Bissau não deu devida importância à diáspora na Alemanha
18 de maio de 2014 A diáspora guineense, que, segundo dados oficiais, corresponde a 22.312 eleitores, votou nas eleições gerais (legislativas e presidenciais) no Senegal, Gâmbia, Guiné-Conacri, Cabo Verde, Portugal, Espanha e França. Mas, na Alemanha, apesar de um número cuja tendência é para aumentar mensalmente, os emigrantes guineenses não votaram nesta eleição presidencial, tal como aconteceu nas legislativas.
Malam Djassi, embaixador da Guiné-Bissau na Alemanha, disse que a emigração do seu país não foi contemplada para votar nas eleições gerais simplesmente por um erro de cálculo.
"Pensou-se que os cidadãos da Guiné-Bissau na Alemanha não fossem em número suficiente que justificasse a deslocação de uma equipa de recenseadores para esse objetivo", diz Djassi. "As pessoas não levaram em consideração que, com a crise de há dois anos a esta parte, muitos guineenses têm vindo a deixar Portugal e Espanha, nomeadamente para tentarem a sua sorte aqui na Alemanha".
"A comunidade guineense aqui tem números que a embaixada não conhece de forma exata. Estamos a efetuar um levantamento de forma a conhecermos com rigor quantos guineenses estão a residir atualmente na Alemanha. Sabemos que a maioria se encontra em Hamburgo e noutras cidades portuárias do norte deste país", acrescenta.
O embaixador guineense Malam Djassi desenvolveu o tema em entrevista à DW África.
DW África: Tem uma ideia geral do número de imigrantes guineenses?
Malam Djassi (MD): Segundo informações que me foram enviadas de Hamburgo, chegam diariamente muitos guineenses àquela cidade alemã. Portanto, qualquer número que avançar neste momento ficará ultrapassado nas próximas horas.
DW África: Imigrantes aqui na Alemanha já lamentaram não ter votado nas eleições gerais guineenses (legislativas e presidenciais). O que poderá dizer a essas pessoas?
MD: Recebemos, na verdade, várias queixas na embaixada. Mas o que fazer? Nada. Simplesmente tomámos nota dessas interpelações, que foram reencaminhadas a quem de direito na Guiné-Bissau.
DW África: Isso poderá ter alguma interferência nos resultados deste último pleito eleitoral?
MD: Penso que sim, porque, pelo menos, poderia ter aumentado o número de votantes e talvez até fazer pender um pouco a balança para um ou outro candidato. Mas que fique claro: existe um número suficiente de imigrantes na Alemanha que pode mexer com alguns pontos percentuais nos resultados totais.
DW África: Fala-se em 5%. Isso corresponde à verdade?
MD: Sim. Ronda essa percentagem.
DW África: Acha que com o fim deste processo eleitoral iniciará uma nova era na vida sócio-política da Guiné-Bissau? Acha que, por um lado, acabará com o ciclo de instabilidade e violência, e, por outro, tranquilizará a comunidade internacional sobre o futuro imediato do seu país?
MD: Os guineenses deram prova da sua maturidade com as eleições realizadas a 13 de abril e, mais uma vez, provaram ao mundo, como se tal fosse necessário, que somos um povo amante da paz e da convivência organizada com outros povos.
Mas a instabilidade que a Guiné-Bissau sofreu durante muito tempo foi criada por pessoas que não queriam ver o país na senda do progresso e do desenvolvimento. Compete agora aos guineenses, todos sem exceção, tirarem as ilações dessa situação e que, unidos à volta de um ideal, possamos finalmente começar a construir aquele país que um dia foi pequeno na sua extensão mas com uma fama além fronteiras.
DW África: Como guineense está otimista no que concerne ao futuro imediato do seu país?
MD: Estou mais que otimista, porque a Guiné-Bissau é um país viável, um país que tem tudo para avançar, desde que tenhamos uma liderança que ame a pátria e que queira tirar este país do obscurantismo em que esteve durante todos estes anos.
Quero deixar claro que, daqui a pouco tempo, a comunidade internacional vai ouvir o slogan "Guiné is back", ou seja, estamos de volta ao cenário internacional. E o mundo sentirá que realmente faltava este país.