No domingo, o Brasil poderá eleger um candidato de extrema-direita que roça o racismo, a xenofobia e o autoritarismo. O que leva, a exemplo dos Estados Unidos, a maioria dos brasileiros a escolher um líder populista?
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No domingo, haverá eleições no Brasil e muitos temem que a vaga conservadora que se abateu sobre o país leve à eleição de mais um líder populista num dos maiores países do mundo. Jair Bolsonaro poderá vencer estas presidenciais com um discurso antissistema, como aliás já aconteceu nos Estados Unidos da América (EUA), com Donald Trump. O que une os políticos Trump e Bolsonaro? O que os separa? E será que na Europa também se caminha na mesma direção, com alguns anos de atraso, como normalmente acontece?
Muito se tem falado do fenómeno Trump e na possibilidade de o seu modelo de fazer campanha e política poder vir a ser copiado, com êxito, noutros países, em todos os continentes. Muitos dizem que Trump é simplesmente um mentiroso compulsivo que apela aos ressentimentos mais básicos dos mais pobres e menos esclarecidos. Daniel Stein, investigador alemão da Universidade de Siegen, salienta que as razões são um pouco mais complexas. Há que ter em conta as preocupações legítimas de cidadãos que temem perder o seu estatuto social e cultural num mundo cada vez mais globalizado.
Bolsonaro, o "Trump brasileiro"
"Não deixa de ser interessante o facto que não foram os mais pobres que elegeram Trump, mas sobretudo uma certa classe média que teme que o seu país esteja a ser transformado em algo que não querem. Essas pessoas têm medo de descer na escala social", sublinha o analista. "Aí aparece uma figura como Trump que lhes promete alterar as regras do jogo. Muitas pessoas simpatizam com a ideia. Algumas pessoas acham também graça ao estilo bruto e atroz do político em questão. Muitos cidadãos estão fartos dos discursos oficiosos e politicamente corretos. Regista-se uma tendência para a destruição e atrocidade. E é isso que Trump usa de forma bastante habilidosa", explica.
De salientar que o populismo não é um fenómeno completamente novo que surgiu com Donald Trump. Antes de Trump já houve populistas, de esquerda e de direita, na América Latina, na Ásia e também na Europa. Mas a vitória de Trump não deixa de ser um marco histórico, tratando-se dos Estados Unidos, uma super potência militar, económica e cultural.
A vitória de dois partidos populistas, um de esquerda e outro de direita, que formaram governo em Itália, deveu-se também ao efeito Trump, dizem observadores. Movimentos comparáveis a Trump surgiram também noutros países europeus, como a Hungria, a Polónia, a Áustria, a França e mesmo a Alemanha.
Reviravolta na política brasileira
No Brasil, existe a hipótese de um homem que se autodenomina o "Trump brasileiro" ascender ao poder, afirma Claudia Zilla, investigadora da Fundação Ciência e Política de Berlim. Claudia Zilla refere-se naturalmente a Jair Bolsonaro, um homem que se atreve a utilizar um discurso que roça a xenofobia, o racismo e o autoritarismo.
"Pode-se dizer que quem vota em Bolsonaro pretende emitir um sinal de protesto contra o sistema político estabelecido. Se bem que a maioritariamente os apoiantes de Bolsonaro pertencem a classes tradicionalmente mais favorecidas, vivem nas regiões mais ricas e têm alguma formação. Essas pessoas têm a impressão que os políticos tradicionais são todos mais ou menos iguais e que a política é um negócio sujo e corrupto e que todos os os partidos tradicionais estão envolvidos na corrupção", diz.
"Os escândalos dos últimos anos parecem precisamente confirmar essa tese. No entanto, não deixa de ser absurdo o facto de Bolsonaro ser um militar. E as forças armadas sempre fizeram parte desse mesmo sistema. Acresce que Bolsonaro é deputado há 28 anos, portanto ele próprio pertence à classe de políticos que pretende combater. No entanto, ele apresenta-se como homem que é contra a política suja e que vai priorizar os problemas reais dos brasileiros. E parece que muitas pessoas acreditam nesse discurso", acrescenta Claudia Zilla.
As eleições brasileiras deste domingo (28.10) poderão, de facto, ditar uma reviravolta na cultura política do país. Alguns falam de uma revolução cultural. Outros, mais pessimistas, falam de uma clara tendência para um sistema autoritário e até ditadorial.
Até ao momento, apesar das constantes advertências, Bolsonaro é o claro favorito para a votação final e, de acordo com o último levantamento, pode chegar a 56% dos votos, superando seu adversário Fernando Haddad, que nas últimas sondagens surge com 44% da preferência dos eleitores, de acordo com o Instituto Datafolha.
Donald Trump: Populista, empreendedor, Presidente
Donald Trump é empreendedor imobiliário e estrela de televisão. Muitos não o levavam a sério. Mas ele venceu as eleições e, a partir de 20 de janeiro de 2017, será o 45º Presidente dos Estados Unidos da América (EUA).
Foto: picture-alliance/dpa/K. Lemm
A família, o seu império
Trump com a sua família: a esposa, Melania (de branco), as filhas Ivanka e Tiffany, os filhos Eric e Donald Junior, e os netos Kai e Donald Junior 3º. Os filhos são "vice-presidentes seniores" do conglomerado Trump.
Foto: picture-alliance/dpa
Frederick Junior, o pai
Donald Trump herdou o dinheiro para os seus investimentos do pai, Frederick, que lhe deu um capital inicial de um milhão de dólares. Após a sua morte, em 1999, Donald e os seus três irmãos herdaram uma fortuna de 400 milhões de dólares.
Foto: imago/ZUMA Press
Capitão Trump
Quando tinha 13 anos, o seu pai enviou Trump para um internato militar em Cornwall-on-Hudson, onde deveria aprender a ser disciplinado. No último ano, ele obteve inclusive uma patente militar. Ele diz que, ali, recebeu mais treinamento militar do que nas Forças Armadas americanas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/
"Very good, very smart"
"Muito bom, muito inteligente", é o que Trump diz de si mesmo. E acrescenta que cursou a escola de elite Wharton (foto), da Universidade de Pensilvânia, na Filadélfia, onde se formou em 1968. É uma das oito universidades integrantes da Ivy League, as universidades mais prestigiadas dos EUA. Mesmo assim, sabe-se pouco sobre o percurso de Trump na faculdade.
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Dispensado da Guerra do Vietname
Devido a um problema no calcanhar, Trump foi dispensado e não lutou na Guerra do Vietname. Na guerra, morreram cerca de 58 mil soldados dos Estados Unidos e aproximadamente três a quatro milhões de vietnamitas dos dois lados, além de outros dois milhões de cambojanos e laocianos.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Ivana, a primeira esposa
Em 1977, Trump casou-se com a modelo tcheca Ivana Zelníčková, com quem teve três filhos. O relacionamento foi acompanhado de rumores sobre relacionamentos extraconjugais. Foi Ivana quem apelidou Trump de "The Donald".
Foto: Getty Images/AFP/Swerzey
Anos 80: Abertura do Harrah's at Trump Plaza
Esta foto, tirada em 1984, marca a abertura do Harrah's at Trump Plaza, um complexo envolvendo hotel, restaurante e casino em Atlantic City (Nova Jérsia). Este foi um dos primeiros investimentos que tornaram Trump bilionário.
Foto: picture-alliance/AP Images/M. Lederhandler
Família número 2
Em 1990, Trump divorciou-se de Ivana e casou-se com Marla, 17 anos mais jovem que ele. A filha do casal se chama Tiffany.
Foto: picture alliance/AP Photo/J. Minchillo
As meninas de Trump
Em público, Trump não aparece só ao lado de sua esposa. Ele costuma acompanhar concursos de beleza ao lado de jovens modelos. De 1996 a 2015, ele foi o responsável pelo concurso de Miss Universo ("Miss Universe") nos EUA.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Lemm
Livro muito lido e vendido
Como fazer milhões de forma rápida? O best-seller de Trump "A arte da negociação" é um exemplo. O livro é em parte autobiográfico, em parte um livro de dicas para empresários ambiciosos. A publicação não foi somente uma das mais vendidas nos EUA, como também colocou Trump no centro das atenções no país.
Foto: Getty Images/AFP/M. Schwalm
O nome é a marca
Trump investe de forma agressiva, mas também sofre fracassos. Numa perspectiva de longo prazo, no entanto, obtém sucesso, como por exemplo com a Trump Tower em Nova York. Ele calcula a sua fortuna hoje em 10 bilhões de dólares. Especialistas, entretanto, consideram um terço desse valor mais realista. Portanto, cerca de 3 bilhões de dólares.
Foto: Getty Images/D. Angerer
"The Donald" no ringue
Como poucos, Trump consegue chamar a atenção dos mídia. Seu campo de ação inclui até um ringue de luta livre. No seu programa de TV "O Aprendiz" ("The Apprentice"), os candidatos eram contratados ou demitidos. A primeira edição foi ao ar durante o ano de 2004 na cadeia televisiva NBC. A frase favorita de Trump no programa era "Você está demitido!"
Foto: Getty Images/B. Pugliano
Ascenção rápida de Trump na política
Em 16 de junho de 2015, Trump anunciou a candidatura para a corrida presidencial pelo Partido Republicano. O seu slogan foi: "Faça a América grande outra vez" ("Make America great again"). A campanha foi feita ao lado da família e com slogans contra imigrantes, muçulmanos, mulheres e adversários políticos. Investiu muito nos mídia sociais como o Twitter onde tem 13,8 milhões de seguidores.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Lane
45º presidente dos Estados Unidos da América
A partir do dia 20 de janeiro de 2017, o populista e showman será o novo Presidente dos Estados Unidos. No início da campanha, poucos pensavam que poderia vencer as eleições do dia 8 de novembro de 2016 contra a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton. Mas a história de Donald J. Trump também mostra que este homem tem a capacidade de se transformar como um camaleão.