A bicicleta, principal meio de transporte na província moçambicana da Zambézia, está cada vez mais cara por causa da procura gerada após o agravamento das tarifas nos transportes. Consumidores queixam-se dos preços.
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Quem é de Quelimane sabe andar de bicicleta. O visitante que não circula numa bicicleta-táxi não chegou a Quelimane. É o que se diz na capital provincial da Zambézia.
Quatro em cada cinco famílias dos bairros urbanos têm pelo menos uma bicicleta em condições mínimas para circular 25 quilómetros por dia. Muitos usam-nas para fazer de táxi e ganhar algum dinheiro.
Porém, nos últimos dias, não tem sido fácil adquirir uma bicicleta nova ou até em segunda mão. A procura pelo veículo é cada vez maior desde o recente agravamento das tarifas dos transportes convencionais e, além disso, os vendedores de bicicletas também subiram os preços.
Por exemplo, uma bicicleta singular de segunda mão, que antes estava a cinco mil meticais, já custa quase dez mil meticais (cerca de 142 euros), ou até mais dependendo da qualidade.
As bicicletas novas são mais concorridas. Mesmo sendo consideradas menos resistentes pelos taxistas, possuem bagageiras para o serviço de táxi, ciclismo ou transporte de carga. Estas custam atualmente o equivalente a 85 euros.
Preços a subir
Estes preços são contestados por muitos cidadãos que dependem da bicicleta, inclusive para trabalhar.
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"Os vendedores subiram os preços [da bicicleta], por isso devemos subir os preços da prestação de serviço de bicicleta táxi para ganharmos alguma coisa. A bicicleta à venda custa 6 mil, custava 3 a 4 mil meticais, e agora está 6.500", queixa-se Hibraim Alfândega.
Francisco Espelho, de 58 anos de idade, diz que sustenta a família através da sua bicicleta há vários anos. "A vida está difícil dia após dia. As bicicletas estão a subir de preço de venda", conta à DW.
"Foi em 2007 que iniciei, primeiramente carregava farinha, da moagem para o mercado, no mesmo ano fiz a carta de condução de táxi de bicicleta. Até agora faço táxi com a minha bicicleta", recorda.
Os vendedores de bicicletas em Quelimane não quiseram comentar sobre o negócio atualmente.
Bicicletas para contornar a pandemia do coronavírus
03:25
Mais de 10 mil bicicletas em circulação
Por causa deste maior fluxo de bicicletas as autoridades da autarquia de Quelimane decidiram institucionalizar o ciclismo e criaram, em 2013, a ATAMOZ, a Associação de Taxistas da Zambézia.
O presidente da associação, António Bernardino, diz que há cada vez mais ciclistas e registo de novos membros, apesar do preço das bicicletas.
"Já estamos no 5.500 taxistas associados, o número tende a crescer por causa do desemprego. Há jovens que vêm de todos distritos da província da Zambézia para Quelimane" para trabalharem como taxistas, conta.
As bicicletas que mais se vendem em Quelimane são importadas da India, China e Itália.
Estima-se que circulam diariamente mais de 10 mil bicicletas na capital provincial da Zambézia. Mais de metade estão registadas na associação dos taxistas.
Bicicletas táxi em Moçambique
Quem em Quelimane se quiser movimentar rapidamente, apanha uma bicicleta táxi. As ruas da cidade são muito más para os transportes convencionais. Para muitos, a bicicleta táxi é uma forma de poderem obter algum dinheiro.
Foto: Gerald Henzinger
Bicicletas em alternativa aos carros
Quelimane é uma cidade na costa de Moçambique. Quem por aqui se quiser movimentar rapidamente, apanha uma bicicleta táxi. As ruas da cidade são muito más para os convencionais táxis e autocarro. Além disso, para muitas pessoas, a bicicleta táxi é uma das poucas formas de poderem obter algum dinheiro.
Foto: Gerald Henzinger
Estradas intransitáveis para carros
Quelimane é a capital da província moçambicana da Zambézia. No entanto, as estradas estão em estado deplorável. As pistas de terra estão cheias de buracos. Quando chove, enchem-se de água e tornam as estradas intransitáveis para os carros e para os miniautocarros. As bicicletas táxi, porém, podem contornar as poças de água.
Foto: Gerald Henzinger
Viajar de bicicleta táxi
Dependendo da distância, uma viagem de bicicleta táxi pode custar entre 5 e 20 meticais (aproximadamente entre 15 e 60 cêntimos de euro). Primeiro, o preço é negociado com o motorista. Depois, ocupa-se o lugar almofadado, que é feito especialmente por medida.
Foto: Gerald Henzinger
A bicicleta como alternativa ao desemprego
Em vez estarem desempregados, muitos moradores de Quelimane preferem conduzir uma bicicleta táxi. No entanto, o mercado está saturado com os vários milhares de bicicletas táxi que existem. Lutam todos por clientes entre os cerca de 200 mil habitantes. Isso faz baixar os preços e, por isso, as bicicletas táxi são um negócio difícil.
Foto: Gerald Henzinger
Samuel, taxista de bicicleta
Quando Samuel não está a trabalhar como motorista de serviço, está a estudar. Quando era criança só frequentou a escola até ao sexto ano. Os seus pais não tinham dinheiro e não podiam continuar a pagar os seus estudos. Agora, o jovem de 27 anos tenta obter o diploma do ensino secundário. “Se não o terminar, não vou conseguir um trabalho decente”, diz.
Foto: Gerald Henzinger
Francis, mecânico de bicicletas
Parafusos soltos e pneus lisos estão entre as preocupações quotidianas de um taxista de bicicleta. Francis arranja bicicletas no Mercado Central de Quelimane. Por cada tubo que remenda recebe cinco meticais (cerca de 20 cêntimos). Ganha cerca de 85 euros por mês. Desta forma, consegue alimentar a sua família.
Foto: Gerald Henzinger
Licença controversa
A Câmara Municipal de Quelimane quer reduzir o número de taxistas de bicicleta nas suas estradas. Por isso, no início de 2010, criou uma espécie de licença para estes condutores. Oficialmente, deveria custar cerca de 12 euros, mas os motoristas protestaram. A Câmara Municipal cedeu e suspendeu a licença.
Foto: Gerald Henzinger
Andar de bicicleta para cumprir um sonho
Para o jovem Francisco Manuel, de 19 anos, a bicicleta táxi é uma forma de financiar a sua formação. O seu trabalho de sonho é ser polícia. “Eu não quero roubar para sobreviver”, diz. Assim, optou pela bicicleta táxi. Com os 2,50 euros que ganha diariamente, consegue manter-se a si e ao seu filho.
Foto: Gerald Henzinger
Uma bicicleta táxi para toda a família
Na sua última viagem, Armando só conseguiu ganhar 80 meticais (cerca de três euros). “Foi um bom turno nocturno”, afirma, em jeito de balanço. Desde que o seu pai morreu, tem de ganhar dinheiro para toda a família com a bicicleta táxi. Armando não aprendeu a ler e a escrever, já que abandonou a escola por causa de uma deficiência visual após a terceira classe.
Foto: Gerald Henzinger
Pouco dinheiro para sobreviver
As bicicletas táxi ajudam muitas pessoas sem formação a obter algum dinheiro de forma legal. No entanto, depois de deduzidos os custos, muitas vezes sobram apenas um ou dois euros por dia. E quando estes taxistas ficam doentes, já não entra mais dinheiro em caixa.