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Liberdade de imprensaGuiné-Bissau

"Guerra aberta" entre sindicato dos jornalistas e Sissoco

Iancuba Dansó
15 de julho de 2024

O chefe de Estado dirigiu palavras ofensivas a um jornalista, no sábado. O Sindicato dos Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social apela ao boicote das atividades de Sissoco Embaló para "repor" o respeito à classe.

Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló
Foto: Phill Magakoe/AFP

O Sindicato dos Jornalistas e Técnicos de Comunicação Social (SINJOTECS) apela aos órgãos de comunicação social que boicotem as atividades de Umaro Sissoco Embaló. Aconselha ainda o chefe de Estado a melhorar a sua "conduta social" e "profissional", após usar palavras insultuosas contra um jornalista, no sábado (13.07).

"O Presidente da República é das poucas entidades ou a única figura que sempre teve este tipo de comportamento com os profissionais de comunicação social", comenta o secretário-geral do SINJOTECS, Diamantino Lopes, em declarações à DW.

Só uma perspetiva pedagógica não chega, continua Lopes. Será necessário um boicote para que o Presidente da República "possa melhorar esta situação".

Diamantino Lopes: "O Presidente da República é das poucas entidades que sempre teve este tipo de comportamento"Foto: Iancuba Dansó/DW

"O Presidente não deve baixar o nível"

No sábado, Umaro Sissoco Embaló usou palavras de "baixo calão" contra um jornalista que pedia a reação do chefe de Estado à contestação dos partidos sobre a intenção de marcar as legislativas para 24 de novembro, em vez das presidenciais.

Sissoco Embaló não terá gostado da abordagem do jornalista, soltou palavras insultuosas e, em seguida, abandonou o local onde estava a prestar declarações.

A Rede dos Defensores dos Direitos Humanos da Guiné-Bissau (RDDH-GB) considera "pouco digna" a atitude do Presidente guineense.

"Nós chamamos a atenção para que melhore o seu comportamento e a sua atitude perante essa classe profissional, porque senão ninguém vai compreender o papel reservado ao Presidente da República", apela o coordenador da rede, Victorino Indeque.

Victorino Indeque, coordenador da Rede dos Defensores dos Direitos Humanos da Guiné-BissauFoto: Iancuba Dansó/DW

"O Presidente não deve baixar o nível até ao ponto de dirigir palavrões a pessoas sérias que estão a trabalhar para o país."

Apelo inédito

Apesar de vários casos de violações e intimidações aos jornalistas e órgãos de comunicação social, registados na história democrática do país, esta é a primeira vez que se apela ao boicote às atividades de um Presidente da República da Guiné-Bissau.

Diamantino Lopes, do SINJOTECS, diz não temer eventuais represálias em decorrência desta posição do sindicato. "Porque é um direito que assiste aos profissionais de comunicação social, de cobrir um ato. Quando você percebe que corre o risco de ser insultado ou agredido, é melhor resguardar-se."

O sindicalista refere que o apelo está feito e a bola fica agora do lado dos órgãos de comunicação social guineenses. Para já, não há indicações de que os jornalistas atenderão ao pedido do SINJOTECS.

Não é caso único

Desde que Umaro Sissoco Embaló assumiu a Presidência do país, em 2020, tem acusado os jornalistas de serem parciais e da oposição. Enquanto primeiro-ministro, em 2017, Embaló chegou a ameaçar contratar órgãos estrangeiros para atuar na Guiné-Bissau, porque via pouca qualidade e parcialidade nos profissionais de comunicação social do país. A esses episódios, juntam-se os recentes ataques armados à rádio privada Capital FM e a queda do país no índice global de liberdade de imprensa.

Victorino Indeque, coordenador da Rede dos Defensores dos Direitos Humanos da Guiné-Bissau, considera que, para acabar com os ataques contra jornalistas, é preciso uma mobilização nacional.

"Não só os jornalistas, que já estão a fazer o seu trabalho, mas todas as franjas da sociedade, principalmente as organizações defensoras dos direitos humanos, têm de se mobilizar", conclui.

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