Bissau: Défice orçamental em 2019 abaixo dos 3%, diz FMI
Braima Darame (Bissau)
18 de janeiro de 2019
Missão do FMI em Bissau, que terminou esta sexta-feira (18.01), elogiou projeto de orçamento do governo para 2019, que prevê aumento da receita pública e défice abaixo dos 3%, e recomendou a sua "correta implementação".
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No final de cinco dias de trabalho com as autoridades guineenses, uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que se deslocou a Bissau para avaliar o Programa de Crédito Alargado, a evolução das finanças públicas e o Orçamento de Estado para o Corrente ano, decidiu recomendar uma "correta implementação" do projeto orçamental para 2019 apresentado pelo Governo guineense. "O ministro das Finanças preparou um projeto de orçamento que nos parece estar à altura dos desafios constatados em 2018", disse Tobias Rasmussen, representante do FMI.
Em declarações aos jornalistas esta sexta-feira (18.01), último dia da missão no país, Tobias Rasmussen afirmou que o projeto de orçamento para 2019 propõe-se a consolidar as finanças públicas: "com base na cobrança das receitas e as medidas de reforço da administração fiscal, assim como em algumas reformas da política fiscal em algumas áreas, prevê-se um aumento da receita e um modesto crescimento da despesa pública em ordem a um défice orçamental abaixo dos 3%, que representa o limite consagrado na União Económica Monetária Oeste Africana (UEMOA)", disse Tobias Rasmussen.
Ao nível da cobrança da receita tributária, o Fundo Monetário Internacional constatou que houve uma baixa de cerca de 2% do PIB, comparando com a meta orçamental. Já o défice orçamental aumentou para 5% do PIB, quando se previa 2,5%.Por sua vez, o primeiro-ministro Aristides Gomes afirmou que a missão do FMI "marca um ponto importante" no país, uma vez que 2019 é ano de eleições que, acrescentou, deverão contribuir para a "estabilização do país" e consequentemente, da sua economia. "Esta missão vai marcar uma ligação entre o programa que até aqui está a ser aplicado e o novo programa que deverá ser implementado com as novas autoridades governativas. Portanto, é importante porque estamos, em conjunto (nós e o FMI), a lançar as bases para a negociação do novo programa".
"Há que ter em conta aquilo que já foi feito e as fraquezas que existiram e ainda existem nas nossas finanças públicas", frisou ainda Aristides Gomes, concluindo que o governo guineense "está satisfeito com a cooperação com o FMI".
A delegação, que chegou ao país esta segunda-feira (14.01) e que foi chefiada por Tobias Rasmussen, teve encontros com o primeiro-ministro, Aristides Gomes, que também acumula a pasta das Finanças, e com os parceiros de desenvolvimento da Guiné-Bissau - União Europeia, Banco Mundial, Banco da África Ocidental para o Desenvolvimento e Banco da África Ocidental.
Diminuição das exportaçõesEm 2018, a economia da Guiné-Bissau desacelerou. Facto que fica a dever-se, explica Tobias Rasmussen, à diminuição das exportações da castanha de caju, principal produto de exportação do país. "Em 2018, constatamos que houve deterioração nos resultados económicos, uma fraca campanha da castanha de caju e uma fraca arrecadação das receitas tributárias", afirmou o representante do FMI, acrescentando que se constatou ainda "um enfraquecimento na resolução subjacente ao esforço de reforço das finanças públicas".
Bissau: "Projeto de orçamento para 2019 à altura do desafio", diz FMI
Segundo o Conselho Nacional de Crédito da Guiné-Bissau, em 2018, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 3,8% contra os 5,9% do ano de 2017.
Recorde-se que o Conselho de Administração do FMI aprovou no início de junho, no âmbito do Programa de Crédito Alargado ao país, o desembolso de mais 4,3 milhões de dólares (cerca de 3,6 milhões de euros).
O FMI aceitou também um pedido das autoridades guineenses para que a intervenção fosse alargada até julho de 2019. Com este prolongamento, o Programa de Crédito Alargado aumentou para o montante de 32,2 milhões de dólares (cerca de 27,6 milhões de euros).
Sumos, bolachas e até "bifes" para diversificar rendimento do caju
O caju é a principal fonte de rendimento dos produtores guineenses. A fim de estimular a economia, os produtores de Ingoré uniram-se na cooperativa Buwondena, onde produzem sumo, bolachas e até "bife" de caju.
Foto: Gilberto Fontes
O fruto da economia
Sendo um dos símbolos da Guiné-Bissau, o caju é a principal fonte de receita dos camponeses. A castanha de caju representa cerca de 90% das exportações do país. Este ano, foram exportadas 200 toneladas de castanha de caju, um encaixe de mais de 250 mil euros. A Índia é o principal comprador. O caju poderá trazer ainda mais riqueza ao país, se houver maior aposta no processamento local do produto.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no processamento
Em Ingoré, no norte da Guiné-Bissau, produtores de caju uniram-se na cooperativa Buwondena - juntamos, em dialeto local balanta - para apostar no processamento do caju. Antes, aproveitava-se apenas a castanha, desperdiçando o chamado pedúnculo, que representa cerca de 80% do fruto. Na cooperativa produzem-se agora vários produtos derivados do caju.
Foto: Gilberto Fontes
“Bife” de caju
Depois de devidamente preparado, o pedúnculo, que é a parte mais fibrosa do caju, pode ser cozinhado com cebola, alho e vários temperos. O resultado final é o chamado “bife” de caju.
A partir das fibras, produz-se também chá, mel, geleia, bolacha, entre outros. Ao desenvolverem novos produtos, os produtores diversificam a dieta e aumentam os seus rendimentos.
Foto: Gilberto Fontes
Néctar de caju
Depois de prensadas as fibras do caju, obtém-se um suco que é filtrado várias vezes, a fim de se produzir néctar e sumo. Com 50% desse suco e 50% de água com açúcar diluído, obtem-se o néctar de caju. Este ano, a cooperativa Buwondena produziu quase 400 litros desta bebida.
Foto: Gilberto Fontes
Sumo de caju
O sumo resulta da pasteurização do suco que foi filtrado do fruto, sem qualquer adicionante. Cada garrafa destas de 33cl de sumo de caju custa quase 0.40€. Ou seja, um litro de sumo pode render até 1.20€. O que é bem mais rentável que vinho de caju, produzido vulgarmente na Guiné-Bissau, que custa apenas 0.15€ o litro. Em 2016, foram produzidos na cooperativa quase 600 litros de sumo de caju.
Foto: Gilberto Fontes
Mel de caju
Clode N'dafa é um dos principais especialistas de transformação de fruta da cooperativa. Sabe de cor todas as receitas da cooperativa e só ele faz alguns produtos, como o mel. Mas devido à falta de recipientes, este produziu-se pouco mel de caju. Desde que se começou a dedicar ao processamento de fruta, Clode N'dafa conseguiu aumentar os seus rendimentos e melhorar a vida da sua família.
Foto: Gilberto Fontes
Castanha de caju
Este continua a ser o produto mais vendido pela cooperativa. O processamento passa por várias etapas: seleção das melhores castanhas, que depois vão a cozer, passam à secagem, ao corte e vão à estufa. As castanhas partidas são aproveitadas para a produção de bolacha de caju. Este ano, a cooperativa conseguiu fixar preço da castanha de caju em 1€ o quilo, protegendo os rendimentos dos produtores.
Foto: Gilberto Fontes
Potencial para aumentar produção
A maior parte dos produtos são vendidos localmente, mas alguns são comercializados também em Bissau e exportados para o Senegal. A produção decorre sobretudo entre os meses de março e junho, período da campanha do caju. No pico de produção, chegam a trabalhar cerca de 60 pessoas. Se a cooperativa conseguisse uma arca frigorífica para armazenar o caju, continuaria a produção depois da campanha.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no empreendedorismo
A cooperativa Buwondena aposta na formação a nível de empreendedorismo, para que os produtores possam aumentar o potencial do seu negócio. A cooperativa pretende criar uma caixa de poupança e crédito. O objetivo é que, através de juros, os produtores possam rentabilizar as suas poupanças e apostar noutros negócios.
Foto: Gilberto Fontes
É urgente reordenar as plantações
A plantação de cajueiros é outra das preocupações da cooperativa: uma plantação organizada, com ventilação é fundamental para aumentar a rentabilidade.
Devido ao peso do sector do caju na economia da Guiné-Bissau, todos os anos são destruídos entre 30 e 80 mil hectares de floresta para a plantação de cajueiros. Especialistas defendem uma reordenação urgente das plantações.