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Bissau: Polícia trava protestos contra greve nas escolas

8 de janeiro de 2021

Jovens da organização estudantil Carta 21 foram para as ruas de Bissau protestar contra a greve dos funcionários das escolas públicas. Polícia deteve pelo menos três manifestantes.

Foto: Braima Darame/DW

Pelo menos três estudantes foram detidos esta sexta-feira (08.01) pela polícia, após confrontos em Bissau. A organização estudantil Carta 21 protestou na capital guineense contra a greve geral da Função Pública, que paralisou por completo as escolas estatais. 

O responsável da organização, Alfa Umaro Só, avança que a polícia usou gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes que protestavam em frente ao palácio do Governo.

"Deparámo-nos com um cordão policial que estava a impedir que nos aproximássemos do palácio. A polícia alegou que a nossa marcha não estava autorizada. Provocaram-nos e, quando nos estávamos a retirar, chegou a força de intervenção que lançou gás lacrimogéneo. Daí, nós começámos a apedrejar. Entrámos em confronto."

Estudantes protestaram contra greve nas escolasFoto: Braima Darame/DW

Salas de aula vazias

Alfa Só informou ainda que foram detidos três ativistas, que, neste momento, estão nas instalações da Segunda Esquadra. O responsável da manifestação garantiu que foram cumpridas as formalidades necessárias para o protesto. Mas tudo isso teria sido recusado pelas autoridades competentes: "Enviámos carta ao Ministério do Interior, mas a secretária do ministro recusou-se a receber os documentos. Fomos lá cinco vezes e rejeitou receber os nossos documentos."

"Tínhamos a autorização da Câmara Municipal de Bissau e do Ministério dos Transportes Terrestres. Por isso, saímos à rua, mas sem as forças de segurança para assegurar a segurança da manifestação."

Os manifestantes queriam aproveitar a primeira reunião do Conselho de Ministros do ano de 2021, presidida pelo Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, para pedir duas coisas: o fim da greve no setor educativo, que fez com que não haja "qualquer professor dentro das salas de aula", e a readmissão de "cinco dirigentes da escola Atadamum, que foram expulsos de uma forma ilegal, sem qualquer processo disciplinar".

Manifestação dos estudantes em Bissau, esta sexta-feiraFoto: Braima Darame/DW

Polícia não comenta

Um porta-voz da polícia afirma que não está autorizado a falar sobre o assunto e que o Ministério do Interior deverá pronunciar-se no momento oportuno. 

Sobre a manifestação, Sumaila Jaló, ativista e professor do liceu Agostinho Neto, comenta que, atualmente, o ensino público está "no fundo do poço".

"Basta recordarmos que o ano letivo 2018/19, ao invés de ter nove meses de frequência escolar, acabou por ter pouco mais de cinco meses, e o ano letivo 2019/20 ficou invalidado na maioria das escolas públicas do país. Este ano, que tinha começado com turbulências devido à pandemia da Covid-19, entrou numa fase de greves, com os professores a exigirem melhores condições e o pagamentos de dívidas. Neste momento, o ensino público está completamente abandonado."

O docente do liceu Agostinho Neto, o segundo maior do país, pede uma mobilização social para salvar as futuras gerações de guineenses: "Com esta ausência da educação, que se tem vindo a assistir, o povo deve mobilizar-se em conjunto com os alunos das escolas públicas, e devem manifestar-se de forma resistente e determinada, até que as escolas abram as portas. Mas não só. Devem manifestar-se até que as escolas passem a ter outra qualidade de ensino na Guiné-Bissau."

Júlio Mendonça, líder da UNTGFoto: DW/B. Darame

Greve com mais de 90% de adesão

Os sindicatos dos professores aderiram à greve geral decretada pela maior central sindical do país, a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné-Bissau (UNTG), que termina esta sexta-feira (08.01). O sindicato já entregou um novo pré-aviso de greve para o dia 18 de janeiro.

À DW África, o líder sindical Júlio Mendonça refere que a adesão foi superior às expetativas: "A cada dia que passa, os trabalhadores compreendem cada vez mais o motivo da nossa greve, e a adesão já ultrapassou os 90%. Todos os setores e todos os sindicatos filiados aderiram à paralisação."

Os funcionários do Estado insurgem-se contra o Orçamento Geral de 2021, que prevê um aumento dos impostos para a Função Pública e criou o denominado "Fundo de Soberania", para os titulares dos órgãos de soberania. 

Tudo isto acontece no dia em que a ONU se mostrou preocupada com a detenção ilegal e violação de direitos humanos na Guiné-Bissau contra adversários políticos e limitações à liberdade de imprensa, segundo um relatório citado pela agência Lusa com a data de 24 de dezembro. A DW África sabe que o Conselho de Segurança deverá analisar a situação vigente na Guiné-Bissau na próxima segunda-feira (11.01).

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