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Bolsonaro, o ex-capitão que se tornou Presidente do Brasil

Lusa
2 de janeiro de 2019

Jair Bolsonaro, o novo Presidente brasileiro que tomou posse segunda-feira, pretende liderar uma marcha conservadora baseada numa ordem civil inspirada na cultura militar, na moral cristã e no liberalismo económico.

Jair Bolsonaro ao lado da mulher, Michelle Bolsonaro, e do ex-Presidente Michel TemerFoto: picture-alliance/dpa/AP/S. Izquierdo

Considerado "mito" e "herói" pelos seus apoiantes e um "perigo para a democracia" por críticos e adversários, Jair Messias Bolsonaro, de 63 anos, está na política brasileira há 28 anos e antes de vencer as presidenciais de 2018 foi eleito deputado (membro da câmara baixa) sete vezes consecutivas, sem nunca ter ocupado um cargo importante no Parlamento.

Capitão do exército reformado e defensor da ditadura militar - regime que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985 -, o 38.º Presidente brasileiro iniciou a carreira política como uma figura caricata de posições extremas e discursos agressivos em defesa da autoridade do Estado e dos valores da família cristã.

Bolsonaro ganhou notoriedade nos últimos anos e transformou-se num líder capaz de mobilizar milhares de eleitores desiludidos com a mais severa recessão económica da história do Brasil, que eclodiu entre os anos de 2015 e 2016, ao mesmo tempo que as lideranças políticas tradicionais do país foram apanhadas em escândalos de corrupção.

Bolsonaro tomou posse como Presidente no Congresso NacionalFoto: Agência Brasil/J. Cruz

Sempre se posicionou como um inimigo declarado de ideias defendidas por partidos de esquerda chegando a declarar publicamente em inúmeras oportunidades que varrerá do Brasil todos aqueles que defendem a ideologia comunista.

Bolsonaro é favorável ao porte livre de armas e prega que o combate à violência no Brasil, país que atingiu a marca de 63.800 homicídios em 2017, deve ser feito de forma violenta pelas autoridades policiais.

Na área de segurança pública tem propostas polémicas, como a defesa da implantação de uma figura jurídica no sistema legal, que impediria que homicídios cometidos por polícias em serviço fossem julgados criminalmente. 

Combate à corrupção

O novo Presidente do Brasil promete combater a corrupção, embora tenha já visto o nome de um dos seus filhos envolvido em suspeitas sobre supostos pagamentos ilegais a ex-funcionários da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Embora tenha pautado a sua carreira na defesa do corporativismo dos funcionários públicos, principalmente das polícias e das Forças Armadas, Bolsonaro assumiu recentemente uma agenda liberal.

Cerimónia de tomada de posse em BrasíliaFoto: Getty Images/AFP/S. Lima

Anunciou que pretende fazer uma ampla reforma no sistema de pagamento de pensões, fragilizar as leis de proteção dos trabalhadores, reduzir a participação do Estado na economia e abrir o país ao comércio mundial com projetos ambiciosos para atrair investimento estrangeiro.

Para liderar esta marcha, escolheu Paulo Guedes, um economista que defende a privatização de empresas públicas e a não-interferência do Estado nos setores produtivos inspirado nos preceitos do liberalismo económico da escola de Chicago.

Política externa inspirada em Trump

Na política externa, inspira-se no Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendendo uma retórica agressiva contra Cuba e a Venezuela, e tem também demostrado pouco interesse em manter o Brasil alinhado com decisões assumidas em fóruns multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU).

O novo Presidente brasileiro já disse ser contrário ao respeito do Acordo de Paris para o Clima e ao recém-aprovado Pacto mundial para as Migrações.

Trump e a "América para os americanos"

01:08

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No que diz respeito aos costumes, Bolsonaro defende valores da família cristã, tendo amplo apoio dos evangélicos que compõem pelo menos um terço da população brasileira e uma frente com grande força política no Parlamento brasileiro.

O novo chefe de Estado do Brasil é contra o aborto, contra políticas de reparação racial (como cotas para negros em universidades e órgãos públicos) e ações voltadas para a proteção dos homossexuais e outras minorias.

Bolsonaro também deixou claro que não aplicará recursos do Governo em organizações não-governamentais que atuam em defesa dos direitos humanos ou da agenda ambiental.

Na área do meio ambiente, é favorável a diminuição da fiscalização de crimes, tendo-se comprometido publicamente em diversas ocasiões acabar com o que chama de "indústria da multas" a que estão sujeitos aqueles que comentem infrações contra o meio ambiente no Brasil.

Nas eleições, Bolsonaro beneficiou da redução eleitoral dos grandes partidos tradicionais e assentou uma política de alianças com novos partidos de direita e deputados associados a igrejas evangélicas, ao negócio das armas e ao setor da agropecuária, que agora são representados no seu gabinete e no Governo do Brasil até 2022. Durante a campanha, o seu lema foi: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".

Bolsonaro já casou três vezes, a última das quais em 2007 com Michelle Reinaldo, sua antiga secretária e 25 anos mais nova, e tem cinco filhos.