Brasil: Sobe número de vítimas em rutura de barragem da Vale
EFE | Lusa | AFP | tms
27 de janeiro de 2019
Subiu para 37 o número de mortes em Brumadinho, no sudeste do Brasil, após a rutura de uma barragem da mineradora Vale. Pelo menos 300 pessoas continuam desaparecidas. Autoridades alertam para o risco de novas ruturas.
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O número de mortos devido ao desastre da última sexta-feira em Brumadinho, no interior de Minas Gerais, no sudeste do Brasil, subiu neste domingo (27.01) para 37. As autoridades também alertaram para o risco de rutura iminente de uma segunda barragem na região.
No sábado, o último registo oficial contabilizava 34 corpos encontrados, mas, neste domingo, os bombeiros anunciaram que mais três foram contabilizados, havendo ainda pelo menos 300 desaparecidos.
As buscas para encontrar sobreviventes, que deveriam ter sido retomadas na manhã deste domingo, depois da interrupção no sábado à noite, foram suspensas após o alerta para o risco de rutura de outra barragem.
"Risco real"
"Esse risco é real, é por isso que as nossas equipas interromperam as buscas e estão direcionadas exclusivamente a retirarem a população que vive nas áreas que podem ser afetadas", disse aos jornalistas do chefe do corpo de bombeiros, Pedro Aihara, acrescentando que "assim que o alarme foi acionado, os bombeiros começaram a evacuar as aldeias mais próximas da barragem".
A empresa mineradora Vale, que também opera em Moçambique, afirmou em comunicado que tinha feito soar os alarmes depois de "ter detetado um aumento nos níveis de água na barragem VI, estrutura que é parte da mina de Córrego do Feijão, cuja barragem ruiu na sexta-feira. A empresa referiu que a barragem VI "não contém resíduos de minas", mas sim de três a quatro milhões de metros cúbicos de água.
O Presidente Jair Bolsonaro, que sobrevoou a área no sábado, afirmou hoje na sua conta na rede social "Twitter" que uma delegação do Exército israelita chegará ao local durante o dia de hoje para apoiar as autoridades locais, com 140 homens e 16 toneladas de equipamentos.
Um porta-voz dos bombeiros brasileiros disse que os israelitas iam trazer aparelhos equipados com sonares capazes de localizar corpos a grande profundidade, que serão usados a partir de segunda-feira.
Assistência às vítimas
Com o drama ainda não dimensionado, a Justiça bloqueou 6 mil milhões de reais (pouco mais de mil milhões de euros) das contas da Vale para assistência às vítimas e mitigação das consequências da catástrofe. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por sua vez, aplicou multa de RS$ 250 milhões pelo desastre, segundo confirmou o Ministério de Meio Ambiente.
A procuradora-geral da República do Brasil, Raquel Dodge, afirmou após visitar a região que o Ministério Público atuará firmemente para que os riscos sejam prevenidos e que esse tipo de tragédia não se repita.
Esta não é a primeira vez que o Estado de Minas Gerias regista uma rutura numa barragem; em 2015 uma rutura numa outra barragem, perto de Mariana, a 120 quilómetros de Brumadinho, matou 19 pessoas e causou um desastre ambiental sem precedentes no Brasil.
Centenas de quilómetros quadrados foram submersos por um tsunami de lama que atravessou dois Estados brasileiros e estendeu-se por 650 quilómetros até ao oceano Atlântico, cruzando o Rio Doce, um dos mais importantes do Brasil.
Moçambique: População lamenta fraco retorno da exploração mineira em Nampula
A Kenmare é uma das multinacionais que explora minérios no distrito de Larde, outrora Moma. Apesar da crise, a sua produção nunca parou. No entanto, a população queixa-se da falta de oportunidades e infraestruturas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mititicoma: um bairro de reassentamento
Com o início da sua atividade, a multinacional irlandesa Kenmare viu-se obrigada a reassentar milhares de famílias. Mititicoma é um dos populosos bairros de reassentamento, onde vivem mais de cinco dos cerca de 27 mil habitantes de toda a localidade de Topuito. Nos dias de hoje, cada casa destas pode custar dois milhões de meticais (cerca de 28 mil euros) mas, na altura, o preço foi inferior.
Foto: DW/S. Lutxeque
Negócios e melhoria de vida
Em Topuito, no distrito de Larde, emergem novas infraestruturas socioeconómicas. Muitos comerciantes que hoje vivem com pequenos "luxos", iniciaram a atividade com um pequeno financiamento da Kenmare que, na altura, não passava dos 200 mil meticais (cerca de 2900 euros) por cada pessoa.
Foto: DW/S. Lutxeque
À beira da falência
Amade Francisco, de 25 anos, é natural de Topuito, onde ainda vive. Encontrou no comércio uma forma de combater o desemprego. Mas, neste período de crise financeira do país, tem receio de ir à falência. "Iniciei o negócio em 2014, através de um empréstimo na Kenmare no valor de 120 mil meticais (cerca de 1745 euros). Já os reembolsei porque [antes] havia muita clientela, agora não".
Foto: DW/S. Lutxeque
Nativos excluídos
O desemprego está a afetar milhares de cidadãos de Topuito. As principais "vítimas", diz Saíde Ussene, são os jovens nativos e ele é um exemplo. Afirma que já tentou, mas sem sucesso, arranjar emprego na Kenmare, pois eles "preferem os cidadãos de Maputo aos nativos". "E nós onde vamos trabalhar se não temos dinheiro para subornar?", questiona o jovem moto-taxista.
Foto: DW/S. Lutxeque
Trocar a pesca pela agricultura
Ainda assim, continua a haver quem potencie o seu próprio emprego. Chiquinho Nampakhiriwa é um dos jovens que aguardava pela sorte de trabalhar na mineradora. Dedicava-se à pesca, mas decidiu trocar o anzol pela enxada e trabalhar na terra. Hoje fornece vegetais e legumes à Kenmare, apesar de ser em pouca quantidade. Também foi a empresa que o financiou incialmente.
Foto: DW/S. Lutxeque
Casamentos prematuros e pobreza
Fátima Ismael tem 17 anos e já é mãe. Vive no bairro de Nalokho, em Topuito e, devido à pobreza, viu-se forçada a ignorar os apelos do governo acerca dos casamentos prematuros. "Casei-me cedo porque não tinha condições [financeiras e materiais] de continuar a estudar. Mas estou feliz com o meu esposo", disse.
Foto: DW/S. Lutxeque
Falta de infraestruturas
Apesar da abundância de recursos minerais, Topuito continua, dez anos após o início da atividade deste tipo de empresas, com um rosto pacato e empobrecido. Existem muitos bairros, dentro da localidade, que têm falta de várias coisas, entre elas infraestruturas socioeconómicas. O bairro de Nalokho é exemplo disso.
Foto: DW/S. Lutxeque
Maus acessos
Entre as preocupações dos residentes do distrito de Larde está a degradação das vias de acesso e a falta da ponte sobre o rio Larde. As estradas que dão acesso à localidade de Topuito, como é visível na imagem, estão em más condições.
Foto: DW/S. Lutxeque
Kenmare minimiza problemas
Regina Macuacua é responsável da área social da Kenmare. Segundo esta responsável, a vida [da população] melhorou significativamente com a chegada da multinacional. "Hoje muitos residentes têm casas melhoradas, carros, há corrente elétrica. Continuamos a prover água e financiamos projetos", afirmou à DW, sem revelar os ganhos dos últimos dois anos.
Foto: DW/S. Lutxeque
Oscilação de preços no mercado
Sabe-se que a internacional irlandesa Kenmare, que explora e comercializa zircão, rutilo, ilmenite, entre outros produtos mineiros, conheceu alguns momentos de "pouca glória" com a oscilação dos preços no mercado internacional, desde 2009.