Eleitores responderam em massa aos apelos da oposição para boicotar as legislativas deste domingo, no Benim.
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Com os principais opositores excluídos das eleições, devido a regras mais apertadas para as candidaturas, muitas assembleias de voto não tiveram mais do que algumas dezenas de votantes, apesar das centenas de eleitores registados.
Em todo o país, as ruas estiveram praticamente vazias. Na capital económica, Coutonou, as lojas e mercados permaneceram fechados todo o dia, com a população a temer confrontos, depois de a organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional ter denunciado na sexta-feira (26.04) "níveis alarmantes de repressão" no país.
Deriva "autoritária"
As eleições no Benim, tido como um exemplo de democracia na África Ocidental, ficaram ainda marcadas pelo corte da Internet no país - um sinal, para muitos observadores, de uma reviravolta autoritária do Presidente Patrice Talon. A Amnistia Internacional denuncia uma "violação flagrante da liberdade de expressão".
Boicote às eleições no Benim
Os principais opositores do chefe de Estado vivem atualmente no exílio e, recentemente, muitos ativistas políticos e jornalistas foram detidos. O ambiente de tensão agrava-se com a repressão de manifestações pacíficas: desde fevereiro, todos os movimentos sociais ou protestos da oposição foram proibidos ou reprimidos com gás lacrimogéneo.
A rádio nacional apelou em vão aos 5 milhões de eleitores para "cumprirem o seu dever como cidadãos" e irem às urnas eleger os seus 83 deputados.
Entre os insatisfeitos que se abstiveram em protesto há também apoiantes do chefe de Estado, como Wilfrid Bokini, agente comercial na capital, Porto Novo: "Gosto das reformas dele, o que ele faz aqui em Porto Novo é bom. Vou votar nele em 2021. Mas ele excluiu opositores, não gostei, foi por isso que não fui votar", afirma.
Esta é a primeira vez que a oposição não participa nas eleições desde que o Benim garantiu a sua transição democrática, em 1990. Nos boletins de voto, a escolha estava limitada a dois partidos aliados do Presidente.
As novas leis eleitorais, aprovadas pelo Parlamento no final de 2018, visavam reduzir a quantidade de partidos registados, perto de 250 num país com 12 milhões de habitantes. Os principais partidos da oposição não conseguiram apresentar em tempo útil todos os documentos exigidos pela nova lei. Um porta-voz da Presidência garantiu que "o objetivo das reformas nunca foi impedir as pessoas de participarem nas eleições".
Presidente não parece preocupado
Por todo o país, este domingo (29.04), os beninenses voltaram as costas às legislativas, em sinal de protesto.
"Desde esta manhã que estou a observar cerca de cinco assembleias de voto. O que verifico é que as pessoas não vieram, de todo", contou Aude Gnonlonfoun, da equipa de observadores eleitorais na capital, Porto Novo.
A sociedade civil beninense e representantes da comunidade internacional, como a União Europeia, recusaram enviar observadores às eleições como sinal de descontentamento.
Numa altura em que organizações como a Amnistia Internacional alertam para o risco de agitação social, o Presidente, por sua vez, não parece preocupado. Não restam grandes dúvidas de que o novo Parlamento vai apoiar a sua Presidência. O porta-voz do chefe de Estado afirmou mesmo que "o ressentimento vai passar" e que, esta segunda-feira, a vida regressará ao normal.
Benim: Berço do Voodoo em África
Em nenhum país se celebra o Voodoo como no Benim. Há até um feriado nacional para o efeito (10 de janeiro). Por todo o país acontecem cerimónias e festas desta religião.
Foto: K. Gänsler
Voodoo: número incerto de fiéis
Não se sabe ao certo quantos seguidores de Voodoo existem no Benim. Dados oficiais apontam para 11% de uma população de 11 milhões. Mas números não oficiais apontam para números mais altos. No país não é incomum a prática do Voodoo em simultâneo com o cristianismo.
Foto: K. Gänsler
Homenagem ao deus da varíola
Portanto, ninguém se pergunta sobre os vários altares que se vêem, principalmente pelas aldeias. A foto ilustra imagens dedicadas a Zakpata, o deus da terra. É também conhecido como o deus da varíola. Muitos deuses do Voodoo funcionam como intermediários entre as pessoas e Deus.
Foto: K. Gänsler
Cerveja e lícores para os deuses
Um simples altar é suficiente para adorar um dos númerosos deuses. Também cerimónias de rituais com oferendas são importantes. Para agradar os deuses oferecem-se licores, cerveja e cigarros. Às vezes galinhas ou cabras. As ofertas são consoante a preferência do deus.
Foto: K. Gänsler
Respostas às questões importantes da vida
Os que procuram respostas para assuntos importantes da vida podem consultar o conhecido Orácúlo Fa. Geralmente o oráculo lança os búzios e faz a sua leitura. Mas existem assuntos tabus: por exemplo, não se pode perguntar pela data da morte.
Foto: K. Gänsler
Preservar a medicina antiga
O Voodoo é muito mais do que uma simples cerimónia, festa ou oráculo. Também está intimamente ligado a conhecimentos sobre plantas medicinais usadas durante séculos para curar doenças, como por exemplo a malária.
Foto: K. Gänsler
Uso de clichês
Clichês encaixam-se em mercados de fetiches, cuja visita muitas vezes é considerada um tabu. Não apenas em Lomé, a capital do vizinho Togo. Aqui existem desde crânios de cães, peles de lagartos até crânios de leopardos, tudo o que se possa imaginar para as cerimónias de Voodoo.
Foto: K. Gänsler
Uma lembrança para levar para casa
Como recordação de viagem tem de se levar esta lembrança. Traz sorte para relações duradoiras, é apenas uma da vasta gama de acessórios mágicos fabricados especialmente para turistas.
Foto: K. Gänsler
Manter boas relações
Mas o Voodoo tem alcances mais amplos. Até a classe política confia nos seus poderes. Daagbo Hounon, chefe e representante do Voodoo em Ouidah, diz que antes das eleições os candidatos pedem a sua benção. Questionado se influencia na política Hounon opta por não responder.
Foto: K. Gänsler
Feriado oficial do Voodoo no Benin
As cerimónias no dia do Voodoo atraem muitos seguidores beninenses para Ouidah, bem como curiosos e turistas. Em 1998 o ex-Presidente do Benim Mathieu Kérékou decretou o dia 10 de janeiro como feriado oficial do Voodoo.
Foto: K. Gänsler
Festival do Voodoo em Ouidah
A maior celebração acontece na praia de Ouidah, a capital do Voodoo secreto. A volta do monumento "Porte de Non Retour", Porta sem retorno em português, reunem-se anualmente várias centenas de pessoas. A grande porta simboliza o fim da antiga rota dos escravos, que passava pela cidade. Através do comércio de escravos o Voodoo veio das Caraíbas, onde existe a maior comunidade de seguidores.
Foto: K. Gänsler
Cada aldeia tem a sua própria cerimónia
Mas também no interior do país este dia é de grande importância. Pequenas cerimónias acontecem em várias aldeias, como aqui em Kpetekpa, um lugar perto da antiga cidade real de Abomey. Através da dança de transe e cantorias os fiéis procuram contacto com Deus.