Angola: Igreja pede medidas económicas mais justas
Lusa
12 de outubro de 2016
Em discurso realizado nesta quarta-feira (12.10.) em Luanda, Filomeno Dias diz que Igreja Católica não pode ficar alheia à luta e à exigência pela justiça social no país.
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O Presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Filomeno Vieira Dias, fez um apelo às autoridades de Angola para tornarem mais justas à população as medidas adotadas devido à crise financeira no país.
O apelo foi feito durante discurso de abertura da II plenária ordinária, que arrancou esta quarta-feira (12.10.), em Luanda. Segundo o representante da Igreja Católica angolana, o poder de compra das famílias mais pobres está a diminuir cada vez mais.
"Continuamos a perceber e a sentir na nossa sociedade as consequências da crise financeira, com a baixa do poder de compra das famílias e exortamos a quantos têm responsabilidade nesta matéria que se tornem as medidas políticas mais justas de modo a que as pessoas menos protegidas não lhes faltem a proteção e o apoio da sociedade", referiu o arcebispo de Luanda.
Demolições, violência e pobreza
Os bispos lamentaram a continuidade das demolições e o "cortejo das famílias que ficaram desamparadas, vivendo ao relento e algumas há vários meses ou mesmo anos, como no Panguila, partilhando (famílias diferentes) a mesma residência".
Sobre a situação política, Filomeno Vieira Dias lamentou ainda a continuidade de sinais de intolerância política um pouco pelo país, bem como os assaltos violentos e outras situações de insegurança. O Presidente da CEAST manifestou também preocupação com o aumento do número de desempregados, sobretudo entre a juventude.
Vieira Dias fez igualmente referência à "necessidade urgente" de se realizarem eleições autárquicas em Angola, que considerou um "fator importante" para o desenvolvimento da sociedade angolana, tendo saudado o processo de registo eleitoral em curso.
Justiça social
O arcebispo de Luanda sublinhou que, apesar de a igreja não poder colocar-se no lugar do Estado, na assunção da responsabilidade da organização política da sociedade, não pode ficar alheia à luta e à exigência pela justiça.
Como forma de contestação, um grupo de 14 advogados instaurou um processo no Tribunal Supremo alegando que a nomeação de Isabel dos Santos é inconstitucional e ilegal. Porém, passados mais de 100 dias, a Justiça ainda não apresentou nenhuma resposta.
Os organizadores da marcha do dia 26 de novembro apelam à participação dos cidadãos indiganados com a nomeação da filha de José Eduardo dos Santos à Sonangol, e também com a politização do sistema de Justiça em Angola.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".