Bispos moçambicanos não dão bênção a uniões do mesmo sexo
Lusa
29 de dezembro de 2023
Os bispos católicos moçambicanos anunciaram hoje ter decidido que "não se dê bênção" às "uniões irregulares e uniões do mesmo sexo", apesar da decisão contrária anunciada pelo Vaticano.
Publicidade
"Nós, os bispos, decidimos que em Moçambique não se dê bênção a uniões irregulares e uniões do mesmo sexo. Que o modelo de Igreja Família de Deus continue a ser o que inspira o nosso ser Igreja em Moçambique, e que Maria, Rainha da Família, guie e proteja as nossas famílias", de acordo com um comunicado divulgado pela Conferência Episcopal de Moçambique (CEM).
O Vaticano autorizou em 18 de dezembro, oficialmente, a bênção dos casais do mesmo sexo, "em situação irregular" para a Igreja, mantendo a oposição ao casamento homossexual.
É a primeira vez que a Igreja se pronuncia claramente sobre a bênção dos casais do mesmo sexo, um assunto que gera tensões no interior da instituição, devido a uma forte oposição do setor conservador, nomeadamente nos Estados Unidos.
Esta bênção não "será realizada ao mesmo tempo que os ritos civis de união, nem mesmo em relação a eles", indicou, em documento, o Dicastério para a Doutrina da Fé, órgão da Santa Sé, aprovado pelo papa Francisco.
"O documento, depois de ter apresentado a riqueza e variedade do conteúdo indicado pelo termo bênção, autoriza o ministro ordenado a abençoar casais irregulares ou do mesmo sexo, facto este que está a provocar no meio das nossas comunidades cristãs, e não só, questionamentos e perturbações", reconhece a CEM.
"Doutrina permanece inalterada"
"A doutrina sobre o matrimónio e a família permanece inalterada porque, a bênção de que fala a Declaração, nada tem a ver com a liturgia e a celebração do sacramento do matrimónio, e a celebração deste sacramento não pode ser substituída de nenhum modo com uma bênção, como é prática nalgumas igrejas não católicas", acrescentam os bispos, na mesma declaração.
Publicidade
Defendem, contudo, que as pessoas que vivem em "situação de união irregular não devem ser afastadas da comunidade cristã, mas devem ser ajudadas, como todo o fiel, a adequar a sua vida à vontade de Deus por meio da proximidade da Igreja que conforta, cuida e infunde coragem".
"A Declaração [do Vaticano] afirma que a bênção apresentada como possível a ser invocada sobre uma união irregular ou do mesmo sexo, não pretende legitimar estas uniões. Porém, na mente de muitos fiéis e na linguagem comum, com o termo bênção entende-se o mesmo que legitimar o que se abençoa. Por isso, a CEM exorta todos os ministros ordenados para que manifestem proximidade e acompanhamento a quem vive em uniões irregulares", conclui a declaração.
Apesar do não reconhecimento da Santa Sé, a bênção dos casais do mesmo sexo era já praticada por alguns padres, nomeadamente na Bélgica e na Alemanha. No início de outubro, cinco cardeais conservadores exigiram publicamente ao papa Francisco que reafirmasse a doutrina católica sobre os casais gay, mas o documento final do Sínodo deixou esta questão de parte.
Em 2021, o Vaticano havia reafirmado que considerava a homossexualidade "um pecado" e confirmou a impossibilidade de os casais do mesmo sexo receberem o sagrado matrimónio. Desde a eleição, em 2013, que Francisco insiste na importância de uma Igreja "aberta a todos" e tomou várias medidas que suscitaram a ira dos conservadores.
Esperança, paz e reconciliação na visita do Papa Francisco a Moçambique
O líder da Igreja católica foi recebido em festa pelo país inteiro. Mas houve críticas ao alegado aproveitamento político da visita em vésperas de eleições.
Foto: DW/M. Sampaio
Moçambique em festa
Volvidas mais de três décadas sobre a última visita de um Papa a Moçambique, esta quarta-feira, 4 de setembro, foi a vez do Papa Francisco levar aos moçambicanos uma mensagem de paz, justiça e reconciliação. Por poucos momentos, o país esqueceu as dificuldades políticas, económicas e sociais que atravessa para celebrar o sumo pontífice.
Foto: DW/M. Sampaio
Danças e cantares para o Papa
A festa começou logo à chegada do Papa Francisco no fim da tarde. Muitos moçambicanos têm esperança que o chefe da Igreja católica dê um novo ímpeto ao processo de reconciliação, numa altura em que o acordo de paz assinado entre a RENAMO e a FRELIMO há poucas semanas volta a ser posto em causa por milícias armadas.
Foto: DW/M. Sampaio
Aproveitamento político?
O Papa Francisco foi recebido com as devidas honras pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, mas dos partidos da oposição choveram críticas ao alegado aproveitamento político da visita pelo partido no poder, a FRELIMO. Tanto mais que o país está em vésperas de eleições gerais, marcadas para 15 de outubro.
Foto: DW/Ricardo Franco
Suspensão da campanha eleitoral
A campanha eleitoral em Maputo foi interrompida pela duração da visita. A decisão não convenceu os partidos da oposição. O porta-voz do MDM, Sande Carmona, levantou mesmo a suspeita de que a visita do Papa "seja uma oportunidade para a lavagem de dinheiro dos cofres do Estado, para financiar a campanha eleitoral da FRELIMO". A visita do Papa terá custado ao Estado o equivalente a 300 mil euros.
Foto: DW/M. Sampaio
Apelo aos direitos humanos
A Amnistia Internacional (AI) pediu ao Papa que na sua deslocação a Moçambique aborde com o Presidente Nyusi a situação da violação dos direitos humanos. Uma carta subscrita pela AI e mais 11 organizações moçambicanas e internacionais expressa enorme preocupação "com a crescente intimidação e perseguição aos defensores dos direitos humanos, ativistas, organizações da sociedade civil e média"
Foto: DW/M. Sampaio
Nação abençoada
"Moçambique é uma nação abençoada e vós especialmente sois convidados a cuidar desta bênção", disse o Papa no seu primeiro discurso em Moçambique. Mas Francisco também frisou que "sem igualdade de oportunidades" não há paz duradoura. Francisco criticou "a pilhagem e espoliação" no país.
Foto: DW/Ricardo Franco
Encontro com os jovens de Moçambique
Jovens de todas as confissões foram convidados a encontrar-se com o Papa no Pavihão de Maxaquene em Maputo. O pavilhão encheu para escutar a mensagem de Francisco. Que foi clara: "Estejam atentos àqueles que querem dividir e fragmentar". Uma alusão também a movimentos obscuros de cariz islamita suspeitos de estarem na origem de violência no norte do país.
Foto: DW/M. Sampaio
Alegria ecuménica
Nas redes sociais circularam apelos de proveniência incerta contra a participação de jovens muçulmanos na festa em torno do Papa. Mas muitos muçulmanos foram ouvir a mensagem de paz e reconciliação que lhes foi igualmente dirigida. "A alegria de viver, como se pode sentir aqui, a alegria partilhada e celebrada, reconcilia", declarou Francisco.
Foto: DW/M. Sampaio
A 47ª visita do Papa ao exterior
Jorge Mário Bergoglio é o segundo Papa a escalar Moçambique depois de João Paulo II em 1988. O lema da visita é "Esperança, Paz e Reconciliação". Moçambique é o sétimo país que Francisco visita em 2018, e o 47° desde que chegou ao Vaticano em 2013. De Moçambique o líder católico segue para o Madagáscar e as Ilhas Maurícias.
Foto: DW/Ricardo Franco
Atentos às palavras do Papa
O Estádio Nacional do Zimpeto encheu na manhã de sexta-feira (06.09) para a celebração da missa e homilía pelo Papa Francisco. A missa, que colocou um ponto final na visita papal, foi celebrada no dia em que se assinala um mês da assinatura de um acordo de paz - o terceiro desde 1992 - entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Foto: DW/M. Sampaio
Apelo ao combate contra a corrupção e pela paz
Durante a homilía, o Papa Francisco fez um apelo para o combate à corrupção: "Moçambique possui um território cheio de recursos naturais e culturais", disse, mas apesar destas riquezas, "uma quantidade enorme de população vive abaixo do nível de pobreza". Numa alusão à situação de violência armada em Cabo Delgado, o Papa pediu ainda que se amem os inimigos, sem lhes responder com violência.