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Bolsonaro, o "Trump brasileiro"

Kersten Knipp | ac
26 de outubro de 2018

No domingo, o Brasil poderá eleger um candidato de extrema-direita que roça o racismo, a xenofobia e o autoritarismo. O que leva, a exemplo dos Estados Unidos, a maioria dos brasileiros a escolher um líder populista?

Jair Bolsonaro é o favorito para ganhar as eleições presidenciais no BrasilFoto: Getty Images/AFP/C. De Souza

No domingo, haverá eleições no Brasil e muitos temem que a vaga conservadora que se abateu sobre o país leve à eleição de mais um líder populista num dos maiores países do mundo. Jair Bolsonaro poderá vencer estas presidenciais com um discurso antissistema, como aliás já aconteceu nos Estados Unidos da América (EUA), com Donald Trump. O que une os políticos Trump e Bolsonaro? O que os separa? E será que na Europa também se caminha na mesma direção, com alguns anos de atraso, como normalmente acontece?

Muito se tem falado do fenómeno Trump e na possibilidade de o seu modelo de fazer campanha e política poder vir a ser copiado, com êxito, noutros países, em todos os continentes. Muitos dizem que Trump é simplesmente um mentiroso compulsivo que apela aos ressentimentos mais básicos dos mais pobres e menos esclarecidos. Daniel Stein, investigador alemão da Universidade de Siegen, salienta que as razões são um pouco mais complexas. Há que ter em conta as preocupações legítimas de cidadãos que temem perder o seu estatuto social e cultural num mundo cada vez mais globalizado.

Bolsonaro, o "Trump brasileiro"

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"Não deixa de ser interessante o facto que não foram os mais pobres que elegeram Trump, mas sobretudo uma certa classe média que teme que o seu país esteja a ser transformado em algo que não querem. Essas pessoas têm medo de descer na escala social", sublinha o analista. "Aí aparece uma figura como Trump que lhes promete alterar as regras do jogo. Muitas pessoas simpatizam com a ideia. Algumas pessoas acham também graça ao estilo bruto e atroz do político em questão. Muitos cidadãos estão fartos dos discursos oficiosos e politicamente corretos. Regista-se uma tendência para a destruição e atrocidade. E é isso que Trump usa de forma bastante habilidosa", explica.

De salientar que o populismo não é um fenómeno completamente novo que surgiu com Donald Trump. Antes de Trump já houve populistas, de esquerda e de direita, na América Latina, na Ásia e também na Europa. Mas a vitória de Trump não deixa de ser um marco histórico, tratando-se dos Estados Unidos, uma super potência militar, económica e cultural.

A vitória de dois partidos populistas, um de esquerda e outro de direita, que formaram governo em Itália, deveu-se também ao efeito Trump, dizem observadores. Movimentos comparáveis a Trump surgiram também noutros países europeus, como a Hungria, a Polónia, a Áustria, a França e mesmo a Alemanha.

Reviravolta na política brasileira

No Brasil, existe a hipótese de um homem que se autodenomina o "Trump brasileiro" ascender ao poder, afirma Claudia Zilla, investigadora da Fundação Ciência e Política de Berlim. Claudia Zilla refere-se naturalmente a Jair Bolsonaro, um homem que se atreve a utilizar um discurso que roça a xenofobia, o racismo e o autoritarismo.

Estilo de Trump agrada a muitos eleitoresFoto: picture-alliance/AP/S. Walsh

"Pode-se dizer que quem vota em Bolsonaro pretende emitir um sinal de protesto contra o sistema político estabelecido. Se bem que a maioritariamente os apoiantes de Bolsonaro pertencem a classes tradicionalmente mais favorecidas, vivem nas regiões mais ricas e têm alguma formação. Essas pessoas têm a impressão que os políticos tradicionais são todos mais ou menos iguais e que a política é um negócio sujo e corrupto e que todos os os partidos tradicionais estão envolvidos na corrupção", diz.

"Os escândalos dos últimos anos parecem precisamente confirmar essa tese. No entanto, não deixa de ser absurdo o facto de Bolsonaro ser um militar. E as forças armadas sempre fizeram parte desse mesmo sistema. Acresce que Bolsonaro é deputado há 28 anos, portanto ele próprio pertence à classe de políticos que pretende combater. No entanto, ele apresenta-se como homem que é contra a política suja e que vai priorizar os problemas reais dos brasileiros. E parece que muitas pessoas acreditam nesse discurso", acrescenta Claudia Zilla.

As eleições brasileiras deste domingo (28.10) poderão, de facto, ditar uma reviravolta na cultura política do país. Alguns falam de uma revolução cultural. Outros, mais pessimistas, falam de uma clara tendência para um sistema autoritário e até ditadorial.

Até ao momento, apesar das constantes advertências, Bolsonaro é o claro favorito para a votação final e, de acordo com o último levantamento, pode chegar a 56% dos votos, superando seu adversário Fernando Haddad, que nas últimas sondagens surge com 44% da preferência dos eleitores, de acordo com o Instituto Datafolha.

 

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