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Bispos católicos criticam política moçambicana

28 de agosto de 2012

Em documento de 20 páginas, Conferência Episcopal de Moçambique se preocupa com exploração de recursos minerais e pede transparência nas negociações sobre reservas para evitar desigualdades na distribuição das riquezas.

Maputo, capital de Moçambique
Maputo, capital de MoçambiqueFoto: picture-alliance/dpa

Para refletir sobre os 20 anos da assinatura do Acordo Geral de Paz que pôs fim à guerra civil no país, a Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) publicou texto em que critica falta de tolerância no governo e na oposição.

A Nota Pastoral às Comunidades Cristãs e aos Homens e Mulheres de Boa Vontade, como foi intitulado o documento, está dividida em três partes e ressalta os bons frutos da democracia no país, mas também pede transparência política.

Os bispos católicos manifestam preocupação com projetos de exploração de recursos minerais que correm o risco de concentrar a riqueza na mão de poucos em vez de melhorar a situação do país. "Pode até haver entrada de muito capital, mas de esse capital calhar de não ser efetivamente distribuído", explica o bispo Ernesto Maguengue. "Uma economia que cresce e não se reverte em crescimento da economia familiar pode ser problemática", adverte.

Partidos reagem

Para Antonio Michanga, membro do Conselho de Estado pelo principal partido de oposição, a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), a Conferência Episcopal se referiu aos partidos políticos no texto para suavizar críticas que deveriam ser direcionadas ao governo. "Eu acho que o bispo não teve coragem de falar diretamente, mas eu vi uma entrevista em que o arcebispo disse que, para as pessoas terem emprego em um estado, precisam apresentar cartão de um partido e todos sabem que não é a Renamo quem está a governar", argumenta.

Extração de carvão em Moatize, província moçambicana de TeteFoto: Gianluca Guercia/Getty Images

Michanga acusa a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), no poder, de fazer uso da máquina pública em benefício particular do partido. "Quando a Frelimo seguia os princípios democráticos, começava as reuniões na sexta-feira à tarde, mas agora faz no meio da semana e leva consigo a estrutura do estado, fechando instituições públicas", reclama. "Este tipo de situação acaba afetando a todo o sistema", agrega o representante da Renamo.

Já o porta-voz da Frelimo, Édson Macuacua, nega as acusações da Renamo e da CEM. "Este é um discurso típico de oposição e a Renamo cumpre seu papel. Moçambique tem leis e órgãos reponsáveis para investigar irregularidades. Se eles têm acusações, que as levem adiante", rebate.

Em 1992, governo e oposição assinam acordo que põe fim a guerra civil em Moçambique

Macuacua disse ainda desconhecer a causa das desconfianças da CEM quanto aos projetos de exploração de recursos minerais. Para ele, o documento da Conferência Episcopal apenas prova a existência da liberdade de expressão em Moçambique. "Se eles próprios criticam abertamente, significa que há democracia, há liberdade e há tolerância política", conclui.

Fim da guerra civil

Em 4 de outubro 1992, Moçambique oficializava o fim da guerra civil de 16 anos no país com a assinatura do Acordo Geral de Paz. O tratado foi assinado na Itália, intermediado pela organização católica Comunidade de Santo Egídio. As Nações Unidas acompanharam os processos de desarmamento de tropas e as primeiras eleições gerais multipartidárias no país em 1994.

Autora: Patrícia Álvares
Edição: Renate Krieger / António Rocha

28.08.12 Moçambique CEM - MP3-Mono

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