Em entrevista exclusiva, o embaixador da União Europeia em Angola diz que a ajuda no combate à seca e às mudanças climáticas é uma prioridade. Reage ainda ao pedido de repatriamento de capitais do Presidente angolano.
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O novo Presidente da República de Angola quer usar o dinheiro de angolanos no exterior não declarado para relançar a economia do país. Em dezembro de 2017, João Lourenço anunciou que iria estabelecer um "período de graça" em que os cidadãos que repatriassem capitais do estrangeiro não seriam interrogados, nem processados judicialmente.
Mas como controlar o repatriamento de capitais? Estará, por exemplo, a União Europeia (UE) disponível para facilitar dados bancários de contas de angolanos no bloco?
O embaixador da UE em Angola é categórico: "O repatriamento de capitais é uma questão para os países membros. Todos os capitais têm nome e são depositados num banco, mas não são depositados no Banco Central Europeu", afirma Tomas Ulicny, numa entrevista exclusiva à DW África.
"Bom momento"
O diplomata assegura, entretanto, que o relacionamento com o novo Governo angolano, empossado em setembro de 2017, é bom.
"Estamos num bom momento, porque tivemos um bom encontro entre os presidentes [João Lourenço e Jean-Claude Juncker] no âmbito da cimeira entre a União Europeia e a União Africana, em Abidjan. Segundo as minhas informações, ambos falaram sobre o apoio que a União Europeia poderia oferecer a Angola no sentido da reforma económica do Estado", diz o embaixador.
Tomas Ulicny destaca um projeto que começará a ser implementado este ano, no âmbito do combate à seca no sul de Angola. O bloco já assinou com o Governo angolano um acordo, avaliado em 66 milhões de euros, que beneficiará as famílias do Cunene, Kuando Kubango e Namibe. O projeto terá a duração de cinco anos.
"Isso corresponde ao esforço e à prioridade da UE de apoiar os projetos de luta contra a seca, mudanças climáticas e energias renováveis", esclarece o embaixador.
Ulicny diz também que, no âmbito do Fundo Europeu de Desenvolvimento, foram disponibilizados mais de 30 milhões de euros para o setor da saúde - verbas destinadas, em particular, às províncias do Moxico, Lunda Norte e Lunda Sul. Para o setor do ensino de base e superior, a União Europeia destinou igualmente uma verba superior a 30 milhões de euros.
Mas o que preocupa, neste momento, o representante do bloco europeu é a formação técnico-profissional. "Angola precisa de um ensino nesta área", sublinha.
Transição é "exemplo"
Ulicny confia que a transição política em Angola pode servir "como um bom exemplo para outros países africanos".
Muitos Estados da região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e dos Grandes Lagos registam conflitos político-militares, alguns deles resultantes do processo de transição. A República Democrática do Congo é um destes casos. Mas Angola "deu o exemplo de uma mudança pacífica", afirma.
O Governo de Luanda sempre foi visado em relatórios internacionais como violador de direitos, liberdades e garantias fundamentais, sendo a repressão de manifestações de rua e alegados assassinatos apontados como exemplos.
O atual representante da UE no país já desempenhou idênticas funções no Iraque, Sudão e Síria, e, em termos comparativos, sustenta que a situação dos direitos humanos em Angola não "não precisa de muitas críticas públicas".
"Estou em funções desde o último ano e, portanto, não estive em Angola no tempo do grupo "15+2"; neste momento, não temos conhecimento de que existam presos políticos", esclarece Ulicny.
Poder local é mais eficaz para resolver problemas
As eleições autárquicas em Angola poderão ser realizadas antes das próximas eleições gerais, previstas para 2022.
Para a resolução dos problemas básicos das populações, o representante europeu apoia a ideia da institucionalização do poder local, sublinhando que "quando o poder é transferido do nível central para o local é mais eficaz."
"Bom momento" nas relações UE-Angola
Entretanto, Tomas Ulicny garante estar em contacto permanente, e aberto ao diálogo, sobretudo com as forças com assento parlamentar.
"Mesmo depois das eleições falo com os dirigentes dos partidos regularmente, quando pedem encontro com a delegação da União Europeia, tendo pessoalmente visitado as sedes da CASA-CE [Convergência Ampla de Angola - Coligação Eleitoral], UNITA [União para a Independência Total de Angola] e MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola]", diz o diplomata.
O diálogo da UE estende-se à sociedade civil. Com organizações não-governamentais angolanas, por exemplo, decorre a implementação de sete contratos assinados em novembro, em vários domínios, estando o bloco europeu a contribuir particularmente "para fazer o registo de terras".
África luta contra as alterações climáticas
Nenhum continente sofrerá mais com as alterações climáticas do que África. Mas os países afetados não vão ficar à espera de braços cruzados: criaram as suas próprias iniciativas para combater as consequências.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Bothma
África luta contra as alterações climáticas
Os países industrializados são os principais responsáveis pela produção de gases de efeito de estufa, que contribuem para as alterações climáticas. Mas as principais vítimas estão no hemisfério sul. Enquanto África sofre com a seca, as tempestades, a erosão e a desertificação, os africanos estão a lançar iniciativas para combater as alterações climáticas.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Bothma
20 milhões em fuga das alterações climáticas em África?
Na Beira, em Moçambique, os efeitos já se fazem sentir. O nível das águas do mar está a subir e as inundações destroem bairros inteiros. Segundo a Greenpeace, todos os anos fogem das consequências das alterações climáticas mais do dobro das pessoas que fogem da guerra e da violência. Especialistas estimam que haverá cerca de 20 milhões de "refugiados do clima" africanos dentro de uma década.
Foto: DW/A. Sebastiao
Desafiar a força do mar
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100. Mas a Beira quer proteger-se das inundações e, para isso, construíram-se novos canais e cancelas: quando a maré sobe, a cancela fecha-se para proteger a parte baixa da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água.
Foto: DW/J. Beck
A "Grande Muralha Verde"
As areias do deserto do Saara continuam a avançar para sul, destruindo os terrenos agrícolas da África Subsaariana. Onze países estão a tentar travar a desertificação com um "muro" de floresta com 7,750 km de comprimento e 15 km de largura. As raízes das árvores estabilizam e ventilam o solo, permitindo a absorção de água. O projeto também significa novos meios de subsistência para os habitantes.
Foto: Getty Images/AFP/F. Senna
Prevenir a erosão
Cada vez mais agricultores deixam de poder trabalhar os seus campos por causa da erosão e da desertificação. Com um sistema de irrigação especial, Souna Moussa, do Níger, torna o seu solo fértil novamente. A técnica tem vários séculos, mas foi totalmente esquecida. Os especialistas também recomendam o cultivo de culturas mais tradicionais, que se adaptam melhor às terras.
Foto: DW/K. Tiassou
Energia hidroelétrica em vez de carvão
Muitos governos africanos apostam na água para garantir o fornecimento de energia nos seus países e estão a ser construídas novas infraestruturas. A energia hidroelétrica é amiga do ambiente, mas alguns projetos são controversos: por vezes, destroem-se vastas áreas de floresta e deslocam-se comunidades inteiras para abrir espaço para a construção de barragens.
Foto: Getty Images/AFP
Energia limpa para África
Até 2030, a eletricidade chegará a todo o continente africano. Este ambicioso objetivo foi estabelecido por 55 chefes de Estado e de Governo africanos na Conferência do Clima de Paris, em 2015. A Iniciativa para as Energias Renováveis em África pretende alimentar a rede elétrica africana com 300 gigawatts de eletricidade limpa por ano. Parques eólicos como este, na Etiópia, são apenas o começo.
Foto: Getty Images/AFP/J. Vaughn
Autossuficiência
Cada vez mais pessoas em África geram a sua própria energia - e não dependem mais da rede elétrica pública ou de geradores. A queda do preço da energia solar torna a eletricidade renovável mais acessível, seja no fornecimento de energia a hospitais e escolas com painéis solares ou na iluminação de casas com pequenas lâmpadas alimentadas por energia solar.
Foto: Solar4Charity
Garrafas de plástico em vez de tijolos
Em África, a reciclagem não conquistou apenas o mundo da moda: já chegou ao setor da construção. Na Nigéria, constroem-se casas com garrafas de plástico usadas que, de outro modo, seriam deitadas fora, contribuindo para o aumento da poluição. Estima-se que, a cada minuto, seja comprado um milhão de garrafas de plástico em todo o mundo.
Foto: DARE
A jovem heroína do ambiente da Tanzânia
Gertrude Clement, de 16 anos, está empenhada na proteção do ambiente. Uma vez por semana, a adolescente da Tanzânia apresenta um programa ambiental na sua estação de rádio local. "Espero que os meus ouvintes estejam a fazer alguma coisa para mudar a situação - para proteger o ambiente e manter a nossa água limpa", disse à DW. Na foto, Gertrude fala na Assembleia Geral da ONU, em abril de 2016.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS/N. Siesel
Procuram-se especialistas do clima
Para que África consiga enfrentar as alterações climáticas, é preciso entender melhor os seus efeitos a nível local e regional. O Centro Científico para as Alterações Climáticas da África Austral, criado por Angola, Namíbia, Botsuana, África do Sul, Zâmbia e Alemanha está a trabalhar para isso. A organização quer reduzir o impacto das alterações climáticas na agricultura e nos recursos hídricos.