Em entrevista à DW África, o bispo Luiz Fernando Lisboa confirma que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) agiram de forma "um pouco agressiva". Os casos já terão sido denunciados.
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Na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, as denúncias do uso excessivo de força por parte das Forças de Defesa e Segurança (FDS) são cada vez mais frequentes. O bispo de Pemba, dom Luiz Fernando Lisboa, confirma que houve queixas e esclarece que tal aconteceu devido à denúncia da suposta presença de insurgentes infiltrados entre os deslocados internos, o que terá levado as autoridades a recorrerem à violência.
"Num determinado momento, chegaram muitas pessoas a Pemba. Falava-se que, junto com essas pessoas, com esses deslocados, poderiam estar pessoas infiltradas", afirma em entrevista à DW África.
"A polícia foi um pouco ativa, um pouco agressiva no início, mas isso já foi denunciado. Eu penso que as FDS têm que ter mais cuidado, porque devem defender a população", acrescenta.
Cabo Delgado: "As forças de defesa têm que ter mais cuidado"
Dom Luiz Fernando Lisboa pede que as FDS "cumpram bem o seu papel para que a população acredite e confie" nelas. "Penso que certamente já foram chamados à atenção aqueles que ultrapassaram os limites, pois isso não pode acontecer", diz.
Sobre uma melhor resposta à ação insurgente na província, que já começa a ser realidade no terreno graças ao apoio de mercenários estrangeiros, o bispo de Pemba afirma: "Nós sempre defendemos que precisamos de ajuda".
"As Forças de Defesa e Segurança, por muito tempo, trabalharam sozinhas e não estavam conseguindo dar conta da situação. Nós não sabemos exatamente quem está, porque nós não estamos lá no campo de batalha", sublinha. "Nós sabemos que as FDS estão a atuar e a aumentar os seus efetivos. Antes, atacavam cada vez numa aldeia e agora, como eu disse, atacam simultaneamente."
Por este motivo, o bispo de Pemba diz que "toda a ajuda que for possível" é bem-vinda. "Se não conseguirmos sozinhos, com a ajuda, quem sabe, somos mais capazes", afirma.
"Quando eles atacam, atacam sempre outras casas, comércio, etc. Não sei se sabiam que ali havia uma missão católica", afirmou.
O bispo de Pemba denuncia que os atacantes mudaram de tática, passando a atacar as aldeias simultaneamente. "Acaba por ficar muito mais difícil. Agora, há uma forte crise humanitária: há fome, porque são mais de 200 mil deslocados", alertou.
"Muitas pessoas saem de casa sem nada ou com poucos pertences. Chegam sem comida. E atender a todas essas pessoas, nesta situação, não é uma tarefa fácil", acrescentou.
Zonas de guerra transformadas em locais de desenvolvimento
Regiões da província de Maputo testemunharam ataques e mortes durante a guerra civil em Moçambique. Antigos cenários de guerra tornam-se hoje palco para o desenvolvimento local do comércio e da indústria.
Foto: DW/R. da Silva
Um passado de mortes
A região onde fica a aldeia 3 de Fevereiro, a norte da província de Maputo, foi a mais dilacerada pela guerra civil. Na altura, a imprensa tinha como manchetes para as suas capas o sofrimento dos residentes desta região. Não há números exatos, mas houve muitas mortes na sequência de ataques atribuídos à Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o atual maior partido da oposição.
Foto: DW/R. da Silva
A escola mais atacada
Este estabelecimento de ensino, construído na época colonial, dedicava-se à formação de professores africanos. Durante a guerra civil, foram reportados ataques e os alunos muitas vezes deslocavam-se à vila da Manhiça. Hoje, a escola é a sede do Instituto Médio Politécnico Alvor.
Foto: DW/R. da Silva
Abrigo para os fugitivos
Esta varanda já tinha donos: os deslocados dos arredores da vila da Manhiça encontravam neste lugar o mais seguro apenas para passar a noite. A varanda foi atacada algumas vezes, o que os desesperou. Hoje, como se pode notar, no local há estabelecimentos comerciais.
Foto: DW/R. da Silva
Marcas da guerra
Há zonas, como Magude, cujos edifícios nunca mereceram reabilitações que possam fazer esquecer as marcas da guerra. Este edifício faz parte da missão católica de Magude, que foi atacado durante a guerra, e que nunca mais conheceu uma reabilitação.
Foto: DW/R. da Silva
Única entrada, única saída
Esta é uma ponte que desperta curiosidade aos que pela primeira vez visitam a vila de Magude. Pela mesma ponte passam peões, motociclistas, viaturas e locomotivas. Por baixo, passa o rio Inkomati, que não impedia ataques durante a guerra a esta pequena vila.
Foto: DW/R. da Silva
Repovoamento de animais
O distrito de Magude localiza-se mais a nordeste da província de Maputo. Esta zona foi severamente afetada pela guerra e a população bovina baixou drasticamente. Mas agora, com projetos de repovoamento destes animais, Magude é dos maiores produtores de carne na província.
Foto: DW/R. da Silva
Isolamento
O distrito de Magude é um dos mais isolados da província de Maputo. O seu desenvolvimento está a ser muito lento, apesar de a guerra ter terminado há mais de 20 anos. Falta muita coisa por melhorar. Esta loja, por exemplo, ainda apresenta marcas da guerra.
Foto: DW/R. da Silva
Coluna militar
A guerra abateu-se muito sobre Maluana. Este posto administrativo do distrito de Manhiça ficou conhecido pelos ataques que sofria. A coluna militar era a única que ajudava as pessoas a passar por esta zona. Pouco depois da guerra, as marcas eram ainda visíveis - como carcaças de viaturas queimadas. Agora, está a registar um desenvolvimento, com o comércio informal a ganhar força.
Foto: DW/R. da Silva
Centro de tecnologias
O Governo de Moçambique criou um centro de tecnologias nesta região severamente afetada pela guerra, o que antes era impensável. É um edifício que foi instalado no meio da mata, precisamente numa estrada de terra que dá acesso ao centro de formação de militares de Munguine, mais a leste da província de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
De cenário de guerra a pólo económico
A região de Bobole, no distrito de Marracuene, também foi uma zona de guerra. Aliás, as atrocidades começavam nesta região e o cenário era de "cada um por si e Deus por todos". As colunas militares começavam ou descansavam neste ponto. Hoje, a multinacional Heineken instalou aqui a sua empresa e Bobole está a ter novo rosto económico.
Foto: DW/R. da Silva
Estância turística
Esta é a entrada para a aldeia de Taninga. Tal como a 3 de Fevereiro, esta aldeia testemunhava frequentemente mortes e muitos dos residentes destas duas aldeias vizinhas acabaram por se refugiar na vila da Manhiça e outros na cidade de Maputo. Hoje, há uma estância turística que faz esquecer as marcas da guerra.
Foto: DW/R. da Silva
Proteção dos corredores ferroviários
Os que viveram os momentos de instabilidade e que precisavam frequentemente se deslocar contam que o comboio de passageiros era igualmente atacado. O corredor do Limpopo era crucial para o transporte de mercadorias para países vizinhos. A RENAMO e o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) acabaram por assinar um acordo para não atacar corredores ferroviários de todo o país.