Bissau: Sissoco diz existirem rumores sobre golpe de Estado
Lusa
13 de fevereiro de 2021
Sissoco desafiou, esta sexta-feira, quem o quiser atacar a segui-lo, pois anda "sozinho e com os vidros do carro em baixo". Aos jornalistas, confirmou ter tido Covid-19 e comentou as várias polémicas que envolvem o país.
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O Presidente da Guiné-Bissau afirmou, esta sexta-feira (12.02), à chegada ao país, que existem rumores que indicam a possibilidade de um golpe de Estado no país.
"Não ouviram rumores sobre golpe de Estado. Não ouviram que me vão matar, vão matar o ministro do Interior, ministro da Defesa, chefe do Estado-Maior, todos, mas estou sempre no meu carro pessoal", afirmou Umaro Sissoco Embaló, em declarações no aeroporto internacional Osvaldo Vieira, em Bissau.
Instado a fornecer mais informações sobre os rumores do golpe de Estado, o líder guineense afirmou que também os tem ouvido como os próprios jornalistas.
"Eu ando sozinho com os vidros [do carro] em baixo, quem quiser que me siga pelo caminho", sublinhou Embaló.
O chefe de Estado guineense falava aos jornalistas de regresso ao país após dois dias no Senegal, onde esteve em controlo médico de rotina.
"Não há um único dia que não tenho pressão dos serviços de segurança interna e externa para que me mude para o palácio, mas como vou morar no palácio?", questionou. Sissoso diz ainda continuar na sua residência pessoal porque o palácio não oferece condições para albergar o chefe de Estado.
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"A minha segurança é mais importante do que a Ordem dos Advogados"
Sobre a polémica com os advogados, o Presidente guineense notou que não expulsou a Ordem dos Advogados da sua sede, mas os responsáveis pela segurança entenderam que não podia ficar no espaço que ocupa desde 2011. Disse ainda que a Ordem dos Advogados recusou-se a ir para um novo espaço no bairro de Ajuda que até é melhor do que a sua atual sede, referiu.
"Foi-lhes sugerido uma dessas casas novas da Segurança Social, agora se querem ficar lá [que saibam] que a minha segurança é mais importante do que a Ordem dos Advogados", destacou.
Na mesma ocasião, Sissoco disse ainda não ter nada de pessoal contra o ex-primeiro-ministro, Aristides Gomes, que deixou Bissau esta sexta-feira, depois de ter estado quase um ano refugiado na sede das Nações Unidas.
"O cidadão Aristides Gomes, depois de ter acompanhado a dinâmica de desestabilização do processo eleitoral, decidiu ir para a sede das Nações Unidas, sem que o ninguém o obrigasse a isso. Ele tem um contencioso com a justiça e não comigo ou com o Governo", defendeu Sissoco Embalo.
O chefe de Estado frisou ainda não ser sua decisão de autorizar a saída de Gomes e que apenas facilitou as negociações naquele sentido entre a Procuradoria e as Nações Unidas, embora tenha sido sugerido por dois chefes de Estado no sentido de facilitar a saída.
"Houve intervenções do Presidente do Senegal Macky Sall e do Presidente da Nigéria Muhammadu Buhari que me disseram que, se ele não tem nada, é melhor deixá-lo sair, disse-lhes que não fui eu que mandou deter Aristides Gomes", assinalou.
Embaló esclareceu não ter nada de pessoal contra Aristides Gomes e que "se calhar" é a pessoa com quem tem melhores relações no Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), do qual o ex-primeiro-ministro é dirigente.
Sobre o facto de a Procuradoria ter anunciado que Gomes foi autorizado a sair do país por necessitar de tratamento médico no estrangeiro, Sissoco Embaló disse que não pode confirmar "por não ser médico".
Covid-19: "Podia ter morrido"
Na mesma ocasião, o Presidente da Guiné-Bissau revelou que esteve infetado pelo novo coronavírus e que "quase morreu" da doença, que o deixou com sequelas, embora esteja neste momento de "boa saúde".
"Há um ano passei o coronavírus, que é uma doença que não se deve esconder, é normal", afirmou o chefe de Estado, acrescentando que sofreu um acidente vascular "pulmonar".
"Foi uma coisa muito séria, podia ter morrido, ainda há sequelas, mas não há nada de inquietante pois tudo está normal comigo", observou Sissoco Embaló.
O Presidente guineense afirmou que desde aquela altura se que tem deslocado ao estrangeiro para controlo de rotina, o que fazia em França, mas ultimamente decidiu passar a fazer no Senegal.
15 momentos que marcaram o "annus horribilis" de 2020
2020 ficará para sempre conhecido como o ano da pandemia de Covid-19. Entretanto, foi também marcado por momentos-chave a vários níveis - desde a morte de George Floyd, nos EUA, às manifestações em Angola.
Foto: Jacob King/REUTERS
Isabel dos Santos e o caso "Luanda Leaks"
Em janeiro, a empresária angolana foi constituída arguida por alegado desvio de fundos na petrolífera estatal Sonangol. Ao longo do ano, teve arrestadas as suas contas bancárias e participações da NOS em Portugal, testemunhou a nacionalização da sua parte na Efacec e, ainda, viu o hacker português Rui Pinto - fonte dos documentos que levaram ao "Luanda Leaks" - aguardar o julgamento em liberdade.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Metzel
Sissoco Embaló: Tomada de posse "simbólica"
Em fevereiro, Umaro Sissoco Embaló tomou posse como Presidente da Guiné-Bissau à revelia do Supremo Tribunal de Justiça. Estava ainda em curso um contencioso eleitoral interposto pelo opositor Domingos Simões Pereira, que apelidou a tomada de posse de "golpe de Estado". O novo Presidente demitiu o Governo liderado por Aristides Gomes, nomeando o novo Executivo do primeiro-ministro Nuno Nabiam.
Foto: DW/I. Dansó
OMS declara pandemia de Covid-19
Todos os PALOP entraram em estado de emergência depois da declaração da Organização Mundial da Saúde, em março. A pandemia levou ao adiamento de vários eventos mundiais, como os Jogos Olímpicos e o Campeonato Africano das Nações (CAN). Em abril, mais da metade da população mundial estava confinada em casa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Gonchar
"I can't breathe": A morte de George Floyd
O afro-americano morreu em maio nos EUA, sufocado por um polícia que colocou o joelho sobre o seu pescoço durante durante 8 minutos e 46 segundos. A frase "I can't breathe" ("Não consigo respirar"), proferida por Floyd antes de morrer, tornou-se viral. A morte motivou protestos antirracismo em todo o mundo, levou à vandalização de estátuas coloniais e impulsionou o movimento Black Lives Matter.
Foto: Getty Images/S. Maturen
"Perseguição política" na Guiné-Bissau
Em maio, o deputado Marciano Indi foi sequestrado após ter expressado opiniões que terão desagradado ao Presidente guineense. O ano ficou também marcado pelo rapto e sequestro de vários ativistas, alegadamente por seguranças de Sissoco Embaló. A agitação política levou o ex-primeiro-ministro Aristides Gomes (na foto) a refugiar-se na sede da ONU em Bissau. Gomes fala em "perseguição política".
Foto: DW/B. Darame
Cabo Verde processado por violação dos direitos humanos
O empresário Alex Saab foi detido na ilha do Sal, em junho, mediante mandado de captura dos EUA, que o consideram um testa-de-ferro do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Saab denunciou ter sido torturado na prisão a mando dos EUA. Pela primeira vez, Cabo Verde foi processado por violar direitos humanos no seu território. Em dezembro, a CEDEAO ordenou a prisão domiciliária do colombiano.
Foto: Governo de Cabo Verde
Moção de censura contra Governo de STP
Em julho, o principal partido da oposição são-tomense, a Ação Democrática Independente (ADI), apresentou uma moção de censura contra o Governo do primeiro-ministro Jorge Bom Jesus. A gestão dos fundos contra a Covid-19 foi um dos motivos apresentados pela ADI, que acusou ainda o Executivo de agir com "práticas sistemáticas de ilegalidades". A moção foi rejeitada pelo Parlamento são-tomense.
Foto: DW/R. Graça
Tragédia em Beirute
Em agosto, uma explosão no porto de Beirute, provocada por 2,7 toneladas de nitrato de amónio, devastou grande parte da capital libanesa, provocando mais de 200 mortos e 6.500 feridos. A carga de amónio era uma encomenda da Fábrica de Explosivos de Moçambique e tinha como destino o porto da Beira. Contudo, o navio ficou retido em Beirute por ordem das autoridades locais e a carga foi substituída.
Foto: Getty Images/AFP/STR
"Zenu" condenado no caso "500 milhões"
O filho dos ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, José Filomeno 'Zenu' dos Santos, foi condenado em agosto a cinco anos de prisão por crimes de burla e defraudação, peculato e tráfico de influências. Em causa está uma transferência irregular de 500 milhões de dólares do banco central angolano para a conta de uma empresa privada estrangeira sediada em Londres.
Foto: Grayling
Luta contra a corrupção continua em Angola
Ainda este ano, o empresário Carlos São Vicente ficou em prisão preventiva e o ex-ministro da Comunicação Social Manuel Rabelais (na foto) começou a ser julgado. Ambos são acusados de peculato e branqueamento de capitais. Por outro lado, Edeltrudes Costa, diretor de Gabinete do Presidente João Lourenço, não é alvo de qualquer processo, apesar de alegado envolvimento em escândalos de corrupção.
Foto: Imago/Xinhua
Incêndio na redação do Canal de Moçambique
O editor-executivo do semanário classificou o incêndio ocorrido em agosto nos escritórios do Canal de Moçambique como "atentado terrorista contra liberdade de expressão e de imprensa", acrescentando que "uns são raptados e outros são intimidados". Matias Guente refere-se, por exemplo, ao caso do jornalista Ibrahimo Mbaruco, desaparecido desde abril na província nortenha de Cabo Delgado.
Foto: Adriano Nuvunga/CDD
EI diz ter tomado porto de Mocímboa da Praia
A 11 de agosto, um grupo de homens armados anunciou a tomada do porto da vila de Mocímboa da Praia. O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ataque. O número de deslocados da província nortenha de Cabo Delgado escalou exponenciamente. Em dezembro, o Governo moçambicano anunciou que pelo menos 560 mil cidadãos tiveram de fugir do conflito.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Biden vence eleições norte-americanas
Novembro foi o mês em que Donald Trump sofreu a derrota nas presidenciais dos EUA. Mas o republicano queixou-se sucessivamente de fraude eleitoral, sem apresentar provas. A Casa Branca terá novos ocupantes: Joe Biden e Kamala Harris, a primeira mulher eleita vice-Presidente dos EUA. Filha de pai jamaicano e de mãe indiana, Harris será também a primeira mulher negra a ocupar o posto.
Foto: Andrew Harnik/Getty Images
Dia da Independência em Angola marcado por manifestações
O dia 11 de novembro foi o mais intenso das manifestações por melhores condições de vida e pela realização das primeiras eleições autárquicas em Angola. A polícia reprimiu o protesto violentamente. A morte do jovem manifestante Inocêncio Matos gerou indignação. Várias pessoas ficaram feridas, incluindo o ativista Nito Alves. Luaty Beirão e outros ativistas foram detidos.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Covid-19: A corrida da vacina
O Reino Unido foi o primeiro país a aprovar a vacina da Pfizer/BioNTech, aplicada pela primeira vez em dezembro. A primeira pessoa a receber a vacina contra a Covid-19 foi uma mulher britânica de 90 anos (na foto). O dia do arranque do programa de imunização foi apelidado de Dia-V, numa clara alusão ao Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.