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Bissau: Mandato de Sissoco termina em meio à polémica

3 de setembro de 2025

Mandato presidencial de cinco anos de Umaro Sissoco Embaló termina esta quinta-feira no meio de uma polémica de interpretações de competências constitucionais que a oposição defende que ficaram reduzidas.

Umaro Sissoco Embaló
Umaro Sissoco EmbalóFoto: Kristina Kormilitsyna/REUTERS

A oposição tem defendido que, a partir 04 de setembro, Umaro Sissoco Embaló já não terá poderes para assinar decretos presidenciais, com alguns setores a reclamar mesmo o seu abandono do Palácio da República.

Num discurso no dia 11 de agosto, quando conferiu posse a Braima Camará como novo primeiro-ministro de um Governo de iniciativa presidencial, Sissoco Embaló respondeu à oposição que continua em funções com todos os poderes constitucionais.

"Oiço as pessoas dizerem que o mandato do Presidente termina no dia 04 [de setembro]. Sim. Mas isso não quer dizer que o Presidente sai do Palácio ou não pode decretar. Não é assim. O Presidente assina decretos até o dia que deixar funções de Presidente, com a posse de um novo Presidente", declarou Embaló.

A polémica começou a partir do momento em que a oposição a Embaló reclamou o fim do seu mandato de cinco anos no dia 27 de fevereiro deste ano, tendo em conta a data da posse, com o Presidente guineense a alegar que só cessa a 04 de setembro.

Umaro Sissoco Embaló afirma que o seu mandato conta a partir da data (04 de setembro de 2020) em que o Supremo Tribunal de Justiça se pronunciou sobre o contencioso eleitoral levantado pelo seu oponente na segunda volta das presidenciais, Domingos Simões Pereira, que não reconheceu a sua derrota no escrutínio.

Mesmo tendo assumido funções, conforme o próprio, "de forma simbólica", num hotel de Bissau, a 27 de fevereiro de 2020, Embaló afirmou, meses depois, que o seu mandato só começa a contar a partir do veredicto do Supremo, que na Guiné-Bissau também tem as competências de Tribunal Constitucional.

A polémica adensou-se ainda mais quando Umaro Sissoco Embaló defendeu que as eleições presidenciais, à luz da Constituição do país, só se realizam entre os meses de outubro e novembro do ano em que termina o mandato do Presidente e marcou eleições gerais e presidenciais para 23 de novembro deste ano.

Eleições legislativas

A oposição entende que as eleições legislativas deveriam ocorrer 90 dias após a dissolução do parlamento, ocorrida em dezembro de 2023, antes de decorridos os 12 meses impostos pela Constituição, e as presidenciais cinco anos após a eleição anterior (que aconteceu a 24 de novembro de 2019, com segunda volta a 29 de dezembro desse ano). 

Embaló alegou que não convocou eleições legislativas conforme reza a Constituição por ter dissolvido o parlamento na sequência "de uma grave crise institucional" que resultou numa alegada tentativa de golpe de Estado que teria o concurso de alguns deputados.

O presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e da coligação PAI-Terra Ranka, afastada do poder em dezembro de 2023, Domingos Simões Pereira, reclama agora que Sissoco Embaló seja coerente.

Grupo de guineenses exige fim do mandato de Sissoco Embaló

02:33

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Principal adversário de Sissoco Embaló, Simões Pereira recorda que sempre defendeu que o mandato presidencial terminava a 27 de fevereiro, mas como o chefe de Estado argumentou que não, pede que agora respeite o que disse.

Chegado o dia 04 de setembro, Domingos Simões Pereira defende que Umaro Sissco Embaló "deixe de exercer a presidência" e seja substituído pelo presidente da Assembleia Nacional Popular.

Simões Pereira era o presidente eleito da Assembleia, aquando da dissolução em dezembro de 2023, e foi deposto e substituído na comissão permanente por Adja Satu Camará, do partido MADEM G15, fundado por Embaló.

"Todos à prova"

O presidente do PAIGC considera que o atual momento coloca "todos à prova", incluindo o Supremo Tribunal de Justiça, mas disse à Lusa que não chegou a discutir, nomeadamente com as forças partidárias que o apoiam, o recurso àquele órgão para reposição da ordem constitucional que defende.

Simões Pereira disse estar disponível para voltar a candidatar-se a Presidente da Guiné-Bissau, frisando que o que o preocupa é que o atual chefe de Estado "já não esconde a sua intenção de ser ele a decidir o jogo".

"Nunca escondeu que ele tem medo de me enfrentar", afirmou, considerando "mais uma deriva de entidades que têm dificuldade de viver em democracia" a anunciada obrigação de uma declaração de não dívida ao Estado por parte dos candidatos às eleições de 23 de novembro.

O prazo de entrega das candidaturas para as presidenciais e legislativas termina a 25 de setembro com três coligações a posicionarem-se para a corrida, a PAI Terra Ranka e a API Cabas Garandi, opositoras ao regime, e a Plataforma Republicana "No Cumpu Guiné" (construímos a Guiné).

A Plataforma Republicana apoia Umaro Sissoco Embaló para um segundo mandato e concorre, também, às legislativas, propondo-se gerar consenso nacional e promover transformações sociais, com base numa nova maioria política.

Com a nomeação de Braima Camará para primeiro-ministro, no início de agosto, a coligação API Cabas Garandi, contestatária do regime, passou a ser liderada pelo antigo primeiro-ministro Baciro Djá, que disse, no passado dia 10 de agosto, que, a partir de 04 de setembro, Umaro Sissoco Embaló "deixa de ser Presidente".

O dirigente acrescentou que se Embaló se mantiver no cargo "então é porque tem apoio das Forças Armadas" e exortou as Forças Armadas a assumirem as suas responsabilidades constitucionais e o "dever de garantir a democracia".

Sissoco tem de sair da Presidência antes das eleições?

09:01

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