, se houver uma possibilidade de empacotar o contentor na próxima semana, empacotamos," garante.
Esta tem se mostrado, no entanto, a maior dificuldade do grupo. Esperam agora que a solidariedade contamine outros corações.
"Nós conseguimos até aqui [recolher] uma meta de 300 euros e a meta que nós recebemos aqui como uma oferta, para a gente só mandar um contentor, precisamos aproximadamente de 4.360 euros," explica.
"Significa que há um buraco muito grande que ainda deve ser preenchido. E nesse aspecto, se houvesse a possibilidade de algumas pessoas ou organizações nos apoiarem, seria um jeito muito agradável," apela Milice.
Deste desejo, compartilha todo o grupo. Brit Zolho resume o sentimento de quem pretende amenizar o sofrimento dos afetados pelo Idai.
"Se fosse eu a sonhar, posso dizer que quero ver muitas mães, muitos avós e filhos a receber esse nosso apoio," conclui.
Ciclone Idai: Onda de solidariedade alemã para com Moçambique
Na Alemanha, o ciclone Idai provocou uma onda de solidariedade. O Governo da Alemanha aumentou a ajuda humanitária para um total de 5 milhões de euros. Organizações humanitárias e igrejas cristãs pedem donativos.
Foto: Aktionsbündnis Katastrophenhilfe
Cruz Vermelha Alemã: Unidade sanitária móvel para a Beira
A cidade da Beira vai receber uma unidade sanitária móvel para 20.000 pessoas e um sistema de água potável para fornecer 15.000 pessoas, anunciou a Cruz Vermelha Alemã (DRK). Esta organização que coopera com a Cruz Vermelha de Moçambique já conseguiu angariar em termos de donativos individuais 50.000 euros até ao momento. A recolha de fundos ainda está activa.
Foto: Reuters/IFRC/RCRC Climate Centre
Cruz Vermelha Alemã: Já esteve ativa na prevenção
Ainda antes do ciclone Idai atingir o território moçambicano houve uma campanha de prevenção para ajudar a população a enfrentar o ciclone. Foram distribuídos comprimidos para purificar a água e kits de primeiros socorros. Além desta ajuda também foram fornecidos cobertores, lonas, colchões e utensílios de cozinha.
Foto: Reuters/Red Cross Red Crescent Climate Centre/D. Onyodi
Caritas Alemanha: distribui alimentos
A Caritas alemã, organização da igreja católica, pede donativos no seu site e também já está em Moçambique. Um dos parceiros locais em Moçambique é a Associação Esmabama. Têm distribuído na Beira alimentos como farinha, feijão e óleo para cozinhar e água potável. Também distribuíram produtos de primeira necessidade como roupa, cobertores, sabonetes, kits de primeiros socorros e baldes.
Foto: Caritas International
Diocese de Friburgo: donativo de 100.000 euros
O bispado de Friburgo no sudoeste da Alemanha fez um dos maiores donativos. Deram cem mil de euros à Caritas para ajudar as vítimas do ciclone. "As notícias que nos chegam dos nossos parceiros locais em Moçambique são dramáticas", disse Oliver Müller, director da organização de ajuda da Caritas. Disse que estão a fornecer "alimentos, água potável, artigos de higiene, cobertores e vestuário".
Foto: picture-alliance/dpa/P. Seeger
Diakonie Katastrophenhilfe: cooperação com igrejas em Moçambique
A Diakonie Katastrophenhilfe, a organização de ajuda de emergência da igreja luterana, foi uma das primeiras ONGs a fazer apelos a donativos logo após o ciclone e já conseguiu angariar 100.000 euros. Em conjunto com a CEDES, Comité Ecuménico para o Desenvolvimento Social, tem dado apoio em várias regiões de Moçambique. A ajuda alimentar desta organização já chegou a 50.000 moçambicanos.
Foto: Diakonie Katastrophenhilfe
Igrejas: colheita de donativos
Foram muitas paróquias que dedicaram as colheitas das missas de domingo às vítimas do ciclone em Moçambique. Uma delas foi esta igreja católica reformada de Colónia, a Christi Auferstehung (Alt-Katholische Kirche Deutschlands). O pastor pediu aos fiéis uma ajuda generosa que iria reverter a favor da campanha da Diakonie Katastrophenhilfe.
Foto: DW/J. Beck
Igrejas: Informação sobre a situação em Moçambique
Na porta da igreja, foi afixado um cartaz com informações detalhadas sobre a situação no centro de Moçambique. Destaque para a cidade da Beira e as destruições causadas na província de Sofala. O cartaz lembra a necessidade de apoiar as vítimas que perderam quase tudo.
Foto: DW/J. Beck
Diakonie Katastrophenhilfe: prioridade assegurar água potável
Uma das principais prioridades da Diakonie Katastrophenhilfe é garantir que haja água potável. Nesse sentido já foram distribuídos medicamentos para purificar a água. O director responsável de África da Diakonie Katastrophenhilfe, Kai M. Henning garante o seguinte, “agora temos de sobretudo fornecer água potável às pessoas, há um grande risco das águas ficarem contaminadas e espalharem doenças.”
Foto: DW/B. Jequete
Action Medeor: foco em medicamentos
“A logística para a área do desastre é difícil porque grande parte das infra-estruturas da região foram destruídas pelo ciclone", relata Bernd Pastors. A fim de poder levar rapidamente os medicamentos para a zona sinistrada, a Action Medeor está a processar as entregas de ajuda urgentemente necessárias através das filiais na Tanzânia e no Malawi.
Foto: Action Medeor
Action Medeor e DMG: parceria com a Universidade Católica
Juntamente com a Sociedade Alemã-Moçambicana (Deutsch-Mosambikanische Gesellschaft - DMG), a Action Medeor está a preparar ajuda médica para a Universidade Católica de Moçambique na Beira. Os doentes da cidade mais gravemente afectados pelo ciclone podem ser tratados através do centro de saúde associado.
Foto: DW/J. Beck
UNICEF Alemanha: foco na educação
O comité nacional da UNICEF, a organização educacional das Nações Unidas, juntou-se ao apoio das vítimas do ciclone. Cerca de 2.600 salas de aulas foram destruídas (foto de escola na Beira) durante o ciclone e há uma grande preocupação em recuperar as escolas rapidamente. Será uma das tarefas principais da UNICEF em Moçambique.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Hadebe
Ordem de Malta Internacional: equipa de ajuda no local
Uma equipa da Ordem de Malta Internacional da Alemanha (Malteser International) já viajou para Moçambique para prestar socorros urgentes (foto simbólica). "A situação é confusa. ... As infra-estruturas do país estão muito danificadas e estamos numa corrida contra o tempo", diz Oliver Hochedez, Chefe de Ajuda de Emergência da Ordem de Malta Internacional.
Foto: DW/B. Jequete
Technisches Hilfswerk: 5.000 litros de água por hora
A agência estatal da Alemanha de ajuda técnica, Technisches Hilfswerk (THW), enviou uma equipa a Nhangau, nos arredores da Beira. Na quinta-feira (28.03), já conseguiu instalar uma unidade móvel que fornece 5.000 litros de água potável por hora. "Os 30 poços da região estão contaminados com bactérias de diarreia", conta Jens-Olaf Knapp, que lidera a equipa do THW na província de Sofala.
Foto: THW/Jörg Eger
Technisches Hilfswerk: escola com água saudável
Os responsáveis do THW, que na sua maioria costumam ser voluntários alemães, relatam que ficaram muito contentes com a reação da população local de Nhangau após a instalação da central de água. "Um passo muito importante para manter as crianças saudáveis", comentou Esmeralda Basela, a diretora da escola local, onde foi instalada a unidade móvel de água do THW.