O secretário de Estado norte-americano Antony Blinken chegou à Etiópia, um aliado histórico dos Estados Unidos com o qual as relações se deterioraram após dois anos de conflito na província de Tigray, norte do país.
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Blinken é o mais alto funcionário dos EUA a visitar a Etiópia desde o início da guerra em novembro de 2020 entre o Governo federal e as autoridades rebeldes na região de Tigray.
A viagem de Blinken ocorre quando a administração do Presidente Joe Biden busca conter a influência chinesa no continente africano. A Rússia também tem estabelecido uma base de apoio, fortalecendo as relações com muitas nações — incluindo a Etiópia.
Para além de melhorar as relações bilaterais, que Washington diz ter sido marcado por crimes contra a Humanidade, Blinken pretende também para manifestar o apoio de Washington ao processo de paz, em curso há quatro meses.
O acordo, assinado a 02 de novembro em Pretória, foi negociado sob os auspícios da União Africana (UA), mas os Estados Unidos desempenharam um papel crucial com os beligerantes, segundo fontes diplomáticas.
A visita ao segundo país mais populoso de África (120 milhões de habitante) tem como pano de fundo os esforços de Washington para reforçar uma parceria norte-americana no continente, onde a China e a Rússia estão a aumentar a sua influência.
Blinken deverá encontrar-se nesta quarta-feira (15.03) com o primeiro-ministro Abiy Ahmed - que ganhou o prémio Nobel da Paz de 2019 por ter terminado uma guerra de 20 anos com a vizinha Eritreia - e cujo conflito em Tigray o transformou de um símbolo de uma nova geração de líderes africanos progressistas para um quase pária aos olhos de Washington.
Isenção de impostos
Durante as conversações, espera-se que a Etiópia peça para voltar a integrar a lista de beneficiários do Agoa, uma iniciativa norte-americana que permite que os países africanos sejam isentos de impostos sobre certas exportações e da qual Washington excluiu Adis Abeba a partir de janeiro de 2022.
Abiy enviou o exército federal para Tigray em novembro de 2020, acusando as autoridades regionais de desafiarem o seu poder durante vários meses, após ataques a bases militares.
O Tigray era governado pela Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF, na sigla em inflês), um partido que governou efetivamente a Etiópia de 1991 a 2018, antes de ser gradualmente marginalizado quando Abiy chegou ao poder.
O conflito alastrou às regiões vizinhas de Amhara e Afar, cujas forças apoiaram o exército federal, que também recebeu apoio do exército da Eritreia, um inimigo histórico da TPLF.
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Segurança alimentar
Tigray: Reencontro emocionante das famílias
01:55
Além do encontro com Abiy, Blinken tem agendado reunir-se em Adis Abeba com representantes das agências humanitárias e da sociedade civil "para discutir a prestação de assistência humanitária, segurança alimentar, e direitos humanos”, segundo um comunicado do departamento de estado distribuído na sexta-feira.
Ainda na capital etíope, onde está a sede da União Africana, o governante dos Estados Unidos da América debaterá com o presidente da comissão da organização panregional, Moussa Faki Mahamat, "prioridades globais e regionais partilhadas" e a continuidade aos compromissos saídos da Cimeira de Líderes EUA-África, realizada em dezembro passado em Washington, relativamente à segurança alimentar, clima e transição energética justa, diáspora africana e saúde global.
Blinken "sublinhará o apoio dos EUA à representação permanente africana em organismos multilaterais”, sinaliza-se no comunicado.
Prémio Nobel: Os representantes da Paz em África
Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, recebe o Prémio Nobel da Paz de 2019. Trata-se do décimo africano a ser reconhecido pelo trabalho de reconciliação. O Nobel da Paz foi para África pela primeira vez em 1960.
Foto: Getty Images/AFP/E. Soteras
Primeiro laureado
Albert Luthuli foi o primeiro africano a receber o Prémio Nobel da Paz, em 1960, pela sua luta pacífica contra a segregação racial na África do Sul. Ele era presidente do ANC na ocasião da premiação, e o movimento de libertação funcionava na clandestinidade. Ele recebeu o prémio em Oslo um ano depois do seu nome ser escolhido, porque a proibição de deixar o país foi suspensa por dez dias.
Foto: Getty Images/Keystone/Hulton Archive
Líder espiritual
O arcebispo Desmond Tutu foi um dos líderes morais da África do Sul, com uma trajetória de defesa dos direitos humanos e contra a discriminação racial. É do religioso a expressão: "Somos uma nação arco-íris". Em 1984, o sacerdote anglicano recebeu o Prémio Nobel. Amigo de Nelson Mandela, Tutu é conhecido pelo bom humor. Um dos seus admiradores é o líder espiritual tibetano Dalai Lama.
Foto: picture-alliance/dpa
Amandla!
Esta imagem percorreu o mundo. Quando o herói anti-apartheid Nelson Mandela foi libertado, em 1990, após 27 anos de prisão, a África do Sul prendeu a respiração. Era um momento histórico. A luta incansável de Madiba contra a opressão abriu caminho para a democracia na África do Sul. Um ano antes, Mandela recebeu o Prémio Nobel da Paz juntamente com o chefe do Governo, Fredrik Willem de Klerk.
Foto: AP
Dois adversários unidos
Coragem, paciência e perseverança conduziram estes dois homens a algo que parecia impossível. Nelson Mandela e Fredrik Willem de Klerk, então Presidente da África do Sul, receberam em conjunto o Prémio Nobel da Paz, em 1993, antes mesmo de Mandela ter sido eleito o primeiro Presidente negro. A revolução pacífica foi um sucesso, mas o processo de paz na África do Sul está longe de terminar.
Foto: AP
Pela paz em todo o mundo
Em 2001, o então secretário-geral e a instituição Nações Unidas receberam o Prémio Nobel pelo compromisso com um mundo "mais organizado e mais pacífico". A carreira brilhante de Kofi Annan tem uma ressalva, que veio à tona com as acusações de que a ONU teria sido omissa durante o genocídio no Ruanda. Annan era o chefe das Forças de Paz da ONU em 1994 e admitiu que falhou.
Foto: Reuters
Mama Miti: "A mãe das árvores"
Em 2004, uma mulher negra recebeu pela primeira vez o Prémio Nobel da Paz: Wangari Maathai. A queniana lutou pelos direitos das mulheres e contra a pobreza no seu país. Maathai foi vice-ministra do Meio Ambiente e era chamada de "Mãe das Árvores" pelo "Movimento Cinturão Verde", que ela mesma criou. Ela celebrou o prémio à sua maneira, escrevendo na sua autobiografia: "Plantei uma árvore."
Foto: Getty Images/AFP/T. Bendiksby
Três mulheres agraciadas
Em 2011, três mulheres foram laureadas em conjunto: a Presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf (à direita), a sua compatriota, a ativista de direitos humanos Leymah Gbowee (ao centro), e a jornalista Tawakkul Karman, do Iémen. As duas liberianas foram homenageadas pelos seus esforços para salvar o seu país da violência da guerra civil.
Foto: dapd
"Doutor Milagre"
O médico e defensor dos direitos humanos, o congolês Denis Mukwege, fez do apoio às vítimas de violência sexual o trabalho de uma vida inteira. Durante muitos anos, o ginecologista foi o cirurgião-chefe do Hospital Panzi, em Bukavu, que ele próprio fundou em 1999. Ele oferece esperança e renova a coragem das vítimas. Por isso foi premiado em 2018, juntamente com a ativista yazidi Nadia Murad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Norwegian Church Aid
Iniciativa corajosa
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, será laureado pelo empenho para a paz com a vizinha Eritreia. A insistência pela reconciliação no seu próprio país também impressionou os jurados do Prémio Nobel, apesar da concretização desse objetivo ser longa e difícil. O processo corajoso de reforma no conturbado Estado multiétnico da Etiópia impressionou o júri do prémio.