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Bubo Na Tchuto extraditado para os Estados Unidos

Helena Ferro de Gouveia5 de abril de 2013

Combate ao tráfico de droga na Guiné-Bissau tornou-se numa prioridade americana. A detenção do contra-almirante Na Tchuto causou apreensão nas chefias militares. O chefe da Força Aérea poderá ser o próximo na lista.

Foto: picture-alliance/dpa

A verdade por detrás da detenção do Ex-Chefe do Estado-Maior da Marinha guineense, o contra-almirante José Américo Bubo Na Tchuto, provavelmente nunca será conhecida. Há muito que o Departamento do Tesouro norte-americano o tinha na mira e esperava apenas pela melhor ocasião para deter o homem que considera ser uma figura central no tráfico de drogas na África Ocidental.

Esta terça-feira (2.04) numa operação envolvida em grande secretismo Na Tchuto foi detido por agentes do Departamento de Combate ao Narcotráfico norte-americano, DEA, (Drug Enforcement Agency) em águas internacionais, próximo da Zona Económica Exclusiva de Cabo Verde. A bordo do mesmo iate seguiam quatro homens de nacionalidade guineense. A operação só se tornou pública após os detidos terem sido extraditados para os Estados Unidos, num avião privado que saiu da ilha do Sal.

Esta detenção inédita – apesar dos inúmeros alertas das Nações Unidas e outras organizações nacionais e internacionais para o aumento do tráfico de estupefacientes na Guiné-Bissau e o envolvimento neste de políticos e militares, nunca nenhuma figura poderosa havia sido responsabilizada – causou inquietação nos meios militares guineenses. Recorde-se que o Departamento do Tesouro norte-americano  considera que Ibraima Papa Camará, chefe de Estado-Maior da Força Aérea, está envolvido diretamente no tráfico de droga estando ligado ao descarregamento de droga de um avião venezuelano em Julho de 2008.

Militares e políticos beneficiam com o tráfico de droga na GuinéFoto: picture-alliance/dpa

A aterragem no aeroporto Osvaldo Vieira desta aeronave que transportava uma "quantidade considerável de droga", foi investigada pela Polícia Judiciária guineense mas a intervenção das Forças Armadas acabaria por obstruir o processo de apuramento de responsabilidades.

Já em 2008 a Liga Guineense dos Direitos Humanos denunciava a intimidação e as ameaças de morte, "pelas suas posições contra o tráfico de droga", feitas à directora da Polícia Judiciária, Lucinda Barbosa, à ministra da Justiça Carmelita Pires e ao Procurador-Geral Luís Manuel Cabral.

Na Tchuto e Indjai, destinos cruzados

Antonio Indjai irritado com operação norte-americana de combate ao narco-tráficoFoto: DW

O contra-almirante Na Tchuto era considerado um dos militares mais influente da Guiné-Bissau. De 2003 a 2008, chefiou a Armada e protagonizou vários golpes e movimentações militares, entre eles a tentativa fracassada de golpe de Estado de 6 de Agosto de 2008, que motivou a sua fuga para a Gambi. Já em território guineense e refugiado no edifício da ONU em Bissau, Bubo Na Tchuto seria o cabecilha de um golpe, apoiado por António Indjai, no qual o então chefe de Governo, Carlos Gomes Júnior e o na altura chefe das Forças Armadas, comandante Zamora Induta foram detidos. Induta seria deposto e substituido por Indjai, o homem que muitos na Guiné terão visto comandar as tropas que entraram na residência do presidente assassinado João Bernardo "Nino" Vieira.

O almirante Zamora Induta nunca regressou ao cargo e após um longo período de detenção em condições desumanas acabaria por abandonar a Guiné-Bissau.

Segundo fontes guineenses ouvidas pela DW ÁFRICA também o homem que detém o real poder na Guiné-Bissau, o chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, general António Indjai está apreensivo com a intervenção norte americana, embore recuse, tal como Bubo Na Tchuto qualquer envolvimento no tráfico de drogas.

Todo o Estado nas mãos dos barões da droga

Bubo Na Tchuto extraditado para os Estados Unidos

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Embora o diagnóstico não seja novo o semanário alemão Der Spiegel veio confirmá-lo. "Homens mascarados" foi o título escolhido pelo Der Spiegel para uma extensa e duríssima reportagem dedicada à Guiné-Bissau. Ao longo de seis páginas descrevem-se os bastidores do tráfico de cocaína neste país da África Ocidental. "O escritório das Nações Unidas para o combate ao tráfico de droga, UNODC, vê na Guiné-Bissau o único exemplo a nível mundial de um narcoestado. No Afeganistão e na Colômbia, há províncias inteiras nas mãos dos barões da droga. Aqui é todo o Estado."

A Polícia Judiciária não dispõe de meios para combater o tráfico uma vez que quem de facto governa o país são os militares. "O homem de uniforme personifica o poder, não o direito. O general António Indjai é quem manda na Guiné desde o assassinato de Nino Vieira", escreve o Der Spiegel. "Os militares estão convencidos que o país é apenas uma plataforma giratória para o tráfico de droga. Mas começa a desenvolver-se entre a elite guineense um mercado para o consumo de cocaína. Está-se a desenvolver uma geração de toxicodependentes. Os filhos dos generais".

Indjai nega que esteja em preparação novo golpe e ameaça comunidade internacional

A moir fonte de instabilidade na Guiné-Bissau são os seus militaresFoto: DW

Do quotidiano guineense fazem parte constantes rumores quanto a diferentes cenários de instabilidade, rumores que na maioria dos casos são vistos como isso mesmo: boatos. Porém a virulência na reacção aos mais recentes rumores é interpretada pelos analistas como sintoma do nervosismo militar. Numa conferência de imprensa esta quinta-feira (4.04) António Indjai sublinhou que o o país está calmo e que "não há nada de anormal nos quartéis", e acusou o cônsul honorário holandês, Jan Van Manen, de espalhar boatos sobre instabilidade.

Na mesma ocasião lançou uma ameaça nada velada, "quero avisar a comunidade internacional, sobretudo José Ramos-Horta, que está cá a ver o que se passa, que chame a atenção daqueles que estão a criar esta confusão, porque se um dia atuar contra essas pessoas, que não me venham criticar", afirmou o general.

Quanto a detenção de Bubo Na Tchuto apenas uma reacção em Bissau: "desconhecemos os pormenores da sua prisão", disse Fernando Vaz , porta-voz do Governo de transição, "mas prestar-lhe-emos apoio como a qualquer cidadão guineense".

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