Analista: Posição do Governo sobre CEDEAO é "plausível"
Iancuba Dansó (Bissau)
9 de março de 2020
Opinião contrária têm os partidos que apoiam o Governo de Aristides Gomes que pedem uma mobilização nacional e internacional para a adoção de medidas que visem a "desocupação imediata do Palácio da República".
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A crise política pós-eleitoral ganhou novos contornos, depois de o Governo de Nuno Gomes Nabiam, que assume a gestão do país, ter recusado a ida da delegação da Comunidade Económica dos Estados de África Ocidental (CEDEAO) a Bissau.
No domingo (08.03), a CEDEAO informou que "anulou" a ida da sua missão de mediação de crise pós-eleitoral à Guiné-Bissau, depois de ter recebido uma carta de Nuno Gomes Nabiam, nomeado primeiro-ministro por Umaro Sissoco Embaló, que informava a organização que o seu Governo não aceitaria a ida da delegação ao país. Em causa estaria o facto de a CEDEAO ter endereçado o seu comunicado, que informava a Guiné-Bissau da chegada da sua missão de peritos, a Aristides Gomes, ex-primeiro-ministro, e não a Nuno Nabiam.
Analista: Posição do Governo sobre CEDEAO é "plausível"
O Governo de Nabiam acusa o representante da CEDEAO em Bissau, Blaise Diplo-Djomand, que mandou a carta a Aristides Gomes, de "interferências ignóbeis e desrespeitadoras" nos assuntos internos da Guiné-Bissau.
Em entrevista à DW África, o jurista guineense Fransual Dias diz que a "posição do Governo é plausível", na medida em que a "CEDEAO sabe que há um Presidente da República que foi empossado, em termos constitucionais."
"Nos termos da Constituição, do artigo 100º, é o Governo o responsável pela execução da política interna e externa do país. Portanto, não se pode estar a contactar um ex-Governo, porque o tal ex-Governo está desvinculado jurídica e politicamente em relação à execução de qualquer que seja a política", explica.
"Não se pode fugir à CEDEAO"
Opinião contrária tem o líder do partido Movimento Democrático Guineense (MDG), Silvestre Alves, que diz que, "quer se queira, quer não, não se pode fugir da CEDEAO".
"A CEDEAO é uma organização sub-regional de importância capital e que tem o mandato das Nações Unidas para intermediar o problema da Guiné. Nós não temos condições para desafiar o mundo. Quando se tem uma questão a resolver, é preciso sentar e discutir. Estamos numa situação muito débil para pretendermos sermos os senhores do nosso nariz, não temos condições para isso nem de perto, nem de longe", diz.
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Também os partidos que apoiam o Governo de Aristides Gomes, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), a Assembleia de Povo Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), a União para Mudança (UM), o Partido de Unidade Nacional (PUN) e o Partido da Convergência Democrática (PCD)], fizeram um apelo em comunicado: pedem uma mobilização nacional e internacional para a adoção de medidas que visem a "desocupação imediata do Palácio da República e de todos os órgãos de soberania e instituições da República, por parte de entidades ilegais".
Os partidos exigem ainda o reconhecimento do "Governo legitimo [de Aristides Gomes] saído das eleições legislativas" de março de 2019.
Para já, não há outro pronunciamento da CEDEAO, mandatada, na semana passada, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para que enviasse "com urgência" uma delegação a Bissau, para ajudar a resolver a crise política.
Permanência da Ecomib
Por seu lado, o Governo de Nuno Gomes Nabiam informou a CEDEAO que está a fazer diligências para que as forças de defesa e segurança nacionais substituam as da Ecomib, que termina o mandato no final deste mês.
Umaro Sissoco Embaló sempre se opôs à presença da força de interposição da CEDEAO, que está no país desde 2012, e, durante a campanha para as presidenciais, questionou mesmo os trabalhos e a necessidade de a Ecomib continuar na Guiné-Bissau.
No domingo, à margem das celebrações do segundo aniversário do seu partido, o antigo primeiro-ministro e líder da Frente Patriótica de Salvação Nacional (FREPASNA), Baciro Djá, disse que o que está a contecer na Guiné-Bissau é um "assalto ao poder". O líder da FREPASNA disse ainda que "Umaro Sissoco Embaló tem até ao dia 27 deste mês para abandonar o Palácio da República".
Presidenciais: Futuro da Guiné-Bissau adiado para segunda volta
Domingos Simões Pereira e Umaro Sissoco Embaló disputam segunda volta das presidenciais na Guiné-Bissau, a 29 de dezembro. Balanço da primeira volta das eleições feito pela CPLP, CEDEAO e União Africana é positivo.
Foto: DW/B. Darame
Domingos Simões Pereira vs Umaro Sissoco Embaló
Domingos Simões Pereira foi o vencedor das presidenciais na Guiné-Bissau, no entanto, não alcançou a maioria necessária para assumir o poder. O candidato apoiado pelo PAIGC conseguiu 222.870 votos, o que representa 40,13% do eleitorado. Seguiu-se Umaro Sissoco Embaló, do MADEM-G15, com 153.530 votos, ou seja, 27,65%.
Foto: DW/B. Darame
Medalha de bronze para Nabiam
Em terceiro lugar ficou Nuno Nabiam, com 13,16% dos votos. Seguiu-se José Mário Vaz, com 12,41%, Carlos Gomes Júnior, com 2,66%, e Baciro Djá, com 1,28% do eleitorado. Vicente Fernandes conseguiu 0,77% dos votos, Mamadu Iaia Djaló 0,51%, Idriça Djaló 0,46% e Mutaro Intai Djabi 0,43% dos votos. Os candidatos que obtiveram os piores resultados foram Gabriel Fernando Indi e António Afonso Té.
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PAIGC pede apoio de APU e FREPASNA
Segue-se agora a segunda volta, marcada para 29 de dezembro. Domingos Simões Pereira, do PAIGC, já pediu o apoio aos partidos APU-PDGB e FREPASNA. DSP disse aceitar e respeitar os resultados eleitorais divulgados e deixou um recado a Sissoco Embaló: que na campanha para a segunda volta, não serão tolerados discursos de divisão dos guineenses: "serão atacados judicial e politicamente", disse.
Foto: DW/B. Darame
MADEM-G15 conta com apoiantes de Jomav
Por sua vez, Umaro Sissoco Embaló disse confiar na vitória na segunda e voltou a fazer acusações ao adversário Domingos Simões Pereira. "A Guiné-Bissau era um país laico e de concórdia nacional, Domingos Simões Pereira semeou o ódio e a divisão entre os guineenses". Embaló já havia anunciado, antes da primeira volta, que existia um acordo entre vários partidos contra DSP, em caso de segunda volta.
Foto: Privat
Grande derrotado
O antigo chefe de Estado da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, é já considerado o grande derrotado das presidenciais. Jomav, que concorreu como independente às eleições de 24 de novembro, ficou em quarto lugar na votação, atrás de Domingos Simões Pereira, Umaro Sissoco Embaló e Nuno Nabiam. O ex-Presidente conseguiu apenas 12,41% dos votos.
Foto: DW/B. Darame
Votação ordeira
A votação de 24 de novembro foi acompanhada por 23 observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), 54 da União Africana, 60 da CEDEAO e 47 dos Estados Unidos da América. Todos elogiaram a "calma" e "serenidade" do processo.
Foto: picture-alliance/Xinhua News Agency
Votação "transparente"
Também a CNE deu nota positiva ao processo, dando conta de que não foram registados incidentes que possam comprometer a votação. Nestas eleições, nenhum dos 12 candidatos apresentou contestações ao processo de votação. Já na véspera das eleições presidenciais, Felisberta Moura Vaz, porta-voz da CNE, havia garantido à DW que o sistema eleitoral no país "é tão transparente que não permite fraude".
Foto: DW/B. Darame
Monitorização da sociedade civil
As eleições presidenciais, assim como aconteceu nas legislativas, voltaram a contar com o trabalho da Célula de Monitorização Eleitoral da Sociedade Civil. Após a votação, a plataforma deu nota positiva ao dia eleitoral, salientando que tudo "decorreu conforme o previsto". A rede contou com 422 observadores em todas as regiões da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Doze candidatos
Durante a campanha eleitoral, foram muitas as críticas feitas aos considerados fracos discursos e programas de governação apresentados. Em entrevista à DW, a Rede Nacional das Associações Juvenis considerou que alguns candidatos deixavam muito a desejar e que outros "confundem os poderes do Presidente da República com os do Executivo nas promessas eleitorais que fazem nos comícios".
Foto: DW/B. Darame
Jomav demite governo
A campanha para as presidenciais ficou marcada pela nomeação, por parte de José Mário Vaz, de um novo Governo liderado por Faustino Imbali, que foi recusado pela comunidade internacional, e que acabou por se demitir pouco tempo depois. O próprio Jomav disse-se desautorizado pelas forças de segurança, que não facilitaram a efetivação do decreto presidencial que ditou esta nomeação.