CEDEAO dá 48 horas ao Governo de Faustino Imbali para apresentar demissão. Entretanto, Conselho Superior de Defesa sugere a Presidente que instrua forças de segurança a facilitar acesso do novo Executivo a departamentos.
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A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) fez esta terça-feira (06.11) um "último apelo" ao Governo de Faustino Imbali, nomeado na semana passada pelo Presidente cessante, José Mário Vaz.
A organização pede "a todos os que, de forma abusiva, integram o Governo ilegal de Faustino Imbali para que se demitam e se distanciem de qualquer iniciativa que possa comprometer o processo das eleições presidenciais, confiado às instituições legais".
A CEDEAO não reconhece a decisão do Presidente cessante de exonerar o Governo de Aristides Gomes, que saiu das legislativas de março, e nomear um novo Executivo, porque o mandato de José Mário Vaz já terminou. A organização ameaçou na semana passada com sanções.
A DW África tentou obter uma reação da Presidência e do primeiro-ministro, Faustino Imbali, sem sucesso. O Presidente cessante deverá fazer esta quarta-feira uma passeata nas ruas de Bissau, no âmbito da campanha eleitoral.
O ultimato da CEDEAO surge numa altura em que aumenta a tensão política na Guiné-Bissau, com a força militar da organização, a Ecomib, a proteger as principais instituições da República, altas figuras da nação e alguns candidatos presidenciais.
Durante dois dias, o Presidente José Mário Vaz reuniu-se com chefias militares e chefes das corporações das forças de segurança para fazer valer o decreto que exonerou o Governo de Aristides Gomes e o decreto de nomeação de Faustino Imbali.
Esta terça-feira, o Conselho Superior da Defesa Nacional "aconselhou o Presidente da República, na veste de Comandante Supremo das Forçar Amadas, para instruir a força conjunta, nomeadamente as forças de segurança, no sentido de facilitar o acesso dos membros do Governo aos respetivos departamentos governamentais", refere-se num comunicado.
"Grave atentado ao clima de paz e estabilidade"
O primeiro-ministro Aristides Gomes reuniu o Conselho de Ministros no palácio do Governo, sob fortes medidas de segurança.
No final, o porta-voz do Executivo, Armando Mango, ao ler o comunicado governamental, acusou o Presidente cessante e candidato às presidenciais, José Mário Vaz, de tentar efetivar um golpe de Estado.
O Governo de Aristides Gomes condenou "com veemência, a convocação da pretensa reunião do Conselho Superior da Defesa Nacional pelo candidato José Mário Vaz, nos moldes em que o fez e num momento em que decorre a campanha eleitoral com vista às eleições presidenciais de 24 de novembro corrente."
"Este facto configura um grave atentado ao clima de paz e estabilidade reinantes no país e confirma a tese de tentativa de golpe de Estado, denunciado, em tempo útil, pelo primeiro-ministro", afirmou o porta-voz. Denunciou ainda a tentativa do Presidente cessante de impor, a todo custo, um Governo "inconstitucional" e "ilegal" por ele instituído, algo que foi condenado por toda a comunidade internacional.
CEDEAO faz ultimato ao Governo de Faustino Imbali
Acusações de ingerência
Entretanto, o candidato do líder da oposição guineense, o Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15), acusa a CEDEAO de ingerência nos assuntos internos da Guiné-Bissau.
Umaro Sissoco Embaló disse que a comunidade internacional está a ser manipulada: "Sabemos sempre que a comunidade internacional faz erros de avaliação. Cometeram erros na Líbia, Somália, Iraque e noutros países. Estão a fazer a mesma coisa na Guiné-Bissau. Estou muito magoado e triste", disse.
Em Bissau, reina a incerteza sobre o que pode acontecer nas próximas horas, com muita movimentação militar nas principais avenidas.
A CEDEAO convocou para sexta-feira (08.11) uma cimeira extraordinária sobre a crise política na Guiné-Bissau, para Niamey, no Níger.
Ser mulher na Guiné-Bissau significa vida dura
A maioria das mulheres guineenses tem uma vida difícil. Têm de percorrer dezenas de quilómetros para ir buscar lenha. Muitas morrem ainda jovens. A taxa guineense de mortalidade materna é uma das mais altas do mundo.
Foto: DW/B. Darame
Primeira a acordar, última a ir dormir
No campo, uma mulher trabalha a dobrar. Costuma acordar antes dos restantes membros da família e é a última a deitar-se no final do dia. São as mulheres que têm de caminhar até à mata para procurar lenha e água, às vezes em zonas de difícil acesso, a vários quilómetros da aldeia, como nesta fotografia na vila de Quinhamel, na região de Biombo, no norte da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Vender para sustentar a família
Com um pano estendido no chão, as vendedoras vão expondo os seus legumes, malaguetas verdes, pepinos, cenouras, alfaces. São cultivados em quintais ou em pequenos campos. "Vender para sustentar a família" é o lema das mulheres guineenses. Mais de metade vende em feiras improvisadas, como aqui no Mercado de Bandim, o maior mercado de céu aberto da cidade de Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Economia dominada por homens
À beira das estradas, as mulheres sentam-se em bancos e mesas de madeira e vendem laranjas, mangas, bananas e outros frutos - como aqui em Bissack, bairro nos arredores de Bissau. As vendedoras têm uma receita que ronda os 10 euros diários. Em média, uma guineense consegue ganhar 907 dólares por ano, bastante menos que os homens que conseguem em média 1.275 dólares.
Foto: DW/B. Darame
Recolher areia para sobreviver
Tia Nhalá não sabe que idade tem, mas sabe que todos os dias deve acordar cedo, às 05h00, para recolher areia no bairro de Cuntum, em Bissau. Sem qualquer proteção no rosto, sem luvas e pés descalços, Nhalá, que aparenta ter 67 anos, trabalha duramente durante largas horas. Recolhe areia que depois vende a pessoas que a usam em obras de construção civil.
Foto: DW/B. Darame
Venda ambulante em condições perigosas
No Bairro de Belém, em Bissau, meninas deambulam de porta em porta para vender frutas. Organizações da sociedade civil denunciaram já várias vezes que as vendedoras ambulantes correm riscos, como o de serem violadas sexualmente, pois estão muito expostas e vulneráveis. Também há denúncias de que algumas mulheres são forçadas a fazer esse trabalho.
Foto: DW/B. Darame
Vender peixe é um bom negócio
As vendedoras de peixe geralmente possuem arcas velhas para a conservação do pescado. Colocam-nas nos portos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - para servir de local de armazenamento quando receberem peixe fresco dos pescadores. Nos últimos anos, a venda de peixe tornou-se num dos negócios mais rentáveis para as mulheres guineenses.
Foto: DW/B. Darame
Um dos piores países para ser mãe
As condições precárias nas zonas rurais da Guiné-Bissau têm reflexos nas estatísticas: em 126 partos morre uma mulher, segundo dados das Nações Unidas. Em comparação, no Japão, em 20.000 partos morre uma mulher. A taxa de mortalidade materna na Guiné-Bissau é uma das mais altas do mundo. Ainda assim, não existe no país uma estratégia política dirigida à mulher no meio rural.
Foto: DW/B. Darame
País difícil para as crianças
Cada mulher guineense tem em média cinco filhos. O país tem uma das taxas de fecundidade mais altas do mundo. Mas muitas crianças não chegam a celebrar o seu quinto aniversário. Segundo dados das Nações Unidas, 129 de 1.000 crianças morrem até aos cinco anos de idade, muitas durante no parto, o que torna a Guiné-Bissau um dos piores países do mundo para se nascer.
Foto: DW/B. Darame
Trabalhos domésticos no feminino
Em Mansoa, região de Oio, norte da Guiné-Bissau, as casas de adobe agrupadas debaixo de enormes árvores desenham intricados caminhos onde secam redes de pesca, peles de antílopes e roupas rasgadas de criança. A comida prepara-se num fogão improvisado a lenha, em frente da casa. Trabalhos domésticos como cozinhar, cuidar das crianças ou limpar cabem tradicionalmente às mulheres.
Foto: DW/B. Darame
Carregar à cabeça é a única solução
Nas zonas mais recônditas da Guiné-Bissau, como na aldeia de Suru, região de Biombo, a cerca de 20 quilómetros de Bissau, não há uma rede de estradas que facilite o transporte das mercadorias. Não há carros que façam as ligações entre as aldeias. Carregar à cabeça, por vezes mais de cinco quilos, é a única solução para que essas mulheres possam fazer chegar os produtos ao destino.
Foto: DW/B. Darame
Lenha e água a quilómetros de distância
Nas mais de 80 ilhas e ilhéus completamente isolados e sem grande presença do Estado guineense, as populações vivem no regime do "salva-se quem poder". As mulheres percorrem dezenas de quilómetros para ir buscar lenha e água potável. Em muitos casos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - atravessam rios caminhando, com os pés descalços, sem roupas adequadas e carregadas.
Foto: DW/B. Darame
Ultrapassando rios e braços de mar
Devido à falta de barcos nas aldeias insulares do arquipélago dos Bijagós, o fornecimento e o transporte de bens é extremamente difícil. É recorrente ver mulheres atravessando rios ou braços de mar bastante profundos. Estes caminhos para procurar lenha e água doce são bastante perigosos para quem não sabe nadar.
Foto: DW/B. Darame
Desigualdade começa na educação
A maioria das mulheres guineenses vive em situação de extrema pobreza. Em médias, as mulheres frequentaram a escola apenas 1,4 anos, menos de metade do que os homens guineenses, que têm em média 3,4 anos de escolaridade, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. Só investindo na educação e na saúde será possível melhorar a situação das mulheres da Guiné-Bissau.