Sahel: Merkel promete apoio na luta contra o terrorismo
Maria João Pinto | com agências
2 de maio de 2019
No Burkina Faso, no primeiro de três dias de visita à África Ocidental, a chanceler alemã mostrou-se preocupada com a segurança na região e afimou que os problemas do G5 não são exclusivos do grupo.
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A chanceler alemã, Angela Merkel, visita, esta quinta-feira (02.06), o Mali, onde tem encontro marcado com cerca de 850 soldados alemães integrados na missão de paz das Nações Unidas e numa missão de treino da União Europeia. Angela Merkel iniciou esta quarta-feira (01.05) uma visita de três dias ao Sahel onde pretende, entre outros, reforçar o apoio à luta contra o terrorismo.
No Burkina Faso, onde esteve na quarta-feira (01.05), a chefe do Governo alemão anunciou uma ajuda ao país de mais de 20 milhões de euros para projetos de desenvolvimento e reforço das forças de defesa. "Vamos ajudar a reforçar as capacidades da polícia e do Exército, com uma iniciativa de equipamento e contribuímos com 10 milhões de euros. Vamos também oferecer apoio do Exército alemão na ordem dos sete a 10 milhões", anunciou a chanceler, acrescentando que esta é uma ajuda "urgente", uma vez que "no leste e no norte há crianças que não podem ir à escola por causa da insegurança".
Na mesma ocasião, a chanceler alemã anunciou ainda a disponibilização de "mais 5,5 milhões de euros para lidar com os efeitos das alterações climáticas".
Angela Merkel chegou ao Burkina Faso apenas três dias depois de um ataque a uma igreja protestante na região norte, com seis vítimas mortais - o mais recente de uma série de ataques que, desde 2015, já fizeram mais de 360 mortos no país. Nesse mesmo ano, o G5 Sahel - composto pelo Burkina Faso, Níger, Chade, Mali e Mauritânia - decidiu criar uma força militar conjunta de combate ao terrorismo. No entanto, o desenvolvimento da força está a progredir muito lentamente, apesar das promessas de ajuda financeira da comunidade internacional.
Esta quarta-feira (01.05), os chefes de Estado do G5 Sahel estiveram reunidos em Ouagadougou com a chanceler alemã.
Papel da Europa
Na ocasião, Merkel garantiu que Berlim está a transferir os 60 milhões de euros prometidos para apoiar a região nesta luta pela estabilidade e frisou que os problemas do G5 não são exclusivos do grupo: "os terroristas são rápidos, por isso temos de ser mais rápidos para os derrotarmos. Não é uma responsabilidade apenas destes cinco países, também diz respeito à Europa, porque se reinar o caos - e temos que evitar isto a todo o custo - isso terá um impacto também noutras áreas", explicou.
Também o Presidente do Burkina Faso, Marc Christian Kaboré, chamou a Europa a agir, no final desta reunião. Falando na situação da Líbia, o chefe de Estado pediu uma posição conjunta europeia e uma solução definitiva para bloquear o fornecimento de recursos aos grupos terroristas. Kaboré acusou os países ocidentais de não ouvirem o continente africano.
Sahel: Angela Merkel promete apoio na luta contra o terrorismo
Na mesma ocasião, Marc Christian Kaboré explicou que a ajuda financeira anunciada pela Alemanha "deverá permitir melhorar as questões de segurança no norte e leste e conduzir ações que ajudarão a reforçar a resiliência das populações nestas zonas". Segundo o Presidente do Burkina Faso, o país tem de "reforçar a formação das forças de defesa e cumprir em matéria de direitos humanos".
Nos últimos anos, a Alemanha e a União Europeia têm vindo a demonstrar um interesse cada vez maior em África, insistindo na necessidade de melhorar a situação de segurança e da economia - nomeadamente, na região do Sahel. A pobreza, a instabilidade política e a violência levam milhões de pessoas a abandonar as suas casas na região e são as principais causas da emigração para a Europa.
Angela Merkel está, por isso, empenhada em estimular o investimento privado no Sahel, com o apoio do Governo alemão, com vista à criação de empregos e à redução da pobreza.
Soluções sustentáveis
Ouvido pela DW, Thomas Schiller, diretor do programa regional do Sahel da Fundação alemã Konrad-Adenauer, afirma que é preciso pensar em soluções sustentáveis.
"Há anos que a Alemanha está empenhada na região, não só a nível militar, mas com recursos consideráveis e pessoal. E tenho a certeza que esta viagem vai também servir para reforçar e consolidar o compromisso alemão, porque é claro que abordagens de curto prazo não vão ajudar, é preciso encontrar soluções de médio e longo prazo", disse.
A viagem de Angela Merkel termina na sexta-feira (03.05), no Níger, país que deverá receber 35 milhões de euros em ajuda adicional de Berlim. Estão previstas reuniões com as autoridades nigerinas, mas também com representantes da sociedade civil.
Uma relação especial: a Alemanha Oriental e África
A República Democrática Alemã manteve relações estreitas com os países africanos de orientação socialista. Entre eles estavam Angola, Etiópia, Moçambique e Tanzânia. A cooperação terminou com a reunificação em 1990.
Foto: Ismael Miquidade
Formação de profissionais africanos
A República Democrática Alemã (RDA), extinta após a reunificação da Alemanha a 3 de Outubro de 1990, formou muitos trabalhadores vindos de países africanos socialistas. Estes angolanos participam num curso em Dresden, em 1983, no Instituto para Segurança no Trabalho. Angola estava em guerra nessa altura. O chamado "Bloco de Leste" apoiava o Governo marxista-leninista do MPLA.
Foto: Bundesarchiv/183-1983-0516-022 /U. Häßler
Ajuda ao desenvolvimento para aliados políticos
Depois do fim do colonianismo português em África, em 1975, a Alemanha Oriental (RDA) apoiou os partidos socialistas que foram conquistando o poder. A ideia era fazer desses novos Estados africanos aliados e parceiros económicos do Bloco de Leste. Aqui, o angolano Eduardo Trindade recebe formação de mecânico de máquinas agrícolas (1979).
Foto: Bundesarchiv/183-U0213-0014/P. Liebers
Formação para jornalistas africanos
Não havia só formação para profissões técnicas. A Alemanha Oriental também formava jornalistas africanos. Centenas de jornalistas, de quase todos os países de África, passaram pela Escola de Solidariedade da Associação de Jornalistas da RDA, em Berlim-Friedrichshagen. Na foto: jovens jornalistas de Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe durante o curso em dezembro de 1976.
Foto: Bundesarchiv/183-R1210-302
Cooperação no desporto
Esta foto foi tirada em setembro de 1989, em Leipzig, numa aula de atletismo da Escola Superior Alemã para Educação Física (DHfK), com treinadores de Angola, Nicarágua e Moçambique. Em Leipzig, a partir de 4 de setembro, os cidadãos começaram a exigir todas as segundas-feiras mais liberdade na RDA - primeiro eram centenas, depois dezenas de milhares. A 9 de novembro de 1989 caiu o Muro de Berlim.
Foto: Bundesarchiv/183-1989-0929-019/ W. Kluge
Estudantes nas universidades da RDA
Moisés José da Costa, de Angola, fez parte de um grupo de estudantes de 34 países que frequentou a Escola Superior Técnica de Karl-Marx-Stadt em 1986. A cidade passou a chamar-se Chemnitz em 1990. Muitas ruas da Alemanha Oriental, com nomes de políticos marxistas, também foram renomeadas. Hoje, muitos estrangeiros que viveram na RDA têm dificuldade em encontrar endereços antigos.
Foto: Bundesarchiv/183-1986-1112-002/W. Thieme
"Escola da Amizade"
1983: O Presidente de Moçambique, Samora Machel (dir.), e Margot Honecker, ministra da Educação da RDA (esq.), encontram-se com a direção da "Escola de Amizade", na localidade de Staßfurt. Em 1979, ambos os países decidiram que 899 crianças moçambicanas frequentariam essa escola na Alemanha Oriental durante quatro anos. Algumas dessas crianças tinham apenas 12 anos de idade.
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-1983-0303-423/H. Link
Escola "Dr. Agostinho Neto"
Em outubro de 1981, durante uma visita do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, à Alemanha, a 26ª Escola de ensino médio da RDA "Berlim-Pankow" recebeu o nome do seu antecessor. Passou a chamar-se Escola "Dr. Agostinho Neto". Jovens da Alemanha Oriental receberam o Presidente angolano com cartazes propagandísticos, como: "Apoiando a União Soviética pela paz e socialismo."
O Presidente angolano José Eduardo dos Santos (o quinto, a partir da esq.) visitou o Muro de Berlim na Porta de Brandemburgo. O muro começou a ser construído em 1961 para impedir que a população da RDA fugisse para Berlim Ocidental, onde se tinha livre-trânsito para o Ocidente. Oficialmente, o muro era chamado de "Muralha Antifascista". Cerca de 200 pessoas morreram ao tentar fugir.
Foto: Bundesarchiv
Congresso do SED com convidados africanos
O Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED) gostava de exibir os seus convidados estrangeiros. No 10° Congresso do partido, em 1981, recebeu Ambrósio Lukoki, do MPLA (atrás, à direita), e Berhanu Bayeh (atrás, o segundo à esq.), que mais tarde se tornou chefe da diplomacia da ditadura marxista-leninista etíope do Derg, período em que milhares de pessoas foram mortas.
Foto: Bundesarchiv/183-Z0041-138/M. Siebahn
Visitas a congressos partidários africanos
O contrário também era comum. Konrad Naumann (na segunda fila, à dir.), membro do SED, participou do 3° Congresso do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) em Bissau, em novembro de 1977. O evento foi realizado sob o lema "Independência, Unidade e Desenvolvimento".
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-S1118-026/Glaunsinger
Acampamentos de verão para crianças e adolescentes
Também durante o período de férias, a RDA tentava educar as crianças de acordo com os ideais comunistas. E convidavam-nas para acampamentos de verão. Aqui também vinham convidados estrangeiros. Na foto, dois membros da organização juvenil da Alemanha Oriental "Pioneiros" explicam a uma criança da República Popular do Congo uma matéria do jornal "Die Trommel".
Foto: Bundesarchiv/183-T0803-0302
Fim-de-semana em casa de família alemã
As crianças estrangeiras que, em 1982, participaram no acampamento dos "Pioneiros" também passaram um fim-de-semana com famílias alemãs para conhecer o dia-a-dia na Alemanha Oriental. Elas foram de comboio até à cidade de Schwedt, na fronteira com a Polónia. Sandra Maria Bernardo, de Angola, foi recebida pela sua "mãe-anfitriã" Ingeborg Scholz e a filha Petra.
Foto: Bundesarchiv/183-1982-0731-010 /K. Franke
Solidariedade militar
1973: Combatentes do MPLA marcham durante o Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, que teve lugar no estádio da Juventude Mundial, no leste de Berlim. A RDA solidarizou-se com a luta do MPLA contra o poder colonial português. Os outros dois movimentos de libertação de Angola, a UNITA e a FNLA, foram apoiados pela África do Sul e EUA.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-M0814-0734/F. Gahlbeck
Hora do adeus
Depois de formados na RDA, namibianos despedem-se no aeroporto Berlim-Schönefeld. De 1981 a 1984, eles estiveram a receber formação na Alemanha Oriental. No entanto, não puderam regressar às suas casas porque a Namíbia só se tornou independente da África do Sul em 1990. Por isso, voaram para Angola, para trabalhar como técnicos de silvicultura, canalizadores ou mecânicos de automóveis.
Foto: Bundesarchiv/183-1984-0815-031/A. Kämper
A ajuda chega de avião
Na foto, uma aeronave da companhia aérea Interflug, pertencente à extinta RDA, no aeroporto de Luanda. A bordo: material escolar para crianças angolanas. Em 1978, além de Angola, o Comité de Solidariedade da Alemanha Oriental enviou donativos à Etiópia, Moçambique, Vietname, República Popular do Iémen e às organizações de libertação do Zimbabwe (ZANU), da Namíbia (SWAPO) e da África do Sul.
Foto: Bundesarchiv/183-T0517-0022/R. Mittelstädt
Tratores para aliados socialistas
Doação de máquinas agrícolas da fábrica de tratores Schönebeck (da RDA) para a Etiópia. Os tratores do tipo "ZT 300-C" eram comuns na Alemanha Oriental e foram exportados para 26 países. Incluindo Angola e Moçambique. (1979)
Foto: Bundesarchiv/183-U1110-0001/Schulz
Máquinas têxteis da RDA para a Etiópia
Fábrica têxtil na cidade de Kombolcha, na província etíope de Amhara (foto de novembro de 2005). Esta fábrica processa algodão para fazer lençóis e toalhas. Foi construída em 1984 com o apoio da RDA e da hoje extinta Checoslováquia. Quase todas as máquinas foram produzidas pelo consórcio TEXTIMA, na antiga cidade de Karl-Marx-Stadt, hoje Chemnitz.
Foto: picture-alliance/dpa
Construções pré-fabricadas da RDA em Zanzibar
Ainda hoje, é possível ver prédios, construídos a partir de elementos pré-fabricados, em Zanzibar, com os quais a Alemanha Oriental apoiou a Tanzânia socialista criada em 1964 sob o Presidente Julius Nyerere. Os materiais chegaram de navio e tiveram apenas de ser montados. "Michenzani" é o nome do projeto com mais de 1,5 km de comprimento.
Foto: cc-by-sa/Sigrun Lingel
RDA - Nostalgia em Maputo
Cerca de 15 mil moçambicanos trabalharam na Alemanha Oriental no final dos anos 80. A maioria voltou ao seu país de origem após a reunificação da Alemanha, a 3 de Outubro de 1990. Em casa, são chamados de "Madgermanes", uma palavra derivada de "Made in Germany". Até aos dias de hoje, eles reúnem-se com frequência no Jardim 28 de Maio, em Maputo, para reivindicar os seus direitos.