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Bissau: Polícia dispersa apoiantes de Simões Pereira

Iancuba Dansó (Bissau) | Lusa
12 de março de 2021

Líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, regressou esta sexta-feira à Guiné-Bissau depois de mais de um ano a residir em Lisboa. Polícia usou gás lacrimogéneo e bastões para dispersar milhares de apoiantes.

Fotografia de arquivo, janeiro de 2020Foto: DW/B. Darame

Para dispersar a multidão que acompanhava Domingos Simões Pereira, do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, ao centro da cidade, a Polícia de Intervenção Rápida (PIR) usou bastões e gás lacrimogéneo, impedindo que milhares de pessoas tivessem acesso à sede do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Simões Pereira criticou a atuação das autoridades: "Convido a polícia a deixar esta forma de atuar de hoje em diante", afirmou.

A polícia interveio alegadamente para evitar aglomerações de mais de 25 pessoas na via pública, proibidas devido à pandemia da Covid-19.

Muitos apoiantes de Domingos Simões Pereira entraram depois na sede do PAIGC.

Ao público que se juntou, Simões Pereira prometeu ser uma voz crítica à atuação do poder: "Vou ser uma voz que vai apelar ao povo guineense a fazer frente àqueles que querem violentar o povo guineense", salientou.

O líder do PAIGC apelou ainda à resistência do povo no atual contexto do país: "Um povo que teve a capacidade de enfrentar o colonialismo, que fez 11 anos de luta armada, esse povo não pode ter medo, sobretudo não pode deixar de defender os seus direitos e as suas liberdades. Nunca."

Jornalista agredido

Entretanto, numa confusão com a multidão de apoiantes do líder do "partido dos libertadores", Adão Ramalho, jornalista da rádio privada Capital FM, foi espancado pelas forças da ordem, tendo de receber assistência médica numa das clínicas de Bissau.

O ato mereceu o repúdio de Domingos Simões Pereira. "Testemunhei de forma direta um cidadão, um irmão deste país, um jornalista, ser agredido como se se tratasse de um animal. Estou profundamente chocado. É importante dizer à nação guineense: eu voltei a partir de Lisboa de espírito aberto, coração limpo, pretendendo contribuir para construirmos um espaço de entendimento e podermos lançar o nosso país."

Domingos Simões Pereira discursou para os seus apoiantes Foto: Iancuba Dansó/DW

"Tónico para o PAIGC"

Na quinta-feira (11.02), o presidente Umaro Sissoco Embaló garantiu que não estava contra o regresso do líder do PAIGC.

"Todos os cidadãos têm direito de voltar à sua terra e eu não tenho direito de impedir nenhum cidadão de voltar ao seu país. Domingos Simões Pereira é cidadão da Guiné-Bissau e tem direito de voltar. Ninguém o expulsou da Guiné, ou alguém o expulsou?"

Domingos Simões Pereira regressa a Bissau num momento político e social agitado, com o rapto e espancamento de cidadãos, dissidências de alguns deputados do PAIGC, que decidiram aliar-se ao atual partido no poder, e semanas depois de o chefe de Estado denunciar alegados rumores sobre um possível golpe de Estado.

Foto: Iancuba Dansó/DW

Para o analista político Rui Landim, o regresso de Simões Pereira à política ativa no país, depois de um ano fora, tem muita vantagem. "É um tónico para as suas hostes, para as fileiras do PAIGC, para o combate pela democracia e para a restauração do Estado de Direito."

Ainda com o contencioso eleitoral por decidir, no Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Domingos Simões Pereira deixou a Guiné-Bissau em fevereiro do ano passado, semanas antes de o seu adversário da segunda volta das eleições presidenciais, Umaro Sissoco Embaló, ser declarado vencedor do escrutínio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e ter sido investido "simbolicamente", com o apoio dos militares.

Desde então, o político fixou residência em Portugal, de onde fazia semanalmente críticas às atuais autoridades guineenses, pela forma como têm conduzido a Guiné-Bissau. Com o seu regresso, Domingos Simões pereira promete convocar, nos próximos dias, reuniões dos órgãos do partido para analisar a situação interna no PAIGC.

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