A 'ONG' Biosfera I aplaude a iniciativa de Cabo Verde de controlar o comércio internacional de tubarões e raias e outras espécies ameaçadas de extinção. E apela o cumprimento da legislação que está a ser preparada.
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A legislação nacional para a implementação da denominada "Convecção sobre o Comercio Internacional de Fauna e Flora Selvagem ameaçada de extinção", CITES, já está a ser preparada por várias organizações ambientalistas, e peritos, em cooperaçã com representantes do governo do Arquipélago.
O "ponto focal nacional" - ou seja o representante da CITES em Cabo Verde - Iderlindo Santos, explica os passos que estão a ser dados - para trabalharmos esta legislação, já conformamos que tipo de diploma poderá ser necessário e adequado ao país e estamos a recolher subsídios juntos dos parceiros de intervenção, nomeadamente, agentes de controlo, as Universidades - centros de investigação, todos os parceiros a nível de conservação, incluindo também, as organizações não-governamentais.
Iderlindo Santos, em entrevista à DW África, destaca a resolução da Convenção da CITES que vai delinear as orientações que o país terá que seguir.
Ele avança ainda que, no início de 2018, vai ser apresentada uma primeira proposta de legislação, que será distribuida aos diferentes parceiros para uma primeira análise. Iderlindo Santos acrescenta que, a legislação proposta - uma vez aprovada - traria ganhos importantes para o país e reforçaria as outras leis de proteção ambiental já existentes. E aponta que esta "terá que ter directrizes concretas relativamente a penalização, a apreensão de espécies ameaçadas de extinção no caso de entrarem no comércio”.
Um grande passo
Tommy Melo, representante da associação ambientalista cabo-verdiana, Biosfera I, por sua vez, diz que a legislação que está a ser preparada poderá não ser a "ideal”. Ele admite, no entanto, que a mesma poderá constituir "um grande passo” rumo a uma proteção mais eficaz das espécies em risco, como os tubarões ou as raias.
Cabo Verde: Proteção de espécies marinhas - CITES - MP3-Mono
O ambientalista está particularmente preocupado com a situação dos tubarões costeiros nos mares de Cabo Verde. Para ele, o maior perigo para estes animais advém dos acordos de pesca com a União Europeia, assim como de outros acordos sobre a pesca internacional.
"As águas de Cabo Verde, nomeadamente, com os acordos de pescas que o país tem com a União Europeia delapidaram os nossos estoques de tubarões nos últimos dez anos. Pode-se perguntar isto a qualquer mergulhador que costumou mergulhar nas águas de Cabo Verde. Portanto, o número de tubarões diminuiu drasticamente”, afirma.
Fiscalização insuficiente
Tommy Melo admite que Cabo Verde, de um modo geral, já possui de leis ambientais, que, no entanto, nunca foram devidamente implementadas. O ambientalista aponta as fragilidades do arquipélago em matéria de fiscalização das suas vastas águas territoriais. Por isso espera que a lei em preparação seja - de facto - eficaz, colocada em prática e melhorada, sempre que houver necessidade.
"É um bom passo... o principal será que ela consiga ser implementada e ser colocada em prática", salienta Tommy Melo.
A 'Biosfera I' é uma das ONGs envolvidas na conservação de uma das maiores áreas marinhas protegidas de Cabo Verde.
A reserva natural de Santa Luzia é identificada como um berçário importante de nidificação de tubarões de várias espécies. É lá e noutros lugares que a Biosfera I tem realizado vários estudos sobre as diferentes espécies marinhas que habitam as águas territoriais de Cabo Verde.
Dessalinização de água com tecnologia europeia em Cabo Verde
Em Cabo Verde, as reservas naturais de água são escassas e a estação chuvosa dura apenas três meses por ano. Governo aposta na dessalinização da água do mar para abastecer a população. Mais de 55% da produção perde-se.
Foto: DW/C. Teixeira
Água fresca para os cabo-verdianos
Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. O país aposta no sistema de osmose inversa para produzir água doce. A Electra, Empresa Pública de Electricidade e Água, é responsável pela produção e distribuição da água dessalinizada nas ilhas de São Vicente, Sal e na Cidade da Praia. Na foto, visão parcial da central dessalinizadora da Electra na capital.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Dessalinização por osmose inversa
O processo de dessalinização por osmose inversa é uma moderna tecnologia de purificação da água que consiste em diversas etapas de filtragem. Logo após a captação, a água do mar passa pelos filtros de areia, que têm por finalidade eliminar impurezas e resíduos sólidos maiores. Na foto, os dois grandes cilindros são os filtros de areia de uma das unidades de dessalinização na Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Várias etapas de filtragem
Depois, a água é novamente filtrada, desta vez por micro filtros. Os dois cilindros azuis que se podem ver na foto possuem uma alta eficiência na remoção de resíduos sólidos minúsculos - como moléculas e partículas. Essas duas pré-filtragens preparam a água para passar pelo processo de osmose inversa.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Sob alta pressão
O aparelho azul (na foto) é uma bomba de alta pressão. Aplica uma forte pressão na água do mar, que é distribuída pelos cilindros brancos. No interior, encontram-se membranas semipermeáveis por onde a água é forçada a passar. Neste processo de filtragem, consegue-se a retenção de sais dissolvidos. Obtém-se a água doce e a salmoura - solução com alta concentração de sal - que é devolvida ao mar.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Volume do abastecimento
Na Cidade da Praia, funcionam duas unidades dessalinizadoras da Electra, com capacidade para produzir 15.000m3 de água doce por dia. Pelo menos 60% da população da capital recebe a água dessalinizada da Electra. Na foto, uma visão parcial da unidade mais moderna de Santiago, em funcionamento desde 2013. A Electra é reponsável pelo abastecimento de água de mais de metade da população do país.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Controlo de qualidade
A água doce produzida é analisada num laboratório onde é feito o controlo de qualidade. De acordo com a Electra, a transferência da água para consumo só é autorizada se apresentar as condições estabelecidas nos protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na foto, a engenheira bioquímica Elisângela Moniz mostra as placas utilizadas para a contagem de coliformes totais e fecais.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Moderna tecnologia europeia
Cabo Verde utiliza tecnologias europeias, espanhola e austríaca, para a dessalinização da água do mar. Na foto, o reservatório de água da empresa austríaca Uniha, que tem capacidade para armazenar 1.500 m3 de água. A água dessalinizada não fica parada aqui: é constantemente bombeada para os reservatórios de distribuição existentes ao longo da Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Grandes perdas
Esses equipamentos são responsáveis por bombear a água para os tanques de distribuição da Cidade da Praia. No entanto, cerca de 55% de toda a produção é perdida durante este processo. As perdas são causadas por fugas de água em tubulações e reservatórios antigos para onde a água é enviada antes de chegar ao consumidor.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Desafios e esforços para produzir água
O engenheiro António Pedro Pina, diretor de Planeamento e Controlo da Electra, diz que os maiores desafios da empresa são "garantir a continuidade na produção, estabilidade na distribuição e combater as perdas que, neste momento, estão em cifras proibitivas". Pina defende, no entanto, que "tem sido feito um esforço enorme para garantir a continuidade da distribuição da água" em Cabo Verde.
Foto: DW/C.V. Teixeira
Recurso natural abundante
Terminado o processo de dessalinização, a água com alta concentração de sal, denominada salmoura, é devolvida ao mar. Composto por 10 ilhas, o arquipélago cabo-verdiano encontra-se cercado por uma fonte inesgotável para a produção de água potável. Os cabo-verdianos têm assim o recurso natural abundante para garantir à população o abastecimento de água dessalinizada e limpa, constantemente.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Preço da água ainda é alto
A água dessalinizada pela Electra em Santiago abastece os moradores da Cidade da Praia. Na foto, moradores do bairro Castelão, na capital cabo-verdiana, compram água no chafariz público - um dos poucos que ainda restam no país. Cada bidão de cerca de 30 litros de água custa 20 escudos cabo-verdianos (cerca de 0,20 euros). O valor é considerado alto por muitos cabo-verdianos.