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Analistas: "Acidente" na Nigéria pode repetir-se

Martina Schwikowski
19 de janeiro de 2017

As organizações de assistência na Nigéria temem uma catástrofe humanitária após o bombardeamento acidental de um campo de refugiados pela força aérea nacional. Os analistas prevêem mais violência militar contra civis.

Nigeria Luftangriff auf Flüchtlingslager
Foto: Reuters/MSF

Dezenas de pessoas morreram no bombardeamento do campo de refugiados na região de Kala Balge, no estado federado de Borno, na terça-feira, 17 de janeiro. Um porta-voz do Governo confirmou o que disse ter sido um ataque "acidental”, que deixou mais de uma centena de pessoas feridas, muitas em estado grave.    

Segundo a Cruz Vermelha Internacional, o ataque matou 70 pessoas e destruiu uma parte do campo próximo da cidade de Rann. O campo acolhe milhares de refugiados do conflito entre o Governo e o grupo terrorista islamista Boko Haram.

"Névoa da guerra”

Pelo menos duas bombas atingiram o campo perto da fronteira nigeriana com os Camarões. O recinto está sob controlo do exército de Abuja. Na região decorre uma operação de grande envergadura contra o grupo terrorista. As autoridades nigerianas atribuíram o bombardeamento acidental à "névoa da guerra”, expressão usada para descrever também a interpretação errónea de ordens recebidas.

As organizações de assistência têm dificuldades em chegar aos deslocados no norteFoto: Reuters/S.Ini

Na altura do ataque, o campo abrigava cerca de 43.000 deslocados. Dado a gravidade dos ferimentos, conta-se com um aumento do número de mortos. Está em curso a transferência aérea de feridos para hospitais na vizinhança.

Resultado da falta de respeito

A organização benévola Médicos Sem Fronteiras (MSF), que fazia um trabalho de vacinação infantil no campo, afirma que o mesmo está sob controlo do exército nigeriano há dois meses. Florian Westphal, diretor-geral da MSF na Alemanha, disse à DW: "Estamos neste campo com o conhecimento e a aprovação do exército nigeriano. Trata-se de um campo civil, pelo que o ocorrido levanta uma série de questões. É nosso dever condenar este incidente, que resulta da falta de respeito pela segurança dos civis.”

Urge assistência humanitária

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A MSF está envolvida em operações humanitárias no nordeste da Nigéria e nos vizinhos Camarões. Segundo Westphal, os seus serviços são procurados por centenas de milhares de pessoas, na maioria deslocados, em cinco cidades do estado federado de Borno. É uma região de difícil acesso, o que torna problemática a organização da assistência, disse Westphal à DW: "Em muitas áreas ainda ocorrem conflitos armados pelo que não é fácil fazer chegar a ajuda a quem precisa.”

Até muito recentemente, as agências de assistência locais e internacionais não tinham acesso a Rann por causa do estado degradado das estradas e da insegurança nesta parte remota do Lago de Chade. No mês passado, o exército anunciou ter expulsado o Boko Haram dos seus quartéis na floresta de Simbisa, no sul de Borno, obrigando os insurgentes a fugirem para norte.  

Erro trágico

O analista nigeriano especializado em questões de segurança, Nuhu Othman, diz que no norte é muito provável que os terroristas se misturem à população local: "Este foi um erro trágico cometido pelo exército, que mostra a capacidade real da Nigéria de lançar este tipo de operações.”

Apesar de alegadamente "derrotado" pelo exército, o Boko Haram continua a semear o terrorFoto: picture alliance/AP Photo

O Governo admitiu de imediato a responsabilidade pelo ataque, que qualificou de erro. O que não surpreende diz Othman: "Eles têm que pedir desculpas, porque os nigerianos estão indignados. Mas os nigerianos querem uma investigação e o julgamento dos pilotos.” Segundo Othman, de qualquer forma o ataque não podia ter sido ocultado, porque aconteceu num campo de refugiados e teve muitas testemunhas.

Mais ataques prováveis

O exército nigeriano reforçou as operações contra o Boko Haram. O Presidente Mohammadu Buhari chamou à estratégia um último esforço para aniquilar os insurgentes. Mas segundo o analista Othman, apesar de investimentos militares recentes, "o Governo tem dificuldades em obter armas e munições. As autoridades têm que comprar armas ao Paquistão e à Rússia, porque é proibido vender armas a governos suspeitos de violação dos direitos humanos.”

O analista receia que, de futuro, aumentem os incidentes que vitimizam civis, "uma vez que os combatentes do Boko Haram se misturam à população”.

 

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