Estudantes angolanos das universidades Unisinos e PUCRS estão sem receber bolsa há cerca de três meses. Os jovens, que relatam dificuldades financeiras, ainda não receberam explicações da empresa.
Publicidade
Depois da Litis Petróleo Company em Angola ter suspendido o pagamento de bolseiros angolanos que estudam no Brasil, quem passa agora dificuldades financeiras no país são estudantes financiados pela Sonangol.
Cerca de 70 estudantes vindos de Angola estão sem receber a bolsa fornecida pela petrolífera estatal angolana para cobrir despesas básicas como alimentação, transporte e compra de material de estudos, entre outros gastos, nas cidades de São Leopoldo e Porto Alegre, na região sul do Brasil, há cerca de três meses. Os jovens são alunos da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e deveriam estar a receber, todos os meses, uma bolsa de cerca de 500 dólares.
29.03.17 Bolsistas Angola - MP3-Mono
De acordo com os bolseiros angolanos, o intermédio é feito através da Siano & Rego Consultoria de Gestão de Empresas e Pessoas, localizada no Rio de Janeiro. A empresa é responsável pela transferência das verbas, realização de contratos, moradia, entre outros.
Estudantes estão sem dinheiro para despesas pessoais
Em entrevista à DW África, um jovem bolseiro que estuda na Unisinos, mas que prefere não ser identificado, revela que a empresa gestora Siano & Rego estaria sem receber da Sonangol o pagamento dos bolseiros. No entanto, a agência não lhes explicou os motivos.
"A empresa disse-nos que estava sem receber da Sonangol desde outubro e que por isso, em dezembro, a bolsa não ia cair. Nós dissemos que estava tudo bem, porque sabemos que os atrasos são normais. Com a atual situação do país, sabiamos que poderia cair e aguardámos, pensando que em janeiro a situação estaria resolvida. Só que a situação foi-se alastrando e chegou a uma fase em que eles não tinham previsão de pagamento", conta o jovem angolano, mostrando a sua preocupação por não ter como pagar as despesas pessoais como as contas da casa ou os transportes, por exemplo.
Outro bolsista angolano que estuda na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, relata também as dificuldades financeiras que muitos dos seus colegas passaram devido ao atraso na receção das verbas aos estudantes estrangeiros.
Para além de terem ficado sem internet, conta o estudante, houve alunos que "ficaram sem dinheiro para a alimentação e tiveram que se hospedar no apartamento de outros colegas. Outros ficaram sem dinheiro para apanhar o autocarro para a universidade", dá conta este estudante que denuncia ainda a falta de atenção da empresa gestora no Brasil para com os vários bolseiros.
Siano & Rego e Sonangol não se pronunciam
A DW África entrou em contacto com a empresa Siano & Rego, do Rio de Janeiro, para perceber quais os motivos para o atraso no pagamento das bolsas destes estudantes. A primeira resposta foi de uma agente administrativa que não se quis identificar e que afirmou não ter autorização para se pronunciar sobre o caso. Já o segundo contacto foi com um alegado diretor da agência, que também recusou falar à imprensa.
Tentámos ainda contactar a assessoria de imprensa da Sonangol, em Angola, que não respondeu aos e-mails enviados.
Os novos migrantes africanos do sul do Brasil
O estado brasileiro do Rio Grande do Sul é conhecido pela imigração alemã. Mas, nos últimos anos, foi destino de migrantes africanos que lá procuram uma vida melhor. Vivem à margem da sociedade e queixam-se de racismo.
Foto: DW/L. Nagel
O sonho de todos os migrantes é o mesmo
Vendedores ambulantes do Senegal no bairro Sarandi em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Óculos de sol são vendidos a preços baixos. No Brasil podem ganhar três ou até quatro vezes mais do que no seu país de origem. O sonho deles é o mesmo dos imigrantes alemães, italianos e poloneses, que chegaram há quase dois séculos em terras gaúchas: trabalhar e viver em paz no Brasil.
Foto: DW/L. Nagel
Senegaleses são maioria entre os africanos
A Associação dos Senegaleses de Porto Alegre tem cerca de 200 membros. A sede da associação fica na zona norte da cidade, em um apartamento, onde há reuniões e orações em conjunto. Em 2014, mais de mil senegaleses pediram refúgio no Brasil. O refúgio só é concedido quando há provas de perseguição política, étnica ou religiosa.
Foto: DW/L. Nagel
Convívio entre os migrantes senegaleses
Duas vezes por mês, na cidade de Porto Alegre, dezenas de imigrantes senegaleses se reúnem nesta "mesquita" improvisada em um apartamento para realizar suas orações. Em dezembro, a comunidade senegalesa comemora a festividade religiosa "Grand Magal Touba", entoando cantigas e poemas escritos pelo líder muçulmano senegalês Cheikh Ahmadou Bamba.
Foto: DW/L. Nagel
Comunicação com a família
O imigrante Omar Doingue fala todos os dias pela Internet com familiares em África, a partir de Porto Alegre, onde vive há poucos meses. A maioria dos senegaleses no Brasil é de classe média urbana, muitos têm ensino médio ou superior. Mesmo assim, em muitos casos, acabam por se dedicar ao comércio informal.
Foto: DW/L. Nagel
Rapper angolano faz sucesso no Brasil
Geraldino Canhanga do Carmo da Silva, conhecido como o rapper "Kanhanga", nasceu na cidade do Lobito, em Angola. Escolheu a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para estudar e seguir a carreira de músico. Vive no Brasil desde 2005 e denuncia, através da música, o racismo e a descriminação de que os negros são alvo.
Foto: Kanhanga
Cantar contra a discriminação
Na foto, o rapper angolano canta para população no centro de Porto Alegre. Kanhanga diz ter sido vítima de discriminação quando, em 2014, foi preso por engano. Numa canção, o músico angolano afirma: "Tira as algemas de mim, tira as algemas de mim, polícias racistas bem longe de mim".
Foto: Kanhanga
Guineense chamado de "macaco"
Francisco Ialá, natural de Bissau, vive em Porto Alegre desde junho de 2005. Já foi vítima de racismo e chamado de "macaco" quando morava em uma República de Estudantes. "Depois de formado, vou cursar mestrado em Direito Internacional e lutar por justiça aqui (no Brasil) e no meu país", disse.
Foto: DW/L. Nagel
Não saiu sem ser atentido pelo governador
Em protesto contra o racismo, o guineense Francisco Ialá permaneceu durante horas em frente ao Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul. O objetivo era ser atendido pelo governador José Ivo Sartori (à direita na foto). Depois de passar um dia inteiro em frente ao Palácio, finalmente Francisco logrou seu objetivo.
Foto: DW/L. Nagel
Aulas para crianças carentes
Além de estudar Direito, Francisco Ialá treina judô, pelo menos quatro vezes por semana, na cidade de Porto Alegre. O imigrante guineense dá aulas a crianças e jovens carentes. O exercício se tornou um aliado na luta pela inclusão social de pessoas em situação de vulnerabilidade.
Foto: DW/L. Nagel
Trabalho voluntário
"Chico", como Francisco Ialá é chamado pelos alunos, trabalha voluntariamente em uma escola pública localizada na zona norte de Porto Alegre. O guineense ensina, pelo menos duas vezes por semana, a disciplina de Direitos Humanos em Educação para as crianças.
Foto: DW/L. Nagel
Auxiliar em vez de enfermeiro
O enfermeiro Moussa Sene, de 34 anos, é natural de Rufisque, Senegal. Veio para o Brasil em março de 2014 com a esperança de exercer sua profissão. Atualmente, Moussa tem trabalho oficial com carteira assinada, conforme as leis brasileiras do trabalho. No entanto, trabalha como auxiliar de serviços gerais em uma distribuidora de refrigerantes em Sapucaia do Sul, Rio Grande do Sul.
Foto: DW/L. Nagel
Remessas para ajudar a família em África
O senegalês Moussa Sene vive num quarto alugado numa pensão na cidade de Novo Hamburgo, 40 km ao sul de Porto Alegre. Paga mensalmente 300 reais (68 euros) pela hospedagem e envia para o Senegal cerca de 600 reais (136 euros) para o sustento de sua família. Moussa é casado, tem dois filhos e sonha em trazer a família para viver no Brasil.
Foto: DW/L. Nagel
Manter os costumes religiosos
Mesmo distante de casa, Moussa Sene mantém as tradições. Como muçulmano fiel, o senegalês reza cinco vezes por dia. Guarda um exemplar do livro sagrado dos muçulmanos, o Alcorão, no seu quarto.
Foto: DW/L. Nagel
Promessas não cumpridas
Em outubro de 2015, o enfermeiro senegalês ficou conhecido nacionalmente por salvar a vida de uma passageira dentro de um trem em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. A idosa teve um mal súbito e desmaiou. Moussa socorreu a vítima. Após o episódio, várias promessas de trabalho em hospitais e clínicas surgiram, no entanto nada foi concretizado. Moussa segue sua batalha por um trabalho de enfermeiro.