Bielorrússia: Lukashenko admite que se eternizou no poder
8 de setembro de 2020O Presidente da Bielorrússia, Alexandre Lukashenko, admitiu esta terça-feira (08.09) numa entrevista a meios de comunicação russos que se eternizou no poder, mas descartou abandonar o cargo "sem mais nem menos" devido à pressão dos protestos antigovernamentais. "Sim, talvez tenha ficado um pouco a mais na cadeira", mas, "na verdade, só eu posso agora defender a Bielorrússia", afirmou a vários canais e emissoras de rádio russos.
Lukashenko, que preside à Bielorrússia desde 1994, sendo o líder europeu há mais tempo em funções, alertou para um possível "banho de sangue" se deixar o poder.
"Não me vou embora sem mais nem menos. Dediquei um quarto de século a construir a Bielorrússia. Não vou deitar tudo fora à primeira. Além disso, se sair, matam os meus apoiantes", afirmou.
O chefe de Estado explicou que com a sua imagem, amplamente divulgada, a segurar uma metralhadora 'kalashnikov' queria mostrar que não tinha "fugido" e que estava disposto a defender o seu país "até ao fim".
Manifestações reprimidas
A Bielorrússia tem sido palco de manifestações praticamente diárias desde que Lukashenko foi eleito para um sexto mandato nas presidenciais de 9 de agosto, eleições consideradas fraudulentas pela oposição.
Milhares de pessoas foram detidas, algumas das quais se queixaram depois de terem sido torturadas, suscitando protestos internacionais e ameaça de sanções. Sobre os protestos em massa das últimas semanas, o líder autoritário reconheceu que, "como pessoa, é algo que dói", mas adiantou que os contestatários não sabem "como era a Bielorrússia há 20 anos".
Os Estados Unidos, a União Europeia e diversos países vizinhos da Bielorrússia rejeitaram a recente vitória eleitoral de Lukashenko e condenaram a repressão policial, exortando Minsk a estabelecer um diálogo com a oposição.
Lukashenko negou esta terça-feira que esteja a considerar negociar com o Conselho Coordenador da Oposição, criado para uma transição pacífica do poder na Bielorrússia. "Não vou falar com o Conselho Coordenador da Oposição, porque não sei quem são essas pessoas. Não são oposição nenhuma", disse, acusando a plataforma de querer "romper" os laços do país com a Rússia e de planear que a educação e a saúde deixem de ser gratuitas.