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Biden em Angola? "São sempre os mesmos a beneficiar"

17 de setembro de 2024

À DW, analista diz que possível visita do Presidente Joe Biden a Angola será "um marco histórico", mas não terá impacto na vida da população. Isto porque "são sempre os mesmos a beneficiar" dos eventuais apoios, diz.

João Lourenço e Joe Biden
Presidente Joe Biden deverá visitar Angola nas próximas semanasFoto: Luis Tato/Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Se o velho sonho de João Lourenço era ser recebido na Sala Oval da Casa Branca, então parece que em breve poderá dar-se por feliz, porque poderá ter mais do que isso: o Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, poderá visitar Angola em breve.

A notícia foi confirmada à Reuters por várias fontes, que afirmam que a viagem, que ainda se encontra em fase de preparação, deverá decorrer após a reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, e antes da eleição presidencial de 5 de novembro. 

Embora os "amores" entre os EUA e Angola estejam em alta, muito no contexto do "namoro" no Corredor do Lobito, há quem não acredite em resultados positivos da visita, mesmo no campo económico.

É o caso do especialista angolano em relações internacionais Kinkinamo Tuassamba, que recorda que o investimento americano vai parar sempre às mesmas mãos e não se reflete na vida dos locais. 

Encontro de Joe Biden e João Lourenço em Washington, novembro 2023Foto: Yuri Gripas/ABACAPRESS/picture alliance

DW África: Que simbolismo pode ter esta primeira visita de um estadista norte-americano a Angola? 

Kinkinamo Tuassamba (KT): É sempre um marco histórico, porque Angola nunca recebeu um Presidente norte-americano no seu território. Estamos a falar da maior economia mundial e o Presidente norte-americano tem sempre um simbolismo muito grande, porque, com certeza, leva consigo vários projetos de investimento e financiamento. É um marco histórico para os dois países e claramente Angola sai muito a ganhar, tendo em conta a figura de Joe Biden, apesar da sua idade, mas tem sempre esse condão político e diplomático muito forte para os dois Estados.

DW África: A visita de Biden fortalece o regime de João Lourenço?

KT: Sim, felizmente sim. Naquilo que tem sido a sua incursão ao nível da política externa, o Presidente João Lourenço sempre procurou entrar na Sala Oval. Sabemos que já houve muitas tentativas para que João Lourenço fosse recebido na Sala Oval e conseguir é um feito para ele de uma forma pessoal. E sim, fortalece aquilo que é a sua governação e a do seu executivo. Mas a grande questão é: o que é que de facto os angolanos ganham?

Muitas vezes nós recebemos vários estadistas, mas a verdade é que essas visitas não se refletem naquilo que é a vida social do povo angolano. Penso que é desta forma que temos de pensar. Mais do que dar consistência ao Presidente João Lourenço, alguma aceitação naquilo que é a sua governação e [passar] uma mensagem clara à comunidade internacional, nós, angolanos, precisamos de facto de ver uma mudança de pelo menos 70/80%, e a vida dos angolanos deve claramente mudar. [Ouvimos falar sobre] a viagem do Presidente João Lourenço, sobre a receção de estadistas no nosso país, mas quando saímos às ruas, percebe-se que falta ainda muita coisa

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DW África: Acha que é desta vez que haverá, de facto, alguma mudança substancial para os angolanos?

KT: A resposta é taxativa: não, não haverá. Primeiro, porque estamos a cogitar, ainda não é uma certeza que Joe Biden venha a Angola. Caso venha, a minha resposta é taxativa: não é desta, porque os nossos problemas são conhecidos e nós precisamos ir de facto à causa do problema e não na consequência. A visita do Joe Biden sim, tem esse marco histórico, colocará de facto Angola na boca do mundo durante algum tempo, a imprensa internacional estará aqui, assim como a segurança norte-americana. Porém, a questão central é esta: o que é que mudará na vida dos angolanos?

DW África: Entretanto, as relações económicas entre as duas partes estão cada vez mais consolidadas. Nessa perspetiva, não vê também nenhum ganho para o povo angolano? Em termos, por exemplo, de criação de emprego, fortalecimento da economia angolana?

KT:  O censo angolano vai trazer a resposta que eu lhe vou dar agora. Lamentavelmente, o que existe mais em Angola é emprego informal e que não é controlado pelo governo. Esse é um dado. A verdade é que a juventude angolana, que é a maioria, ainda continua no desemprego. E quando nós olhamos para oinvestimento que os Estados Unidos vai prometendo, e que muitas vezes até acaba de facto cedendo, não se reflete. Porque são os mesmos que beneficiam desses apoios. E não chega de facto, a população que deveria chegar.

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