No Brasil, três polícias foram indiciados por crime militar devido a um tiroteio onde um angolano ficou ferido, depois de ter sido baleado por engano. Uma cidadã brasileira foi morta durante o mesmo incidente, em maio.
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A Brigada Militar do Rio Grande do Sul, no Brasil, indiciou por crime militar os três polícias envolvidos num incidente que causou a morte da brasileira Dorildes Laurindo, de 56 anos, e feriu gravemente o angolano Gilberto Almeida, de 26 anos.
O crime ocorreu a 17 de maio na cidade de Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre. O Inquérito Policial Militar foi concluído na última sexta-feira (07.08) e encaminhado à Justiça Militar do Estado.
Também cabe ao Ministério Público Militar manifestar-se quanto ao indiciamento e decidir se irá denunciar os polícias ou não. Até à decisão dos órgãos militares, os polícias envolvidos no tiroteio serão submetidos a um processo administrativo disciplinar e ficam afastados das suas funções.
A medida não agrada ao sobrevivente angolano Gilberto Almeida. "Acho que afastamento ainda é muito pouco. Nós vamos continuar a lutar para que seja feita justiça, porque cometeram um crime, foi um homicídio e uma tentativa de homicídio", acusa.
"Eles [os polícias] mudaram o cenário do crime e falaram algo que não existe no depoimento. Eu fui preso injustamente e acho que estes crimes devem ser julgados como [qualquer] cidadão comum'', concluiu Gilberto Almeida.
A advogada de defesa do angolano, Ana Konrath, diz que vai mover um processo de indemnização contra o Estado do Rio Grande do Sul.
Quem paga os cuidados médicos?
Após deixar a prisão onde ficou detido injustamente durante 12 dias, Gilberto Almeida ficou mais dois meses no Rio Grande do Sul para tratamento médico e sessões de fisioterapia. O angolano ficou com duas balas alojadas no corpo, uma na perna direita e outra na região da bacia.
Recém-chegado à cidade de Anápolis, no Estado de Goiás, onde reside, Gilberto continua o tratamento com recursos próprios. Esta semana, o angolano será submetido a uma nova cirurgia para retirar um dos projéteis.
"Eu estou aqui já, há duas semanas dando seguimento ao tratamento com a fisioterapia. Esta semana vou fazer outra cirurgia. Vou retirar o projétil que está na bacia'', contou. Os médicos não pretendem mexer na bala alojada no joelho direito, porque está num local crítico e muito sensível.
Para pagar as despesas de tratamento médico e sessões de fisioterapia, Gilberto Almeida teve de fazer uma "vaquinha online" para arrecadar fundos.
Fogo cruzado
No dia 17 de maio, a costureira Dorildes Laurindo e o angolano Gilberto Almeida regressavam de um passeio ao litoral do Rio Grande do Sul. O casal estava dentro de um carro que foi acionado através de uma aplicação móvel de boleias de longa distância. O motorista, que estava em fuga à justiça, ultrapassou uma barreira policial durante o percurso.
Houve reação por parte do condutor e os polícias revidaram com tiros que acabaram por atingir os dois passageiros. Dorildes Laurindo faleceu no hospital após duas semanas de internamento. Gilberto Almeida foi baleado e preso, acusado de ter atirado contra os polícias. Já o motorista, identificado como Luiz C., tentou escapar a pé e foi imediatamente detido.
Os novos migrantes africanos do sul do Brasil
O estado brasileiro do Rio Grande do Sul é conhecido pela imigração alemã. Mas, nos últimos anos, foi destino de migrantes africanos que lá procuram uma vida melhor. Vivem à margem da sociedade e queixam-se de racismo.
Foto: DW/L. Nagel
O sonho de todos os migrantes é o mesmo
Vendedores ambulantes do Senegal no bairro Sarandi em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Óculos de sol são vendidos a preços baixos. No Brasil podem ganhar três ou até quatro vezes mais do que no seu país de origem. O sonho deles é o mesmo dos imigrantes alemães, italianos e poloneses, que chegaram há quase dois séculos em terras gaúchas: trabalhar e viver em paz no Brasil.
Foto: DW/L. Nagel
Senegaleses são maioria entre os africanos
A Associação dos Senegaleses de Porto Alegre tem cerca de 200 membros. A sede da associação fica na zona norte da cidade, em um apartamento, onde há reuniões e orações em conjunto. Em 2014, mais de mil senegaleses pediram refúgio no Brasil. O refúgio só é concedido quando há provas de perseguição política, étnica ou religiosa.
Foto: DW/L. Nagel
Convívio entre os migrantes senegaleses
Duas vezes por mês, na cidade de Porto Alegre, dezenas de imigrantes senegaleses se reúnem nesta "mesquita" improvisada em um apartamento para realizar suas orações. Em dezembro, a comunidade senegalesa comemora a festividade religiosa "Grand Magal Touba", entoando cantigas e poemas escritos pelo líder muçulmano senegalês Cheikh Ahmadou Bamba.
Foto: DW/L. Nagel
Comunicação com a família
O imigrante Omar Doingue fala todos os dias pela Internet com familiares em África, a partir de Porto Alegre, onde vive há poucos meses. A maioria dos senegaleses no Brasil é de classe média urbana, muitos têm ensino médio ou superior. Mesmo assim, em muitos casos, acabam por se dedicar ao comércio informal.
Foto: DW/L. Nagel
Rapper angolano faz sucesso no Brasil
Geraldino Canhanga do Carmo da Silva, conhecido como o rapper "Kanhanga", nasceu na cidade do Lobito, em Angola. Escolheu a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para estudar e seguir a carreira de músico. Vive no Brasil desde 2005 e denuncia, através da música, o racismo e a descriminação de que os negros são alvo.
Foto: Kanhanga
Cantar contra a discriminação
Na foto, o rapper angolano canta para população no centro de Porto Alegre. Kanhanga diz ter sido vítima de discriminação quando, em 2014, foi preso por engano. Numa canção, o músico angolano afirma: "Tira as algemas de mim, tira as algemas de mim, polícias racistas bem longe de mim".
Foto: Kanhanga
Guineense chamado de "macaco"
Francisco Ialá, natural de Bissau, vive em Porto Alegre desde junho de 2005. Já foi vítima de racismo e chamado de "macaco" quando morava em uma República de Estudantes. "Depois de formado, vou cursar mestrado em Direito Internacional e lutar por justiça aqui (no Brasil) e no meu país", disse.
Foto: DW/L. Nagel
Não saiu sem ser atentido pelo governador
Em protesto contra o racismo, o guineense Francisco Ialá permaneceu durante horas em frente ao Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul. O objetivo era ser atendido pelo governador José Ivo Sartori (à direita na foto). Depois de passar um dia inteiro em frente ao Palácio, finalmente Francisco logrou seu objetivo.
Foto: DW/L. Nagel
Aulas para crianças carentes
Além de estudar Direito, Francisco Ialá treina judô, pelo menos quatro vezes por semana, na cidade de Porto Alegre. O imigrante guineense dá aulas a crianças e jovens carentes. O exercício se tornou um aliado na luta pela inclusão social de pessoas em situação de vulnerabilidade.
Foto: DW/L. Nagel
Trabalho voluntário
"Chico", como Francisco Ialá é chamado pelos alunos, trabalha voluntariamente em uma escola pública localizada na zona norte de Porto Alegre. O guineense ensina, pelo menos duas vezes por semana, a disciplina de Direitos Humanos em Educação para as crianças.
Foto: DW/L. Nagel
Auxiliar em vez de enfermeiro
O enfermeiro Moussa Sene, de 34 anos, é natural de Rufisque, Senegal. Veio para o Brasil em março de 2014 com a esperança de exercer sua profissão. Atualmente, Moussa tem trabalho oficial com carteira assinada, conforme as leis brasileiras do trabalho. No entanto, trabalha como auxiliar de serviços gerais em uma distribuidora de refrigerantes em Sapucaia do Sul, Rio Grande do Sul.
Foto: DW/L. Nagel
Remessas para ajudar a família em África
O senegalês Moussa Sene vive num quarto alugado numa pensão na cidade de Novo Hamburgo, 40 km ao sul de Porto Alegre. Paga mensalmente 300 reais (68 euros) pela hospedagem e envia para o Senegal cerca de 600 reais (136 euros) para o sustento de sua família. Moussa é casado, tem dois filhos e sonha em trazer a família para viver no Brasil.
Foto: DW/L. Nagel
Manter os costumes religiosos
Mesmo distante de casa, Moussa Sene mantém as tradições. Como muçulmano fiel, o senegalês reza cinco vezes por dia. Guarda um exemplar do livro sagrado dos muçulmanos, o Alcorão, no seu quarto.
Foto: DW/L. Nagel
Promessas não cumpridas
Em outubro de 2015, o enfermeiro senegalês ficou conhecido nacionalmente por salvar a vida de uma passageira dentro de um trem em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. A idosa teve um mal súbito e desmaiou. Moussa socorreu a vítima. Após o episódio, várias promessas de trabalho em hospitais e clínicas surgiram, no entanto nada foi concretizado. Moussa segue sua batalha por um trabalho de enfermeiro.