Bissau: Visita de PR queniano "não trará grandes resultados"
5 de abril de 2024Na sua declaração aos jornalistas após o encontro com o Presidente do Quénia, Umaro Sissoco Embaló disse que falou com William Ruto sobre os conflitos em várias regiões. O chefe de Estado guineense declarou ainda que o seu país pode beneficiar das experiências do Quénia nas áreas da agricultura, saúde, educação e na luta contra os efeitos das alterações climáticas.
Já o Presidente William Ruto afirmou que Quénia está disponível para apoiar e formar técnicos da Guiné-Bissau nas áreas da segurança e saúde, ao longo dos próximos cinco anos, como forma de apoiar o desenvolvimento do país.
Em entrevista à DW, o analista politico guineense Santos Nuno Mustas acredita, no entanto, que a visita do Presidente queniano a Guiné-Bissau foi mais uma deslocação privada do que oficial. Além disso, o analista comenta que a visita se enquadra numa tentativa de o Presidente Umaro Sissoco Embaló melhorar a imagem no panorama internacional após a dissolução do Parlamento guineense.
DW África: Que leitura faz desta visita do Presidente do Quénia a Guiné-Bissau a convite de Umaro Sissoco Embaló?
Santos Mustas (SM): As ilações que podemos tirar é que a visita não trará grandes decisões bilaterais em termos de cooperações em diferentes domínios. Da parte do Estado queniano, a governação do William Ruto tem-se deparado com alguns problemas relacionados com a situação económica, nomeadamente o custo de vida da população queniana. Por outro lado, aqui na Guiné-Bissau, a crise política perturba a liderança do Presidente Umaro Sissoco Embaló.
DW África: Portanto, acha que esta visita não impulsionará qualquer avanço na cooperação bilateral entre os dois países?
SM: Não impulsionará porque a leitura é muito simples: o Presidente está a buscar outra forma de ter credibilidade internacional.Ao longo dos anos do seu mandato, ele tem proporcionado várias visitas, quer a nível interno, quer com deslocações a diferentes países, mas isso não tem tido impacto no desenvolvimento do país.
Neste momento, a sua decisão de dissolver um órgão de soberania muito importante para a estabilidade politica do país acabou por afetar, de certa forma, a imagem que nutriu ao longo do seu mandato. Sendo assim, podemos considerar que esta visita serve justamente para tentar dar credibilidade à imagem do Presidente Umaro Sissoco Embaló, embora no fundo não traga grandes resultados em termos de cooperação bilateral entre os dois países.
DW África: O chefe de Estado guineense disse, na sua declaração, que a Guiné-Bissau pode beneficiar das experiências do Quénia em áreas como a agricultura. Acha que o Quénia pode ajudar a Guiné-Bissau a relançar a sua agricultura?
SM: De facto, o Presidente do Quénia tem conseguido alguns ganhos positivos no setor da agricultura, apostando na inovação, e isto é fundamental para o crescimento económico da Guiné-Bissau porque temos uma agricultura que precisa de inovação. Temos de diversificar a agricultura, e o Quénia pode [partilhar a sua] experiência.
DW África: O Quénia tem-se destacado na luta contra as alterações climáticas. A Guiné-Bissau pode também aproveitar esta experiência queniana para o setor do ambiente?
SM: África não é um fator de perigo para as alterações climáticas, mas é preciso introduzir medidas para que os países africanos possam exigir aos outros países que cumpram com o Acordo de Paris.
Mas um elemento que poderia ser fundamental nesta visita é que a Guiné-Bissau já manifestou a intenção de se candidatar à presidência da Comissão da União Africana. Umaro Sissoco Embaló poderia aproveitar para apelar ao Presidente do Quénia para apoiar a candidatura da Guiné-Bissau.